PrĂ©-candidatos discutem alta dos combustĂveis, mas de nada adianta
Enquanto trocam acusações de quem Ă© o culpado, a populaĂ§Ă£o brasileira segue tendo que pagar essa conta cara e sem ter a quem recorrer

Publicado em: 11/03/2022 Ă s 14:52 | Atualizado em: 11/03/2022 Ă s 14:52
A alta dos combustĂveis tornou-se motivo para mais um embate entre os prĂ©-candidatos Ă PresidĂªncia da RepĂºblica nas redes sociais. ApĂ³s a PetrobrĂ¡s anunciar um reajuste significativo dos preços, os presidenciĂ¡veis trocaram acusações sobre a responsabilidade do aumento, enquanto o entorno do presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou a mudança do cĂ¡lculo do ICMS, aprovada no Senado nesta quinta-feira (10), tentando reforçar a interpretaĂ§Ă£o de que a escalada dos preços se devia majoritariamente aos governos estaduais.
O aumento nas refinarias de 24,9% no preço do Ă³leo diesel, de 18,7% da gasolina e de 16% do gĂ¡s de botijĂ£o, vĂ¡lido a partir desta sexta-feira, 11, deverĂ¡ aumentar entre 0,5 e 0,6 ponto porcentual a inflaĂ§Ă£o oficial do PaĂs, que, no ano, deve passar da casa de 6%, de acordo com cĂ¡lculos de economistas, como mostrou o EstadĂ£o.
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O ex-presidente Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT) foi ao Twitter argumentar que a gasolina estĂ¡ cara porque a BR Distribuidora foi privatizada. Segundo ele, o PaĂs seria autossuficiente para produzir o combustĂvel, logo, estaria sendo prejudicado pela importaĂ§Ă£o.
“Agora vocĂª tem empresas importando gasolina dos Estados Unidos em dĂ³lar enquanto temos auto suficiĂªncia (sic) e produzimos petrĂ³leo em reais”, publicou.
O presidenciĂ¡vel Felipe d’Avila (Novo) deu destaque Ă postagem do petista em seus perfis e escreveu: “um tweet, quatro mentiras”. Ele rebateu o argumento de Lula afirmando que a distribuidora era “saqueada” durante os governos do PT. TambĂ©m disse que o PaĂs importa combustĂvel por nĂ£o ter capacidade de refinar todo o volume que extrai nacionalmente. Ainda segundo o prĂ©-candidato, o fato de a cadeia do petrĂ³leo ser global faz com que seja falso dizer que se “produz em reais”.
Em resposta Ă mesma publicaĂ§Ă£o de Lula, o presidenciĂ¡vel SĂ©rgio Moro (Podemos) levantou o tema do combate Ă corrupĂ§Ă£o, sua principal bandeira na polĂtica. “Sabe por que a PetrobrĂ¡s ainda existe, Lula? Porque a Lava Jato impediu que o governo do PT continuasse saqueando e desviando recursos da maior estatal do Brasil”, escreveu o ex-ministro.
Quanto ao aumento dos preços, Moro propĂ´s que o PaĂs estimule a produĂ§Ă£o de energias renovĂ¡veis, “com foco em energia eĂ³lica, solar, etanol e hidrogĂªnio verde”. O mesmo modelo Ă© defendido por d’Avila, que jĂ¡ disse em entrevistas que o Brasil deveria deixar de priorizar os combustĂveis fĂ³sseis.
“Enquanto isso todos brasileiros sofrem, mesmo vivendo num paĂs que tem uma das maiores reservas de petrĂ³leo do mundo, e vendo concessionĂ¡rias da Petrobras vendidas a preço de banana”, publicou em sua rede social o prĂ©-candidato do PDT, Ciro Gomes, logo apĂ³s o anĂºncio do aumento. “AtĂ© quando vamos suportar este absurdo?” Declaradamente contrĂ¡rio Ă privatizaĂ§Ă£o, o pedetista ainda criticou os “bĂ´nus milionĂ¡rios” dos “barões acionistas” da empresa.
No entorno de Bolsonaro, o esforço foi para jogar a conta no colo dos governadores. O chefe do Executivo jĂ¡ afirmou, em outras ocasiões, que o culpado pelo alto preço da gasolina Ă© o ICMS, tributo arrecadado pelos Estados. Ontem, foi aprovado o projeto que muda o cĂ¡lculo da tributaĂ§Ă£o, fazendo com que o imposto passe a ser cobrado sobre o litro de combustĂvel, e nĂ£o mais sobre o preço final do produto. O texto era apoiado pela equipe econĂ´mica do governo.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) comemorou a decisĂ£o, alegando que a mudança faria o “povo pagar mais barato”, e usou a ocasiĂ£o para criticar governadores que nĂ£o querem abrir mĂ£o da arrecadaĂ§Ă£o em ano eleitoral.
“Governadores demonstram nĂ£o estarem muito preocupados com o povo, mas com outras prioridades”, publicou.
Na mais recente transmissĂ£o da sua tradicional live Ă s quintas-feiras, o presidente Bolsonaro reconheceu que o preço dos combustĂveis estĂ¡ alto e lamentou que “muitos caminhoneiros” podem parar por conta disso.
Entretanto, o presidente reforçou que o descontentamento dos motoristas, segundo ele, se deve Ă “carga tributĂ¡ria” sobre o produto.
“O Senado hoje jĂ¡ fez sua parte, a CĂ¢mara deve fazer tambĂ©m, e a gente vai tirar o impacto de 60 centavos por litro. É muito dinheiro”, afirmou. Depois, ao fazer um cĂ¡lculo da economia para uma viagem de BrasĂlia a SĂ£o Paulo, o mandatĂ¡rio disse que o impacto seria de 90 centavos, nĂ£o 60, por litro. Bolsonaro ainda argumentou que, sem o aumento de preços dos combustĂveis (apĂ³s congelamento de 57 dias) poderia haver desabastecimento no PaĂs: “É pior. Alguns querem que eu vĂ¡ Ă Petrobras e dĂª murro na mesa, nĂ£o Ă© assim”.
A polĂtica de preços e o destino da prĂ³pria PetrobrĂ¡s tĂªm mobilizado a prĂ©-campanha. Lula destaca que nĂ£o pretende privatizar a empresa e que deve derrubar a dolarizaĂ§Ă£o e vinculaĂ§Ă£o ao mercado internacional. PrĂ©-candidato do PDT, Ciro Gomes vai na mesma linha. JĂ¡ Moro e o presidenciĂ¡vel do PSDB, JoĂ£o Doria, tĂªm debatido o modelo de privatizaĂ§Ă£o.
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Foto: Marcelo Casal Jr./EBC