Generais de comando não aderem ao Twitter e Bolsonaro fica tenso
Nos últimos anos houve uma retração no número de comandantes tuiteiros

Ferreira Gabriel
Publicado em: 28/06/2022 às 12:05 | Atualizado em: 28/06/2022 às 12:21
Atualmente nenhum integrante do Alto Comando do Exército (ACE) tem perfil pessoal no Twitter. O cenário, portanto, não agrada ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca se fortalecer visando reeleição este ano.
Nos últimos anos houve uma retração no número de comandantes tuiteiros, como era o caso do general Eduardo Villas Bôas, com seus famosos tuítes sobre o julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva. O Alto Comando do Exército tinha à época outros cinco generais com perfis na rede social.
A partir disso existem duas explicações para menor participação dos generais na rede social.
A primeira foi a portaria no comando de Edson Pujol, que enquadrou o uso das redes sociais pelos militares – houve até general que mudou de nome para permanecer tuitando anonimamente.
Na época, os oficiais postavam abertamente manifestações ilegais de caráter político-partidário, quase sempre em apoio a Jair Bolsonaro. A contaminação dos quartéis era evidente.
Uma análise feita nas contas do Twitter de militares seguidas por Villas Bôas e nas destes oficiais encontrou 115 integrantes da ativa que fizeram 3.427 tuítes de caráter político-partidário entre abril de 2018 e abril de 2020.
As publicações estavam nos perfis mantidos por 82 integrantes das Forças Armadas, entre os quais 23 oficiais-generais – 19 generais, dois almirantes e dois brigadeiros.
Havia o caso de um coronel do 6.º Batalhão de Infantaria de Selva que fez 603 publicações. Outro coronel, um adido militar na Europa, publicou 309 vezes em apoio ao presidente e a deputados identificados com o bolsonarismo.
Até um comandante de CPOR (Centro de preparação de Oficiais da Reserva) se referia aos opositores como “petralhada” e “comunistas” e manifestava apoio a Bolsonaro em sua conta pessoal. Um general muito ativo na rede deixou o comando de uma divisão e foi trabalhar no GSI, com Augusto Heleno.
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Enquanto o Alto Comando silencia, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto tem uma atuação cada vez mais política.
As pressões contra a Justiça Eleitoral e a queixa-crime apresentada contra Ciro Gomes (PDT) renovam o ambiente criado em 2018. Aqui se foi além do que aconteceu na Colômbia. Antes do primeiro turno, o esquerdista Gustavo Petro, presidente eleito do país vizinho, lançara acusação semelhante à de Ciro aos chefes do Exército.
Recebeu como resposta um tuíte do comandante colombiano, que lhe pediu que encaminhasse a denúncia à Procuradoria em vez de fazer demagogia. Como poderia o Exército querer processar o futuro presidente?
Diante da remota possibilidade de Ciro vencer a eleição, a queixa do ministro cairá no esquecimento. Mas não devia.
Muitos dos que apoiam Bolsonaro viram na condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) um exagero. Não se indignavam com as ofensas e ameaças aos ministros do Supremo. Agora querem se indignar quando a acusação irresponsável se volta contra os quartéis. A queixa contra Ciro é uma forma de tentar emparedar a Justiça e mobilizar a defesa da honra militar para colocá-la a serviço de Bolsonaro.
Leia mais na coluna de Marcelo Godoy no Estadão
Foto: Marcos Corrêa/PR