Por Neuton Corrêa e Rosiene Carvalho , da redação
Depois de cinco meses de reclusão, o vice-governador cassado Henrique Oliveira (SD), em entrevista exclusiva ao BNC, aponta “culpados” para a instabilidade do Amazonas e da injustiça que diz ter sofrido. Nesse contexto, o senador e candidato Eduardo Braga (PMDB), o ex-governador cassado José Melo (Pros), ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e até os advogados de defesa viram alvos.
“A Rosa Weber disse que precisava de um prazo para chamar as eleições, mas agora já haviam gasto dinheiro e não podiam dar o nosso direito. Eu me sinto injustiçado. Torço para que ninguém passe por isso… Que todo político, mesmo estando totalmente errado, tenha direito a recorrer. Porque há políticos envolvidos, inclusive aí, com Lava Jato [operação], que precisam deste trânsito em julgado. O país precisa dessa segurança jurídica”, afirmou em um trecho da entrevista.
Henrique afirma ser inocente de qualquer acusação de compra de votos e diz que vai lutar na Justiça pelo direito de ser candidato em 2018, apontando predileção pelo cargo de deputado estadual.
O vice-governador cassado reclama que Braga, a quem chama de algoz, tirou dele o mandato e o partido. E direciona para o senador suas mais duras palavras. Apesar disso, afirma que não tem lado nesta eleição suplementar e que, assim como se absteve no primeiro turno, deve se ausentar das urnas no segundo turno por não ser “masoquista”.
Henrique reclamou de ter sido figura “decorativa” no governo Melo. Segundo Henrique, Melo pode não ter tido espaço para prestigiá-lo em função da manutenção dos secretários herdados do governo Omar Aziz (PSD).
“O governo Melo foi um governo de continuidade. Se você for ver, praticamente nenhum secretário trocado no primeiro ano de governo. Secretários que já eram do Omar. Então, assim, talvez ele não tivesse espaço e mobilidade para me ajudar”, disse.
O político diz que Melo não o recebe sequer para tratar dos recursos contra a decisão “injusta” que os tirou do poder.
No discurso, poupa o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM) e governador interino David Almeida (PSD) e chega a fazer elogios à sua gestão, que, nos mais recentes atos públicos, ignora atos da administração José Melo e apresenta dados positivos buscando louros para os três meses que comanda o estado.
Ora revoltado, ora com brincadeira e em alguns momentos emocionado, chegando inclusive a chorar ao fim da entrevista, Henrique disse que ainda tem esperança de que uma decisão judicial resolva a injustiça imposta a ele e Melo no processo de cassação.
Henrique critica também o sistema eleitoral e jurídico. A começar por preços caros cobrados pelos advogados para atuar nesse tipo de ação: “É mais ou menos como um advogado que defende um traficante. O traficante vai pagá-lo com que dinheiro? Dinheiro vindo do tráfico”, disse.
Veja o vídeo da entrevista, com todos os detalhes da conversa com o vice-governador cassado, que foi mostrada ao vivo pelo Facebook e site BNC nesta quinta, dia 10.
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Confira o texto da entrevista exclusiva
Neuton Corrêa: Vamos começar a entrevista com o vice-governador cassado Henrique Oliveira.
Henrique Oliveira: Acho que eu podia ser apresentado de outra forma né, Neuton? Vice-governador cassado (risos)… Mas é cassado com “ç” ou dois “s”? Podia ser ex-vice-governador.
Rosiene Carvalho: O senhor se sente como? Cassado, injustiçado …?
Henrique: Eu sou cassado desde que eu me entendo…
Neuton: Essa condição lhe incomoda?
Henrique: Me incomoda porque, na verdade, eu sou caçado com ç de caça, desde que tive uma eleição estrondosa com 36 mil votos para vereador como o mais votado do País, proporcionalmente. E fui cassado com um ano e pouco de mandato por ser funcionário da Justiça Eleitoral. Depois, me elegi deputado federal com 100 mil votos. Enfrentei perseguições de novo. E agora a perseguição não foi exatamente a mim, mas me envolveu.
Rosiene: O senhor enfrentou três cassações ao longo da sua vida política.
Henrique : Por isso que eu digo que foi com ç, perseguições. Me incomoda porque eu vivo da política. Faço política para os amazonenses e tenho uma família por trás disso que depende da política. Se você disser assim: Henrique como estão seus dias hoje? Eu dependia do meu salário e hoje estou desempregado.
Rosiene: Como o senhor se sustenta nestes cinco meses após a cassação?
Henrique: Tive uma rescisão de pouco mais de R$ 30 mil dos valores que eu tinha direito como vice-governador por três anos. E tenho um programa diário na televisão de onde eu consigo arrecadar alguma coisa para poder me sustentar. E vivo na esperança – e não estou aqui choramingando ou chorando porque sou forte suficiente para sair na rua, capinar um terreno ou fazer uma assessoria de jornalismo e puder sustentar meus seis filhos. Me incomoda porque sei que é fruto de uma injustiça muito grande.
Rosiene: Onde está essa injustiça no processo, em que constam acusações bem graves e que recebeu condenação em dois tribunais, portanto, um caso julgado por vários julgadores, por compra de votos. A injustiça está no processo ou no fato de o senhor integrar a chapa no momento em que os atos ilícitos ocorreram?
Henrique: As duas coisas…
Neuton: Aliás, neste processo, foi executada a decisão sem a publicação e sem transitar o caso em julgado. Depois tem uma decisão em que retorna a condição de vocês ao Governo e, em menos de 24, muda de novo. Como você analisa essa situação?
Henrique: Esses últimos momentos da injustiça chegou a 40 graus de febre. Essa ficção jurídica na verdade tomou conta do nosso processo. Mas quando eu falo, Rosiene, é que o sistema político brasileiro tem essas discrepâncias.
Quem nasceu primeiro, o eleitor corrupto ou o político corrupto? E os nossos algozes? Quem provocou isso: nunca fez nada disso? Como você consegue controlar uma eleição no Estado do Amazonas?
Agora, numa noite, onde foi forjada toda uma situação, uma pessoa com R$ 7 mil no bolso, uma operação da Polícia Federal que, a gente sabe, foi tudo uma armação do candidato que perdeu as eleições. Nair Blair, tão cantada e decantada, foi inocentada no processo dela. O processo dela foi arquivado por falta de provas. Nós perdemos o nosso mandato por falta de provas. Por causa de uma matéria que foi feita e editada – vocês são jornalistas, sabem disso, nunca se usaram deste método, mas sabem disso – foi uma matéria jornalística veiculada que mostrou o governador José Melo, que o irmão do governador junto com uma Nair Blair e tal fizeram e aconteceram… Quando eu era deputado federal na época e de oposição a este grupo.
Rosiene: Alega que não participou de ato irregular?
Henrique: Não estava no grupo. Quer dizer, quando acontece isso (veiculação da matéria em emissora nacional) o Brasil fica todo de queixo caído, os ministros é óbvio, os mais midiáticos, ficaram ao lado de quem queria nos ver apeados do poder. Não estou defendendo o governador José Melo, não. Estou colocando a minha injustiça. Lewandowski disse que tínhamos direitos aos embargos. A Rosa Weber disse que precisava de um prazo para chamar as eleições, mas agora já haviam gasto dinheiro e não podiam dar o nosso direito. Eu me sinto injustiçado.
Torço para que ninguém passe por isso… Que todo político, mesmo estando totalmente errado, tenha direito a recorrer.
Porque tem políticos envolvidos, inclusive aí, com Lava-Jato, que precisam deste trânsito em julgado. O País precisa desta segurança jurídica
Neuton: Como foram aqueles momentos do julgamento no dia 4 de maio?
Henrique: A gente fazia leituras de quem estaria mais propenso a votar com a gente.
A primeira surpresa foi o próprio ministro Napoleão que pensávamos que seria contrário a gente. Mas ele fez um voto que foi facilmente derrubado.
Veio a Luciana Lóssio, falou em injustiça e votou com a gente.
Depois veio o voto do Admar (Gonzaga Neto), que sofreu pressões enormes do presidente Temer para votar contra a gente, a pedido do Eduardo Braga que seria a pessoa beneficiada com tudo isso.
Neuton: O senhor faz acusações sérias. O senhor tem provas?
Henrique: Eu me responsabilizo pelas minhas palavras, sou cidadão. Tenho fé pública. Eu quero dizer e desabafar o que aconteceu naquele dia. A verdade é que o ministro Admar votou contra e ele, na verdade, tinha a intenção de pedir vistas naquele momento.
Votou contra. Preferiu levantar e ir ao banheiro para, sei lá, lavar as mãos. E deixou o ministro Barroso votando, o que implantou o voto divergente.
Aí os outros ministros acompanharam aquele voto. Eu não posso ser irresponsável. Porque o direito é subliminar demais. Ali tinha momentos e movimentos para que qualquer um dos seis ministros pudessem ir a favor ou contra.
Esse processo começou errado desde aqui debaixo.
Juiz natural que foi escolhido de forma errada. Depois, é um processo que falta provas até da Polícia Federal que não fez oitivas. O TRE-AM não ouviu quem estava sendo acusado de ter sido comprado. Se não tem o comprado, não existe o comprador.
Rosiene: Nessa questão do juiz natural, a sua defesa não alegou isso no momento que deveria, segundo o TRE-AM e o TSE.
Henrique: No TSE nós pedimos. No TRE-AM não fizemos essa movimentação.
Rosiene: O senhor chegou a mudar de advogado quando o processo foi para Brasília? Houve, na sua opinião, algum erro na estratégia de defesa?
Henrique: O que houve, com muita clareza e eu não devo nada a ninguém, durante o processo de rompimento entre o Melo e o Arthur Neto, aí todo mundo sabe que o advogado por mais isento que ele seja e um excelente profissional, que é o doutor Yuri (Dantas Barroso).
O doutor Yuri era totalmente ligado ao Arthur Virgílio e, consequentemente, talvez tenha recebido ordens para que não defendesse de forma veemente a nossa candidatura.
Eu deixei totalmente a cargo do governador José Melo. Sabe por que, Rosiene?
Rosiene: Por quê?
Henrique: Confidenciando para você, o professor José Melo tem 30 anos de vida pública, 72 anos de idade, larga experiência, a caneta na mão. Como é que eu, Henrique Oliveira, um ex-vereador, um ex-deputado federal, naquele momento, totalmente acanhado, sem espaço …
Nunca tive uma secretaria, eu desafio qualquer pessoa neste momento a dizer: Henrique, você teve uma secretaria, você teve oportunidades. Não tive. Mas eu também não reclamo porque eu sabia dessa minha posição dentro do Governo José Melo.
Sabia que tinha sido escolhido como vice-governador para substituí-lo em eventos. Quando eu descobri que eu não tive a minha defesa corretamente feita, foi quando eu praticamente me mudei para Brasília, fiquei lá dez semanas junto com advogados, com amigos. Contratando essas pessoas no sucesso porque nem dinheiro eu tinha.
Rosiene: Como é “no sucesso”?
Henrique: O advogado pega a sua causa e, se o processo for aprovado a contento do cliente, você paga os honorários.
Rosiene: O senhor conseguiu um bom advogado em Brasília. O ex-ministro Eduardo Cardozo que defendeu a presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment. Imagino que não deva ser barato.
Henrique: Aí que eu coloco a mão de Deus neste aspecto. Meu filho fez Direito em Brasília no Ceub quando eu era deputado federal e conheceu o Renato, um advogado da mesma idade dele. E esse garoto se colocou à disposição. Quando eu descobri que ele estava na causa da Dilma e o José Eduardo Cardozo, quando soube do meu caso, estava de quarentena. Esse seria um mote forte para ele defender porque envolvia o caso de um governador cassado.
Rosiene: No dia da decisão do ministro Lewandowski, o senhor e o governador José Melo se prepararam para assumir o Governo de novo?
Henrique: Olha eu recebi essa notícia às 10h da noite. Fui a casa dele (José Melo) no outro dia, aí começou aquele zum zum zum de que tinha alguma coisa que poderia mudar (…) Então, eu mantive a cautela. Fiquei totalmente esperançoso mas ao mesmo tempo preocupado de que alguma coisa que essas ações, essas movimentações que eu te falo… O Ministério Público é importantíssimo no ordenamento mas faz acusação e aí você já tem que contratar um advogado. Esse advogado que é contratado pra te defender ele vai te cobrar R$ 300 mil, R$ 700 mil. Esse dinheiro vem da onde?
Como é que você vai pagar um advogado se você vive com um salário de vice-governador, meu salário de vice-governador é R$ 11 mil. É mais ou menos como um advogado que defende um traficante. O traficante vai pagá-lo com que dinheiro? Dinheiro vindo do tráfico.
Tem alguns advogados que ficam com a boca aberta esperando essas manifestações do Ministério Público exatamente para poder ganhar o seu pão.
Rosiene: O senhor tem ideia de quanto foi gasto na defesa desses processos?
Henrique: Não tenho a menor ideia.
Rosiene: O senhor nunca teve acesso a essa informação?
Henrique: Nunca tive acesso aos advogados. Todos foram contratados numa estratégia do Yuri e do governador José Melo. Eu sinceramente acredito que não tenha sido só no sucesso, que tenha sido algo com honorários na frente. Mas isso é uma outra coisa que a gente vai ter que avaliar mas lá na frente.
Rosiene: O senhor mudaria algo em relação a sua atitude no processo?
Henrique: Eu te diria que sim. Não teria dinheiro pra contratar um advogado se bem que fui muito bem representado aqui pela doutora Maria (Benigno) que é minha advogada ainda hoje.
Neuton: Ela entrou depois.
Henrique: Foi na época em que eu fui candidato a prefeito.
Rosiene: Ela garantiu o seu registro de candidatura em 2016?
Henrique: Sim. Ela garantiu o meu registro.
Rosiene : O senhor conseguiu a indicação da justiça de que algo do direito de vocês dois foi violado. Por que, com tantos advogados, não houve nenhuma tentativa de reverter a situação por parte do governador José Melo?
Henrique: Eu não consegui processar isso ainda, Rosiene. Não posso ser injusto com o governador. Ele se abalou muito. Em Brasília, perguntaram pra mim: se o direito deles é bom, por que que o vice está pedindo aqui?
Por que o governador não está aqui pedindo? Então eu tinha que me justificar justamente com essa expectativa de que o Melo não jogou a toalha mas se abateu demais com a situação (…) Eu acho que ele se sentiu injustiçado e sentiu também o que viu desses players que estavam montados pelo nosso algoz pelo Eduardo Braga. Braga foi o grande artífice desse processo desde o início.
Rosiene: Todo mundo sabe que Braga é o autor das denúncias. É nesse sentido que o senhor se refere como algoz?
Henrique : Mas é nesse sentido.
Ele fez essa armação dessa chegada nesse comitê. Isso tudo foi armado. Depois ele conseguiu que o Fantástico, porque ele tem penetração dentro da Rede Globo, viesse aqui fazer essa a matéria. Ele conseguiu com que isso fosse reprisado por três Fantásticos. Ele foi capaz de contratar ministros, contratar escritório de ministros que se deram como impedidos.
E chamaram esses ministro linha dura do STF que viram de uma forma totalmente, não vou dizer deturpada, mas equivocada a nossa defesa.
Neuton: O senhor faz acusações tão sérias…
Rosiene: O senhor tem prova dessas coisas que o senhor está levantando a respeito do senador Eduardo Braga?
Henrique: O Temer se salvou em Brasília junto com a Dilma com os votos de quem? De Admar, de Tarcísio, de Gilmar Mendes e mais um. Foi desse jeito. Não estou dizendo que pegou dinheiro nem nada, não. Estou dizendo que a pressão política foi feita em cima do ministro Admar e o Eduardo Braga conseguiu ter êxito no que ele esperava. Só que ele esperava que isso fosse muito antes, porque se fosse nos dois primeiros anos ele assumiria. Ele não contava que isso fosse demorar e chegasse nos últimos dois anos. E que ele fosse para uma eleição direta que vai perder.
Rosiene: O governador José Melo chegou em alguns momentos a insinuar algumas coisas, mas não se colocou da maneira como o senhor está se posicionando agora. Por que o senhor escolheu este momento para falar, em que Eduardo Braga é candidato? O senhor tem alguma predileção neste segundo turno?
Henrique : Olha só, eu não tenho predileção nenhuma. Eu, inclusive, me abstive de votar no primeiro turno. Não tem como eu sair de casa e votar numa candidatura de qualquer um, inclusive os candidatos legítimos como governador Amazonino Mendes, da Rebecca, do Wilker e até do Jardel. Eles não têm culpa nenhuma. São legítimos de terem chegado lá porque houve uma brecha provocada por uma figura que não se satisfez em perder uma eleição por uma diferença de 170 mil votos. E aí traçou todo esse caminho que eu acabei de falar e sou responsável o suficiente. E se quiser processar pode processar. Não tem problema nenhum, quem entende de política, de bastidor de política sabe que o que eu falei aqui foi a radiografia do que aconteceu.
Então, assim, eu não saí domingo para votar porque achei que não tinha sentido. Eu estaria me ferindo e não sou masoquista para chegar e votar numa pessoa. No segundo turno, vou me abster porque acho que as coisas podem mudar ainda. Nesses últimos 10 dias, as coisas estão acontecendo em Brasília. Elas podem acontecer.
Neuton: O senhor tem alguma informação?
Henrique: O que eu acho, as pesquisas saíram aí e mostram mais ou menos o quadro que as coisas estão acontecendo no Amazonas. Tem gente que vai perder eleição e que viu que não foi legal a atitude que não valeu a pena. Se perder eleição, não se elege nem deputado federal na próxima eleição. Já vem de duas derrotas, se tivesr essa derrota não se elege nem deputado federal. Então, assim, pode ser que as coisas mudem.
Rosiene: O senhor acredita que essa eleição direta ainda pode ser revertida?
Henrique: Eu acho que ela vai acontecer, mas existem instrumentos para que a diplomação não aconteça. A diplomação depende do julgamento dos embargos. Se um ministro pedir vista e sentar em cima do embargos do voto. Enfim, fico muito triste e revoltado com tudo isso porque acho que, afinal, o Amazonas merece um final melhor. Para você ter uma ideia, essas coisas me feriram tanto … e eu não estou aqui como coitadinho não, tá?!
Rosiene: Mas o senhor ficou magoado com esse processo todo?
Henrique: Fiquei muito magoado, mas, assim, para tu ter uma ideia: eu fui fundador do Solidariedade e Eduardo Braga, não contente de ter me tirado do cargo de vice governador ainda por cima tomou meu partido. Hoje o Solidariedade está ao lado dele. Então, assim, não tem como você não ficar magoado com tudo isso.
Eu quero dizer em primeira mão e dizer hoje que eu estou fora do Solidariedade.
Estava esperando que essa ADPF que foi movida pelo Solidariedade fosse extinta para que a gente pudesse tomar uma nova decisão. Eu gosto muito do Lacerda, gosto muito do Filizzola, mas eles também são inocentes úteis dessa história toda. Eu não fico mais um minuto no Solidariedade.
Neuton: Como o senhor explica ter votações tão expressivas e baixar para quase 16 mil votos no ano passado para o cargo de prefeito?
Henrique: Foi uma mensagem clara de que o governo era totalmente impopular e de que não queria votar em mim não porque eu tinha cabeça grande ou porque eu era feio, mas porque eu era vice de um governo impopular.
Rosiene: O senhor carregou o peso de um governo impopular. Se arrependeu de ter se aliado a Melo?
Henrique: Um peso muito grande. Não me arrependo não. Não é de orgulho, vaidade ou soberba, não. Mas é por isso que eu preciso da Justiça do meu lado, pelos meus filhos e netos. Por isso corro atrás do meu direito.
Neuton: Como está hoje o seu relacionamento com o Melo?
Henrique: Rapaz, se eu conseguisse ver o Melo eu te responderia essa história.
Neuton: O senhor não falou mais com ele?
Henrique: O último dia que falei foi quando saiu a liminar de Lewandowski.
Rosiene: Ele agradeceu ao senhor nesse dia?
Henrique: Ele agradeceu, ele vibrou muito. Ele não acreditava porque no discurso de encerramento disse que não queria mais e que estava autorizando Henrique a correr atrás. Ele não tinha que autorizar, mas falou claramente para não criar nenhum tipo de constrangimento. Mas depois disso ele foi muito para o sítio e não vi mais.
Neuton: Ele não liga?
Henrique: Não liga. Não posso reclamar da minha posição pois os outros vice-governadores tiveram muito mais espaço. Do vice de Gilberto até o próprio Melo, no governo Omar Aziz. Não sei o que que houve, se não tinha tinta na caneta para o Melo dividir comigo.
Rosiene: Ele desprestigiou o senhor?
Henrique: Me esqueceu. Era uma figura decorativa. Tentei falar isso na campanha para prefeitura. Não acreditaram. Porque é difícil acreditar mesmo.
O governo Melo foi um governo de continuidade. Se você for ver, praticamente nenhum secretário trocado no primeiro ano de governo. Secretários que já eram do Omar. Então, assim, talvez ele não tivesse espaço e mobilidade para me ajudar.
Neuton: O senhor tinha cargos?
Henrique: Eu tinha cargos da vice-governadoria que é metade do que eu tinha como deputado federal: 16 cargos da Vice-Governadoria.
Neuton: Eram bons salários?
Henrique: O maior salário do secretário executivo líquido era R$ 7 mil.
Rosiene: A sala de vice-governadoria foi mais prestigiada no governo interino David Almeida?
Henrique : A sala que era minha sala hoje se tornou uma sala de articulações, de atendimento realmente. Porque o David se cercou de amigos, de pessoas competentes como ex-deputado Janjão, o Walfran e o Gurgel. São pessoas que ajudam muito o David, acredito eu. E esses atendimentos com acessibilidade desses desses elementos que eu acabei de falar talvez tenha dado uma função melhor do que era minha como o governador.
Rosiene: A propósito, o governador David Almeida diz que vai entrar o governo melhor do que recebeu. O senhor acha que não citar feitos de Melo é justo?
Henrique: As informações que eu tenho do David é que nas inaugurações de estradas, colégios e reformas ele fala do governador José Melo. Ele tem toda a legitimidade. Não foi ele que se colocou lá, ele foi colocado numa situação e tem correspondido. A gente não vê manifestações na rua, a gente não vê greve, a gente vê os serviços públicos funcionando. É uma pessoa bem intencionada. Esse números que apresentou ontem (quarta-feira, dia 9) são resultados de uma administração que teve as rédeas filmes na mão e que deixou muita gente descontente, aliás.
Rosiene: O senhor acha que o governador interino desse ponto de vista fez uma gestão melhor, mais dinâmica que o governo Melo foi capaz de fazer?
Henri que: Eu acho que são estilos diferentes. O Melo governava muito dentro dos gabinetes (…) Vivia reunido com a cúpula da receita, da fazenda e o que o David faz não é tão diferente. Mas eu vejo David hoje nas ruas porque agora o que foi plantado semeado pelo governo José Melo. Começa a colher frutos, ele começa a mostrar esses resultados. Então, são estilos diferentes, são idades diferentes.
Rosiene : O senhor vai ser candidato em 2018?
Henrique: Eu quero ser. Quero calar a boca desses inimigos, dessas pessoas.
Quero mostrar que ainda existe gente de caráter, gente ficha limpa. Teve gente que chegou no último dia de debate, bateu no peito e disse que era ficha limpa. É ficha limpa porque tem foro privilegiado. Se não tivesse estava junto com Sérgio Cabral e Eike Batista de cabeça raspada.
Neuton: O que pretende fazer?
Henrique: Eu não me incomodo de jeito nenhum de você passar na frente da minha casa e me encontrar vendendo churrasquinho. Não vejo demérito nisso. (…) Tinha muita vontade de voltar a ser deputado estadual.
Neuton: Eu vi que o senhor marejou os olhos em alguns momentos da entrevista, principalmente quando o senhor falava de injustiça. O que passou por sua cabeça nesses momentos?
Henrique: Eu não estou dizendo o que o Melo fez não seja passível de apuração e de uma punição, mas eu estou tentando mostrar o seguinte: a gente não pode querer quebrar as regras do jogo. E as regras são as seguintes: o TSE cassou, publica um acórdão, isso vai fazer com que a defesa e acusação consigam trabalhar os embargos de declaração e depois nos embargos, se não houver uma modificação nesses embargos, um candidato que foi cassado pode atravessar um recurso extraordinário o que pode ser ou não aceito pelo Supremo Tribunal Federal.
Rosiene: O senhor se emocionou durante a entrevista. Desabafou. Estava muito tempo sem falar?
Henrique: É. A gente vê muito a grama verde do vizinho. Esquece de ver a vida de quem está exposto publicamente. Há interpretações erradas. O que eu peço é que, antes de um comentário, chequem toda a história da pessoa, as dificuldades pelas quais a pessoa passou, sua ligação com Deus, como pai, irmão, amigo… Mas não vou desistir de buscar a justiça, provar que sou inocente e que não tive nada com essa história de compra de votos e colocar meu nome à disposição desse povo que eu adoro.
Foto e vídeo: BNC