Investigação ruim das mortes no Javari levam Brasil a ser denunciado na ONU
A denúncia foi apresentada nesta quarta-feira, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra

Mariane Veiga
Publicado em: 22/06/2022 às 18:21 | Atualizado em: 22/06/2022 às 20:49
Entidades de direitos humanos e grupos ligados ao movimento indígena vão às Nações Unidas para cobrar do governo de Jair Bolsonaro (PL) investigação sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.
A denúncia foi apresentada nesta quarta-feira, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
O objetivo é de que as autoridades nacionais sejam pressionadas a aprofundar o inquérito, principalmente depois que a Polícia Federal concluiu que não houve um mandante para os crimes.
A iniciativa confirma um dos cenários traçados por diplomatas brasileiros. No Itamaraty, o temor era de que o caso no Amazonas amplie a pressão internacional contra o governo Bolsonaro.
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Nos últimos dias, a ONU já havia lançado uma série de alertas contra a postura do Palácio do Planalto, obrigando a diplomacia nacional a rebater as críticas.
Mas a pressão não dá sinais de perder força. “Apelamos ao governo brasileiro para uma investigação profunda sobre esses assassinatos, inclusive para aqueles que possam ter ordenado esse crime”, declararam a Conectas Direitos Humanos e a Comissão Arns, em reunião na ONU.
“Apelamos a este Conselho e à comunidade internacional para que acompanhem de perto esta investigação e exijam justiça. Apelamos urgentemente à necessidade de proteção às comunidades indígenas do vale do Javari, bem como ao fortalecimento dos mecanismos de proteção ao meio ambiente e aos que o defendem”, pediram as entidades, num discurso feito por Gustavo Huppes, assessor de advocacy da Conectas Direitos Humanos.
Retrocesso
Na avaliação das instituições, o Brasil vive um “retrocesso” quando se trata da proteção daqueles que lutam pela justiça ambiental e são mais vulneráveis.
O grupo ainda destacou que as autoridades brasileiras “demoraram muito” para responder quando as comunidades locais soaram o alarme sobre o desaparecimento de Bruno e Dom, e foram as comunidades indígenas as primeiras a tentar uma missão de busca e resgate. “10 dias depois, a polícia encontrou os corpos de Bruno e Dom”, disse Huppes.
“Os assassinatos de Bruno e Dom demonstram os crescentes riscos enfrentados por aqueles que se atrevem a defender o meio ambiente no Brasil e as comunidades indígenas, que enfrentam um revés histórico sob o governo do presidente Jair Bolsonaro”, afirmaram as entidades.
“Órgãos de fiscalização, agências de proteção ambiental e indígena que antes trabalhavam para prevenir violações sofreram profundos cortes orçamentários e foram sistematicamente enfraquecidos. Jornalistas e aqueles que falam contra esse cenário devastador também têm sido perseguidos por autoridades governamentais e grupos ligados à indústria extrativista”, alertam.
Para a coordenadora do programa de Defesa dos Direitos Socioambientais da Conectas, Julia Neiva, o assassinato da dupla evidencia o grave cenário de insegurança em que se encontram defensores, jornalistas e lideranças indígenas no Brasil.
“Embora assassinatos e ameaças a defensores ocorram há muitos anos no Brasil, o contexto de hoje é ainda mais grave. O atual governo incita o armamento da população e a violência contra povos indígenas e ativistas, além de ter deliberadamente desmontado as instituições públicas de proteção aos direitos humanos e ao meio ambiente, como a Funai, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente”, destaca.
Diante das críticas, o governo brasileiro poderá pedir direito de resposta.
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Foto: Reprodução/Twitter