Dá ressaca a festa de comemoração dos números da Suframa

Indicadores da performance da indústria da ZFM indicam crescimento de 35%, em real, mas, em dólar, o resultado é frustrante

Gráfico mostra faturamento setorial da Suframa

Neuton Corrêa, do BNC Amazonas

Publicado em: 31/12/2021 às 06:34 | Atualizado em: 03/01/2022 às 16:58

O governo federal comemorou ontem (30) o resultado do faturamento da indústria da Zona Franca de Manaus (ZFM) do apurado até outubro.

A festa leva em conta os números absolutos. O polo industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM) faturou R$ 131 bilhões nos dez primeiros meses de 2021.

Para ficar ainda melhor a festa, o governo comparou com os números de 2020, primeiro ano da pandemia, e chegou à conclusão que o crescimento foi de 35,15%.

Mas a ressaca dessa festa dá dor de cabeça.

Para começar, é preciso lembrar que o aumento do faturamento está relacionado à variação cambial elevada e à alta da inflação, acima de dois dígitos.

Ou seja: o bom faturamento é consequência do aumento do custo de vida no país.

Os preços dos produtos que saíram da ZFM saltaram para acompanhar o aumento do custo da produção.

Em síntese, crescimento houve, mas não na proporção comemorada.

Fator dólar

Quando o faturamento do polo industrial toma o dólar como referência, a ressaca pode ser ainda maior.

Conforme os dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que apura os números do polo industrial, o crescimento foi de apenas 6,7%.

Isso em relação ao ano passado.

Quando a comparação é com 2019, pré-pandemia, também em dólar, é possível perceber que o faturamento do PIM caiu 7,5%.

Ainda assim, o resultado extraordinário em real e tímido em dólar impacta positivamente na arrecadação federal e estadual.

Produção

O dado que poderia mostrar uma realidade mais palpável do desempenho das empresas da ZFM seria o de produção industrial.

Mas esse quadro não aparece no balanço divulgado pela Suframa.

Avaliando o volume de produção poderia-se constatar se o mercado está comprando mais ou menos.

Assim, seria possível identificar a tendência do mercado consumidor de viés de alta ou baixa.

Esse dado poderia ser importante nos números do PIM, porque o IBGE e entidades setoriais já informaram que o último trimestre do ano foi bem ruim em decorrência da forte retração no consumo.

O consumidor não está indo às compras.

Por exemplo, no caso do eletroeletrônico, basta ver que a Black Friday cresceu, em faturamento, em torno de 8%, mas teve redução de 30% no volume de produtos comercializados.

Isso pode ser um indicativo de que os indicadores da ZFM de novembro e dezembro podem ser frustrantes, mesmo que em real.

Empregos

O governo poderia ter comemorado melhor outro dado dos indicadores de desempenho do polo industrial de Manaus.

Por exemplo, o quadro de empregos.

O auge da ZFM em geração de emprego foi 2014, quando havia geração de cerca de 122 mil postos de trabalho.

Contudo, a economia do país estava superaquecida.

Hoje, em pandemia, o distrito industrial saiu de 86 mil empregos para 103 mil, ainda que tenha ocorrido variação negativa na comparação com os dados de setembro.

E ainda que novembro e dezembro possa haver redução de oferta de empregos, já que a economia está desaquecendo para os setores eletroeletrônicos e duas rodas, esse número, sim, é razão para festa.

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