Lava Jato serĂ¡ um dos temas principais das eleições para Lula e Moro

A Lava Jato teve como ponto de partida uma rede de doleiros ligada a Alberto Youssef, que movimentou bilhões de reais no Brasil e no exterior

Moro aciona STF contra decisĂ£o que permitiu a Lula ter acesso a operaĂ§Ă£o spoofing

Publicado em: 04/01/2022 Ă s 11:19 | Atualizado em: 04/01/2022 Ă s 11:19

Pela terceira eleiĂ§Ă£o presidencial seguida, a OperaĂ§Ă£o Lava Jato estarĂ¡ entre os principais focos dos debates em 2022.

Diferentemente do que ocorreu nas campanhas anteriores, agora a discussĂ£o nĂ£o serĂ¡Â sobre descobertas recĂ©m-ocorridas ou seus desdobramentos em andamento, mas sim acerca do saldo dos trabalhos feitos anos atrĂ¡s.

HĂ¡ ainda outra novidade crucial: o seu maior sĂ­mbolo, o ex-juiz Sergio Moro, deve concorrer ao Planalto pelo partido Podemos, com carimbo de juiz parcial e empunhando a bandeira do legado da operaĂ§Ă£o, hoje esvaziada e com suas forças-tarefas extintas.

Assunto dos mais polarizadores da histĂ³ria polĂ­tica do paĂ­s, a Lava Jato começou a partir de investigaĂ§Ă£o sobre uma rede de doleiros no ParanĂ¡Â e avançou sobre irregularidades em estatais envolvendo partidos polĂ­ticos. Teve papel crucial em crises como a que levou ao impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.

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SĂ³ em Curitiba, foram apresentadas 130 denĂºncias (acusações formais) atĂ© o ano passado, com 174 condenações. As quantias bilionĂ¡rias que retornaram aos cofres pĂºblicos em decorrĂªncia das investigações sĂ£o um dos argumentos mais frequentes de seus apoiadores.

De 2018 para cĂ¡, a Lava Jato passou por questionamentos, principalmente apĂ³s a ida de Moro para o governo Jair Bolsonaro e com o vazamento de conversas do aplicativo Telegram de procuradores, em 2019.

O PT, partido que lidera as pesquisas com Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, vocaliza as principais crĂ­ticas Ă  operaĂ§Ă£o e flerta com teorias como a influĂªncia do governo americano sobre os investigadores, tese jĂ¡ defendida pelo presidenciĂ¡vel.

Concorrente de Moro no campo da chamada terceira via, Ciro Gomes (PDT) tem criticado o efeito econĂ´mico da operaĂ§Ă£o e o desemprego provocado pela investigaĂ§Ă£o nas empreiteiras.

Bolsonaro, antes defensor da Lava Jato, tornou-se crítico e tem falado que havia um projeto político entre seus integrantes — o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos) também entrou para a política.

Relembre os principais eixos da Lava Jato desde a sua deflagraĂ§Ă£o, em março de 2014.

Doleiros

A Lava Jato teve como ponto de partida uma rede de doleiros ligada a Alberto Youssef, que movimentou bilhões de reais no Brasil e no exterior usando empresas de fachada, contas em paraĂ­sos fiscais e contratos de importaĂ§Ă£o fictĂ­cios.

Ă€ Ă©poca, um dos focos eram os negĂ³cios de JosĂ© Janene, ex-deputado do PP do ParanĂ¡Â que morreu em 2010. Investigado pela PF no ParanĂ¡, o caso foi distribuĂ­do ao entĂ£o juiz Sergio Moro, que atuava em vara especializada em crimes financeiros.

Youssef, que jĂ¡ havia se tornado delator no caso Banestado e descumprido o acordo, firmou uma das primeiras delações premiadas da Lava Jato.

Suas empresas nunca prestaram serviços de fato e nĂ£o tinham funcionĂ¡rios contratados. Essas firmas de fachada, segundo laudos mostraram, receberam de construtoras como a OAS, GalvĂ£o Engenharia, Camargo CorrĂªa e UTC ao menos R$ 62 milhões (em valores da Ă©poca).

Por meio delas, o operador fornecia dinheiro a interlocutores de políticos. Tinha contato com alguns deputados de forma frequente, como o ex-deputado Luiz Argôlo, que era filiado ao SD-BA e também foi preso na Lava Jato.

Com o passar das investigações, outros operadores financeiros foram atingidos pelas investigações, como Adir Assad e Milton Lyra.

A CĂ¢mbio, Desligo, um desdobramento da Lava Jato do Rio de Janeiro, teve como principal alvo outro operador financeiro, Dario Messer, conhecido como “doleiro dos doleiros”. Messer foi preso em 2019. Em 2020, teve seu acordo de delaĂ§Ă£o premiada homologado.

PetrobrĂ¡s

Alberto Youssef tinha envolvimento com um ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

Com a descoberta de um carro comprado pelo doleiro para o ex-executivo, a estatal entrou no foco das investigações. Os dois foram presos em março de 2014. Com o avanço dos trabalhos da PF, outras diretorias e divisões da Petrobras passaram a ser investigadas.

Em meio Ă  prisĂ£o de seus diretores, a estatal passou a trabalhar em colaboraĂ§Ă£o com o MinistĂ©rio PĂºblico Federal, como assistente de acusaĂ§Ă£o na Lava Jato. Passou a ser tratada como vĂ­tima dos crimes desvendados pela operaĂ§Ă£o.

As suspeitas de irregularidades eram anteriores Ă  Lava Jato. O TCU (Tribunal de Contas da UniĂ£o) recomendou em 2011 o bloqueio de verbas Ă  construĂ§Ă£o da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, uma das mais mencionadas na investigaĂ§Ă£o.

Em 2015, a Petrobras divulgou balanço contabilizando uma perda de R$ 6 bilhões com o esquema de corrupĂ§Ă£o. Na semana passada, quase sete anos depois, a companhia afirmou que o total recuperado em virtude de acordos de colaboraĂ§Ă£o, leniĂªncia e repatriações Ă© atĂ© agora de R$ 6,17 bi.

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Foto: divulgaĂ§Ă£o