Caprichoso leva discurso ‘decolonial’ ao bumbódormo na 1ª noite

A Amazônia contada pela visão do seu povo, em forma de manifesto contra as formas exploratórias da região

Discurso pela preservação da Amazônia é a abodagem do Caprichoso no festival de Parintins

Arnoldo Santos, especial para o BNC Amazonas

Publicado em: 25/06/2022 às 13:58 | Atualizado em: 25/06/2022 às 13:58

O toque do marujeiro ‘Bacuri’ (72), parintinense, filho do bairro da Francesa, berço do Caprichoso, abriu a batida forte da Marujada de Guerra, com o delírio da galera azulada presente no Bumbódromo de Parintins, nesta noite de sexta-feira (24). O boi-bumbá Caprichoso fechou a primeira noite de apresentações do 55º Festival Folclórico de Parintins. Com o subtema “Amazônia-Floresta: o grito da vida”, que compõe o espetáculo “Amazônia Nossa Luta em Poesia”, um tema com discurso decolonial, a forma de mostrar a Amazônia pela visão de quem vive na maior floresta úmida do planeta.

Um grito pela vida na Amazônia ecoou no bumbódromo. “A floresta está doente”, frase inicial da sinopse apresentada pela direção do boi, simboliza o que foi mostrado na arena.

“A gente acredita que o papel educativo do festival de Parintins é fundamental. Eu, como professor, não consigo chegar em 50, em 30 pessoas. Mas a toada de boi leva nosso canto, nosso discurso à caixa de som, nos carros, às redes sociais de muitos amazônidas, de muitos brasileiros. Então, povoar com essas sementes de arte é um processo importante para a decolonização, inclusive para a arte-educação brasileira”, disse Ericky Nakanome, presidente do Conselho de Arte do Caprichoso

A apresentação com temas muito atuais levou para a arena um protesto pelas mortes do jornalista britânico Don Phillips e do indigenista Bruno Ferreira, semanas atrás, quando viajavam pelo Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas. A imagem dos dois foi levada pela filha do seringueiro Chico Mendes, Angela Mendes, e pelo líder Yanomami Dario Kopenawa.

Imagem: reprodução do Portal Acrítica

Noite de Manifesto

“Amazônia-Floresta: o grito da vida, a poesia amazônica torna-se manifesto onde vida e imaginário formam um corpo uno, um corpo floresta, uma gente-Caprichoso, unidos em defesa de nosso território, nossa morada, nosso ar, nosso tudo. A luta dos seres da floresta”, é como a direção de arena descreve a primeira noite de apresentações do Caprichoso.

Lenda Amazônica

Roteiro começou com a Lenda Amazônica (item 17) Ka’aporanga, um ser místico protetor da floresta. A crença dos povo Maraguá, da região de Nova Olinda do Norte, diz que este ser aparece toda vez que a floresta é ameaçada.

Celebração indígena

Na celebração indígena, a invasão do branco colonizador foi mostrada por uma alegoria gigantesca fantasmagórica, segurando dois cães infernais. Heróis mostrados pela história oficial, mas na arena retratados como invasores “fétidos, sedentos por tesouros, glórias e territórios”, como descreve o texto do roteiro.

Foi o momento tribal onde as tribos deram um show de sincronia cobrindo a arena toda. A encenação do invasor que oprimiu o indígena, fazendo-o prisioneiro, foi um outro momento marcante.

Figura típica regional

A figura típica veio homenageando o caboclo ribeirinho, profundo conhecedor do viver amazônica. Uma saga que tem testemunhas anônimas, que o Caprichoso encontra na garimpagem acadêmica que faz na hora de criar o seu roteiro de arena. Este ano, a figura do seu Ignácio Pereira, morador do rio Tapajós. “Sujeitos que habitam as áreas mais distantes da Amazônia”, segundo o roteiro.

Ritual

O ritual, ápice da apresentação, encenou o Tuparí: sucaí, o tarupá (espírito) da friagem. O ritual que fala da importância do equilíbrio da natureza para que o homem viva em paz na floresta.

Imagem: reprodução Portal TV Acritica

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Foto de capa e internas: Bruno Zanardo/Secom

Fotos internas: Márcio Costa/ AMemPauta