Empresa ocultou mortes de pacientes em estudos da eficácia do kit covid

A CPI da covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent

Governo Bolsonaro, enfim, diz cloroquina e 'kit covid' não funcionam

Diamantino Junior

Publicado em: 16/09/2021 às 10:18 | Atualizado em: 16/09/2021 às 11:05

O plano de saúde Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, o kit covid, para tratar a covid-19, aponta um dossiê ao qual a GloboNews teve acesso.

A pesquisa foi apoiada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e é usada pelos defensores da cloroquina para justificar a prescrição do medicamento.

A CPI da covid recebeu um dossiê com uma série de denúncias de irregularidades, elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent.

O documento informa que a disseminação da cloroquina e outras medicações foi resultado de um acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. Segundo o dossiê, o estudo foi um desdobramento do acordo.

A CPI ouviria nesta quinta-feira (16) depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Batista Júnior, mas ele informou que não vai comparecer.

A reportagem da Globonews teve acesso à planilha com os nomes e as informações de saúde de todos os participantes do estudo. Nove deles morreram durante a pesquisa, mas os autores só mencionaram duas mortes.

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Um médico que trabalhava na Prevent e mantinha contato próximo e frequente com os diretores da operadora na época afirmou à GloboNews que o estudo foi manipulado para demonstrar a eficácia da cloroquina. Segundo ele, o resultado já estava pronto bem antes da conclusão do estudo.

Áudios, conversas em aplicativos de mensagens e dados contraditórios relativos à pesquisa – divulgados pela própria Prevent e apoiadores do estudo, como Bolsonaro – reforçam a suspeita de fraude.

A operadora informou, por nota, que “sempre atuou dentro dos parâmetros éticos e legais e, sobretudo, com muito respeito aos beneficiários”.

Mortes escondidas

A pesquisa começou a ser feita em 25 de março. Em uma mensagem publicada em grupos de aplicativos de mensagem, o diretor da Prevent, Fernando Oikawa, fala pela primeira vez do estudo e orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação.

“Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”, dizia mensagem do diretor da Prevent.

Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina. Dois estavam no grupo que não ingeriu as medicações. Há um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação.

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Houve, portanto, pelo menos o dobro de mortes entre os participantes que tomaram cloroquina. Para preservar as identidades, a reportagem vai mencionar apenas as iniciais, o sexo e a idade dos que morreram.

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Foto: EBC