Por Rosiene Carvalho , da Redação
Os 2,3 milhões de eleitores aptos a votar nesta Eleição Suplementar de 2017 para governador do Amazonas têm nas urnas neste domingo, dia 6, a missão de escolher o “novo” governador do Estado entre nove candidatos cuja trajetória política da maioria mantém elo com o grupo origem que ininterruptamente comanda o Estado há oito mandatos nos últimos 34 anos.
O ponto de partida da forma de administrar o Estado com alto número de cargos comissionados na capital, de prefeituras do interior dependentes de repasses estaduais e de construir alianças políticas desfeitas nos pleitos seguintes é o primeiro mandato do ex-governador Gilberto Mestrinho, em 1983. Mestrinho foi o primeiro governador do Amazonas eleito por voto direto no momento de abertura política do Brasil.
Mestrinho profetizou que seu grupo político permaneceria no comando do Estado por duas décadas. O projeto político virou feitiço e foi além. Quebrá-lo não parece simples diante da descrença do eleitorado e da crise política do sistema de representatividade que atinge todo País, segundo cientistas sociais e analistas políticos ouvidos pelo BNC.
Para os sociólogos Wilson Nogueira e Marcelo Seráfico, a crise no sistema de representação política e um jogo antidemocrático que impede a participação de novas lideranças e renovação administrativa são as principais causas de desânimo do eleitorado, que aponta para um alto grau de abstenção e de votos brancos e nulos neste domingo, como indicam as pesquisas eleitorais divulgadas neste pleito.
Governadores do Amazonas por voto direto após período de abertura política:
1983 - Gilberto Mestrinho
1987 - Amazonino Mendes
1990 - Vivaldo Frota
1991 - Gilberto Mestrinho
1995 a 1999 - Amazonino Mendes
1999 a 2003 - Amazonino Mendes
2003 a 2007 - Eduardo Braga
2007 a 2010 - Eduardo Braga
2010 a 2011 - Omar Aziz
2011 a 2014 - Omar Aziz
2014 a 2015 - José Melo
2015 a 2017 - José Melo
2017 – ?
Dos nove candidatos deste pleito, Amazonino foi governador do Estado por três vezes na linha sucessória de Gilberto Mestrinho e deu crias. Graças a seu apoio no comando da máquina do Estado em 2002, Eduardo Braga conseguiu chegar ao cargo de governador pela primeira vez e se reelegeu.
Braga criou sua primeira imagem de administrador ao herdar a Prefeitura de Manaus de Amazonino Mendes que, em 1994, deixou o cargo para disputar o Governo do Estado. Nas eleições seguintes, foi preterido do apoio do “pai político” que preferiu Alfredo Nascimento (PR), que neste pleito está na chapa de Braga.
Na sequência, o governo foi ocupado por nomes ligados a Amazonino, indicados por Braga para as chapas em disputa na sucessão dele em 2010. José Melo (Pros), por exemplo, chegou a chamar Amazonino de “pai político” na disputa de 2014. Omar Aziz (PSD), cujo principal cabo eleitoral em 2010 foi Eduardo Braga que deixava o governo com alta aprovação, foi o arquiteto da candidatura de Melo em 2014 e de Amazonino em 2017.
A candidata Rebecca Garcia (PP), apresentada pelo seu principal apoiador neste pleito o governador interino e deputado estadual David Almeida, como a “renovação” na política não estudou em cartilha diferente. Nem ela e nem o deputado/governador. Seu mentor político e pai Francisco Garcia é um braço da velha política dos governos Mestrinho e Amazonino.
Rebecca também foi candidata a vice de Eduardo Braga em 2014. Se uniu a ele após sofrer uma ação constrangedora de ter sua candidatura impedida na eleição de 2012 por Braga e romper relações com o senador por dois anos.
David Almeida foi motorista de Braga, de secretárias dele até chegar ao primeiro mandato, foi líder do Governo Melo e eleito com o apoio do governador cassado por compra de votos para presidente da ALEAM, cargo que o elevou à condição de governador interino.
O candidato e deputado estadual José Ricardo (PT), embora tenha mantido postura de oposição ao Governo Braga, escolheu para vice na sua chapa neste pleito o líder do Governo Eduardo e Governo Omar na ALEAM, Sinésio Campos (PT).
O candidato Luiz Castro (PPS) foi secretário de Estado de Produção Rural (Sepror) do Governo Braga e, quase 15 anos depois, afirma nesta campanha que deixou o Governo por não concordar com as práticas do ex-aliado. Quem trabalhou com Luiz na Sepror lembra muito bem a constrangedora exoneração imposta pelo então governador conhecido por suas enérgicas cobranças por resultados alinhados às suas visões de administração.
Luiz Castro, cujo o slogan há duas campanhas é “neste pulso ninguém segura”, quando prefeito de Envira, era contado nas fileiras das lideranças do interior da base de Amazonino Mendes.
O candidato Marcelo Serafim (PSB), em todos os confrontos com Braga e seu vice Marcelo Ramos (PR), teve que ouvir que seu pai, o deputado Serafim Corrêa (PSB), foi vice de Braga na Eleição de 1998 quando ambos foram derrotados com o peso da máquina.
O candidato e presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM) Wilker Barreto (PHS) tem como líder político o prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB). Apresenta-se como independente, mas evitou críticas a Amazonino Mendes, apoiado pelo tucano. No último debate na TV Amazonas, foi chamado por Luiz Castro de “laranja”.
O líder de Wilker, Arthur Neto anunciou seu apoio como grande novidade na sua trajetória política, ignorando que em 2012 contou com o apoio dele na eleição e que em 1998 a vitória de Amazonino ao Governo teve apoio de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Naquele pleito, Amazonino se elegeu governador e Arthur deputado federal.
Até o candidato Jardel, o cabeleireiro que se lançou e é estreante na disputa ao Executivo Estadual, dias antes de apresentar seu nome ao TRE-AM, esteve na casa de Amazonino engrossando o coro da claque que aprovava o retorno do ex-governador à eleição.