Bons e velhos inimigos políticos no AM podem se juntar outra vez
Entre alianças e separações, lá se vão quatro décadas de uma relação conturbada que está prestes a viver um novo capítulo neste ano
Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 10/03/2022 às 04:30 | Atualizado em: 10/03/2022 às 04:58
Inimigos políticos por mais de quatro décadas, mas que, circunstancialmente, algumas vezes se juntaram, o ex-governador Amazonino Mendes (sem partido) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) de novo deverão estar bem próximos.
Desta vez, as eleições 2022 os aproximam.
Amazonino, que nunca teve uma sigla para chamar de sua, e que quando procurou abrigo partidário acabou rompendo com aliados, mesmo estando no poder, agora vive um drama confortável.
Ele lidera as pesquisas a governador, mas está sem bandeira partidária. O PSDB pode lhe abrir as portas. E isso não seria uma carga para Arthur Virgílio, pré-candidato ao Senado, que está precisando formar uma chapa para agregar peso à sua candidatura.
Precisa também do interior, que ele perdeu, e que Amazonino tem.
O problema é que o ex-governador coleciona um caudaloso histórico de “pernadas”, inclusive de aliados, reconhecidamente próximos.
Aconteceu, por exemplo, quando perdeu o PTB para o ex-deputado federal Sabino Castelo Branco. Depois, quando ficou sem o PDT, que foi para as mãos do ex-deputado federal Hissa Abrahão. E, mais recentemente, quando teve que acompanhar o deputado estadual Wilker Barreto em sua chapa de prefeito, em 2020. E, por conseguinte, deixou o Podemos.
Agora, no entanto, embora inimigos políticos, um precisa do outro.
Todavia, essa convivência suportada entre eles já aconteceu na história.
Parte dessa relação conturbada entre os velhos políticos foi contada pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Está no livro “Diários da Presidência” – 1995-1996 (volume 1).
Na ocasião, eles defendiam o mesmo governo (FHC) no âmbito nacional. Porém, na paróquia, disputavam o controle do porto privatizado de Manaus.
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FHC como testemunha
Sobre isso, FHC registrou:
“Almocei ontem com o Amazonino Mendes, Pauderney Avelino e Eduardo Jorge para discutirmos a questão da mudança do presidente do porto de Manaus. Todo mundo diz que o cara que está lá é bom, inclusive o Odacir Klein, mas o Artur Virgílio implicou que precisa ter uma posição e o Amazonino, que parece ser o mais esperto de todos, diz que é melhor deixar tirar, porque aí o Artur Virgílio vai se arrebentar”.
Em 2013, quando sucedeu Amazonino na Prefeitura de Manaus, Arthur Neto cansou de repetir que havia recebido os cofres do município com um rombo de R$ 300 milhões.
Novamente, como resultado, a relação deles azedou.
Contudo, a eleição suplementar de 2017 para o mandato tampão que substituiu o governador José Melo os uniu outra vez.
E agora, a história pode voltar a se repetir. Faltam poucos dias para isso.
Foto: Mário Oliveira/Semcom (arquivo)