‘Denúncia e luta em forma de poesia’, promete o Caprichoso no Bumbódromo
Roteiro e sinopse da apresentação no festival foram apresentados sob clima de emoção pela volta do festival depois da pandemia
Arnoldo Santos, especial para o BNC Amazonas
Publicado em: 24/06/2022 às 09:03 | Atualizado em: 24/06/2022 às 09:14
O boi Caprichoso reafirmou, na noite desta quinta-feira (23), o propósito de tornar a agremiação folclórica uma bandeira de luta, denúncia e ação cultural em defesa do homem e d meio ambiente da região. Com tema “Amazônia, nossa luta em poesia”, a diretoria e os pensadores do Conselho de Artes do boi negro da francesa querem ir além do espetáculo grandioso que pretendem apresentar na bumbódromo nas próximas três noites.
“Em silêncio, gerimos problemas antigos, superamos obstáculos que se arrastavam no
tempo e conseguimos amparar e valorizar nossos trabalhadores, mesmo sem nossa maior festividade folclórica, o Festi val de Parintins. Somos “Cultura que Resiste” e todo o trabalho realizado ao longo da pandemia da Covid-19 comprova essa força”, assim assina o presidente do Caprichoso, Jender Lobato, a revista apresentada na coletiva de imprensa. “Nossa luta é verdadeira, a gente pratica isso todo dia. Exatamente por isso que dá tudo certo”, completou Lobato ao agradecer toda a sua equipe, pela luta empreendida durante o ano pior da pandemia em Parintins, que foi 2020.
A luta na pandemia
Antes de falar do tema em si, o presidente do Conselho de Artes, Erick Nakanome, fez um breve retrospecto do que foram esses dois anos sem festival. A luta não só contra a pandemia, mas pela simples sobrevivência.
Nakanome lembrou das lives que, mesmo com o receio da infecção por covid-19, em uma cidade que ficou em primeiro lugar em mortes pela doença no Estado, o medo tomava conta, mas foi preciso agir. Falando das lives que foram realizadas pelas redes sociais, lembrou que era uma necessidade. “O que motivou a gente não foi a vontade de aparecer, não. Foram justamente os nossos irmãos artistas que precisavam de comida e remédio”, disse emocionado.
Primeira noite
Um grito pela vida na Amazônia vai ecoar na primeira noite de apresentação do Caprichoso na arena. “A floresta está doente”, diz a frase inicial da sinopse do roteiro. Nessa noite, o boi da francesa vem com um discurso contundente em cima daqueles que, segundo o boi Caprichoso, ameaçam a floresta, sua gente e sua fauna. O Agronegócio sem controle, a garimpagem ilegal, o desflorestamento são alvos mirados pela direção de arte do boi.
A frase resumo desta noite explica a proposta. “A poesia é um pássaro que voa acima. De qualquer escuridão e lá dissemina aos ventos sementes iluminadas de verbos que, compreendidos, serão futuras árvores com folhas, frutos e sabores de novas consciências”, é como está escrito na revista oficial do tema.
“A gente acredita que o papel educativo do festival de Parintins é fundamental. Eu, como professor, não consigo chegar em 50, em 30 pessoas. Mas a toada de boi leva nosso canto, nosso discurso à caixa de som, nos carros, às redes sociais de muitos amazônidas, de muitos brasileiros. Então, povoar com essas sementes de arte é um processo importante para a decolonização, inclusive para a arte-educação brasileira”, disse Nakanome.
Nesta noite, a lenda amazônica (item 17) será a Ka’aporanga, um ser místico protetor da floresta. A crença dos povo Maraguá, da região de Nova Olinda do Norte, diz que este ser aparece toda vez que a floresta é ameaçada.
Na celebração indígena, a invasão do branco colonizador vai ser mostrada por uma alegoria gigantesca fantasmagórica, segurando dois cães infernais, com pedaços de corpos humanos na boca. Heróis mostrados pela história oficial, aqui são retratados como invasores “fétidos, sedentos por tesouros, glórias e territórios”
O caboclo ribeirinho será retratado como figura típica regional e o ritual, ápice da apresentação, será uma apresentação do Tuparí:sucaí, o tarupá da friagem. O ritual que fala da importância do equilíbrio da natureza para que o homem viva em paz na floresta.
Segunda Noite
A noite “B”, segundo o roteiro, será destinada ao homem amazônico. Em “Amazônia-Aldeia: o brado do povo” vamos apresentar as lutas constantes dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia. Resistir é reexistir. É trazer os sons dos muitos batuques emanados pelos mestres griôs brasileiros homenageados em nossa Marujada de Guerra, cuja cadência dá vida e voz às toadas caprichosas e altaneiras do Boi da Francesa e do Palmares”, que são bairros reduto do Caprichoso.
Será a noite em que o Caprichoso vai celebrar o legado que os povos de origem africana deixaram na nossa gente. A alegoria de exaltação folclórica vai mostrar o boi de quilombo, peça histórica essencial para contar a saga do boi-bumbá em Parintins e no resto da Amazônia.
Terceira Noite
O Caprichoso fechará o festival mostrando as raízes identitárias do boi, com seus mitos fundadores, “aqueles que botavam o brinquedo junino nas ruas de Parintins”. A celebração folclórica vai saudar o caboco parintinense, com suas crenças e costumes, muito influenciado pela cristandade. Nossa Senhora do Carmo, padroeira católica de Parintins, aparece em uma alegoria gigante com o boi Caprichoso por trás.
O ritual indígena mostrará a festa Reahú, do povo yanomami. “Para os Yanomami, a volta de um indivíduo para o Hutukara, o céu de Omame, onde viverá o descanso eterno, depende da festa Reahú, pois esse é um rito onde a coletividade se despede e apaga todos os vestígios que podem prender o espírito do falecido a este plano”
O Caprichoso fecha a primeira noite, abre a segunda e fecha a terceira noite, encerrando oficialmente o 55º Festival Folclórico de Parintins.
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