O pesquisador da Fiocruz/Amazônia Jesem Orellana disse que a vacinação em crianças é estratégica para aumentar a cobertura vacinal contra a covid-19 (coronavírus) no Brasil. Principalmente na Amazônia, onde as condições de acesso são mais difíceis, salientou ele.
“Com certeza é. Não podemos esquecer de regiões mais pobres e com dificuldades no acesso à vacina como o vasto interior da Amazônia. Use máscaras e mantenha o distanciamento físico”, orientou o pesquisador.
Sobre a posição do presidente Jair Bolsonaro a favor de autorização dos pais e receita médica para vacinar crianças, o pesquisador classificou a ideia como absurda (na foto, criança recebe dose em campanha de multivacinação de 2016 ).
“Precisamos de um presidente e de um ministro da Saúde que salvem vidas, assim como de respeito à ciência, ao Estado brasileiro e à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Basta, o Brasil não merece tanta insanidade e vexames”, afirmou.
Nesta terça-feira (21), Orellana destacou novo estudo da Fiocruz dando conta de que uma das formas de superar a curva de estagnação da vacina é ampliar “as faixas etárias elegíveis como a imunização de crianças.”
Além disso, é preciso criar novas estratégias para aumentar a aplicação da primeira dose em pessoas que vivem em locais remotos. Para os pesquisadores, a estagnação tem maior relação com dificuldade de acesso do que com recusa em receber a vacina.
Os números da estagnação da vacina preocupam. A pesquisa aponta que aproximadamente 85% dos brasileiros podem se vacinar, se consideradas todas as pessoas acima de 11 anos.
No entanto, segundo o estudo, os pesquisadores observaram que, desde setembro, o ritmo de vacinação da primeira dose no Brasil vem desacelerando.
E nos dois meses seguintes ao dia 9 de outubro esse ritmo caiu ainda mais a cada semana epidemiológica, chegando perto do zero – cerca de 0,08% por dia. Para ele, isso poderia sugerir que a vacinação já está próxima do seu limite, com 74,95% da população imunizada com a primeira dose.
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Fases
A pesquisa diz que o país tem quatro fases distintas na evolução temporal na aplicação da primeira dose.
Na primeira, a progressão foi lenta devido em parte à falta de imunizantes; na segunda, houve um período de cerca de dez semanas em que a vacinação começou a atingir as pessoas com menos de 70 anos; na terceira, observou-se uma velocidade no aumento da cobertura, chegando a pessoas com menos de 60 anos e; na quarta, deixa claramente marcada a desaceleração.
“A grande maioria dos estados segue esta tendência, variando apenas a velocidade de aumento da cobertura, que foi sistematicamente maior nos estados das regiões Sul e Sudeste”, afirmou o pesquisador do Observatório Covid-19 da Fiocruz e um dos autores, Raphael Guimarães.
O pesquisador destaca que “nas unidades da federação em que a cobertura de primeira dose é mais alta, a diferença para a cobertura de segunda dose é menor, sugerindo que a perda de população entre doses tem sido pequena”.
Norte
O estudo também destacou que os estados do Norte têm população mais jovem, o que pode parcialmente explicar a cobertura mais baixa nessa região.
Pelo levantamento, há uma grande desigualdade nacional, com Norte e Nordeste apresentando as piores coberturas, tanto de primeira quanto de segunda doses, o que deixa claro que os valores nacionais são inflacionados pelos números estatisticamente superiores dos estados do Centro-Sul.
Para exemplificar: São Paulo e Amapá têm, respectivamente a maior e a menor cobertura vacinal no país.
“É importante ressaltar que, além de aspectos populacionais, questões relacionadas à logística de distribuição podem influenciar nos dados utilizados na análise”, afirmou Guimarães.
O pesquisador explicou que a vacinação é uma responsabilidade individual e coletiva.
“Além disso, é essencial obter celeridade no processo de aquisição das vacinas que tenham comprovada segurança para crianças de 5 a 11 anos, para que este grupo fique protegido e permita uma maior cobertura vacinal total no país”.
Foto: Sumaia Villela/Agência Brasil/arquivo