Acusado de matar Marielle confessa ter tido ajuda de Bolsonaro
PM reformado acusado de matar a vereadora diz que recebeu ajuda do presidente, de quem era vizinho, mas diz que mal o conhece

Mariane Veiga
Publicado em: 04/03/2022 ร s 17:00 | Atualizado em: 04/03/2022 ร s 17:10
Preso sob a acusaรงรฃo de haver executado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes em 2018, no Rio de Janeiro, o policial militar reformado Ronnie Lessa nega sua participaรงรฃo no crime e confirma ter recebido ajuda do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lessa diz ser vรญtima de armaรงรฃo e aponta para um morto, o chefรฃo miliciano Adriano da Nรณbrega.
Conforme a VEJA, ele tambรฉm confirmou que recebeu auxรญlio do presidente no fim de 2009, embora afirme que mal o conhece.
Depois de perder parte da perna esquerda na explosรฃo de uma bomba em seu carro, ele conta que o presidente, entรฃo deputado federal, intercedeu para que seu atendimento fosse priorizado na Associaรงรฃo Brasileira Beneficente de Reabilitaรงรฃo (ABBR), no Rio de Janeiro.
โBolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polรญcia porque รฉ quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policialโ, disse.
A proximidade do clรฃ presidencial com a ABBR รฉ pรบblica e notรณria: entre 2004 e 2018, Bolsonaro destinou ao menos 4,6 milhรตes de reais em emendas parlamentares para a instituiรงรฃo.
Lessa, interno da Penitenciรกria Federal de Seguranรงa Mรกxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, desde dezembro de 2020, ainda acrescenta: โNo final dessa histรณria eu saio como mal-agradecido. Nunca fui apertar a mรฃo deleโ.
Durante uma hora de entrevista, o sargento reformado insistiu que nunca foi prรณximo do presidente, apesar de ter sido vizinho dele e do filho Carlos Bolsonaro em um condomรญnio na Barra da Tijuca.
โร um cara esquisito. Se vi cinco vezes na vida, foi muito. Um dia cumprimenta, outro nรฃo, e mesmo assim sรณ com a mรฃozinha. E nunca vi os filhos deleโ, garante.
Vinganรงa
Na sua versรฃo, Lessa acabou implicado por obra do prรณprio Adriano, que quis se vingar por ele nรฃo tรช-lo aceito como sรณcio em uma academia de ginรกstica da qual era dono em Rio das Pedras, รกrea de atuaรงรฃo do miliciano.
Sรณ que o tal โgrupo deleโ aparece, no processo de federalizaรงรฃo do caso, como sendo o do prรณprio Lessa: o primeiro suspeito de ter executado Marielle e Anderson, o tambรฉm miliciano Orlando da Curicica, sugeriu em sua delaรงรฃo ao Ministรฉrio Pรบblico Federal โque o pessoal do ex-PM Ronnie Lessaโ integrava o escritรณrio do crime.
Apรณs Curicica ser descartado como autor dos disparos, todas as evidรชncias recaรญram sobre Lessa, que nega.
โEu nรฃo matei aquela menina. Hoje consigo enxergar que existia plano A, B e atรฉ um Cโ, disse.
Dessa maneira, a promotoria estรก convicta da condenaรงรฃo de Lessa, apesar dos tropeรงos do processo. Em quatro anos, as investigaรงรตes jรก correram o risco de passar para a esfera federal, tiveram cinco delegados ร frente, duas promotoras deixaram o inquรฉrito alegando โinterferรชncias externasโ e hรก uma sรฉrie de interrogaรงรตes ainda sem resposta, inclusive as duas mais prementes: quem mandou matar Marielle e por quรช.
Leia a entrevista completa na Veja.
Foto: Guilherme Cunha/Alerj