TSE chama partidos para alerta sobre violĂªncia polĂ­tica

O TSE vem reforçando o esquema de segurança do prĂ©dio e de seus ministros. Fachin frisou ainda que "o JudiciĂ¡rio brasileiro nĂ£o vai se vergar a quem quer que seja"

Moraes prorroga por 90 dias investigaĂ§Ă£o contra Bolsonaro no caso da PF

Publicado em: 15/07/2022 Ă s 11:40 | Atualizado em: 15/07/2022 Ă s 11:45

A escalada de violĂªncia polĂ­tica no paĂ­s a trĂªs meses das eleições acendeu um sinal de alerta no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O caso do guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado a tiros no Ăºltimo sĂ¡bado (9), em Foz do Iguaçu (PR), por suposta motivaĂ§Ă£o polĂ­tica, fez com que representantes de diversos partidos se reunissem esta semana com o ministro Alexandre de Moraes, futuro presidente da corte, e pedissem a ele medidas concretas para coibir atos de violĂªncia.

Segundo participantes das reuniões ouvidos pelo UOL, Moraes se demonstrou preocupado com o cenĂ¡rio e receptivo ao pedido para que o porte de armas seja suspenso nos dias das eleições deste ano.

Ele assumirĂ¡ a chefia do TSE em agosto, mas estĂ¡ atuando no plantĂ£o da corte eleitoral durante as fĂ©rias do atual presidente, ministro Edson Fachin.

Procurado por meio da assessoria de imprensa do TSE, Moraes nĂ£o se manifestou sobre a reuniĂ£o com os partidos polĂ­ticos.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), relatou que Moraes apontou que vai agir para “prevenir e punir” ações ilegais e casos de violĂªncia. “O ministro foi muito afirmativo nesse sentido”, disse ela.

Ă€ frente da Justiça Eleitoral, Fachin tambĂ©m jĂ¡ se mostrou apreensivo com o crescimento da tensĂ£o neste ano.

Em uma palestra realizada nos Estados Unidos na semana passada, o ministro disse que hĂ¡ risco de o Brasil passar por um episĂ³dio mais grave do que a invasĂ£o ao CapitĂ³lio, ocorrido em janeiro do ano passado, quando apoiadores do entĂ£o presidente derrotado Donald Trump invadiram as dependĂªncias do Congresso para tentar impedir a certificaĂ§Ă£o da vitĂ³ria de Joe Biden. Cinco pessoas morreram.

O TSE vem reforçando o esquema de segurança do prĂ©dio e de seus ministros. Fachin frisou ainda que “o JudiciĂ¡rio brasileiro nĂ£o vai se vergar a quem quer que seja”.

PrĂ©-candidato Ă  reeleiĂ§Ă£o, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenĂ§Ă£o de voto, tem feitos ataques sistemĂ¡ticos e infundados ao sistema de votaĂ§Ă£o por urnas eletrĂ´nicas e aos ministros.

O encontro com representantes das legendas logo apĂ³s o assassinato de Arruda mostra, segundo polĂ­ticos ouvidos pela reportagem, que Moraes deve adotar uma postura “mais dura” Ă  frente do tribunal em relaĂ§Ă£o ao ciclo eleitoral de 2020, quando LuĂ­s Roberto Barroso presidia o TSE.

Naquele ano, Barroso disse que assassinatos por motivaĂ§Ă£o polĂ­tica nĂ£o eram um problema do TSE.

Por lei, assassinatos polĂ­ticos, assim como qualquer homicĂ­dio, devem ser coibidos e investigados pelas polĂ­cias e pelo MinistĂ©rio PĂºblico e punidos pela Justiça comum.

O procurador-geral da RepĂºblica, Augusto Aras, disse ao UOL que “nĂ£o hĂ¡ homicĂ­dio eleitoral”, apĂ³s receber um pedido para federalizar o caso de Foz do Iguaçu. Ele afirmou que deve esperar que as apurações feitas pela PolĂ­cia Civil do ParanĂ¡ sejam concluĂ­das antes de tomar alguma medida.

O deputado Alencar Santana (PT-SP), um dos participantes do encontro com Moraes, disse Ă  reportagem que o ministro demonstrou-se “bastante preocupado” com os episĂ³dios de violĂªncia registrados no paĂ­s e afirmou aos polĂ­ticos que “o tribunal vai agir com todo rigor para combater qualquer ameaça”. Os partidos sugeriram que o TSE faça uma campanha pela paz nas eleições.

Leia mais

Extrema-direita aumentou em 300% ataques ao STF e TSE nas redes

No domingo, horas depois da morte do militante petista, Moraes afirmou, nas redes sociais, que a intolerĂ¢ncia e a violĂªncia sĂ£o “inimigos da Democracia” e que o respeito a livre escolha Ă© algo que deve ser defendido por “todas as autoridades”.

Aumento de casos de violĂªncia polĂ­tica

O caso do homicĂ­dio em Foz do Iguaçu nĂ£o Ă© novidade na polĂ­tica brasileira. Um levantamento feito pelo ObservatĂ³rio da ViolĂªncia PolĂ­tica e Eleitoral, formado por pesquisadores do Giel (Grupo de InvestigaĂ§Ă£o Eleitoral) da Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mostra que o nĂºmero de casos de violĂªncia contra lideranças polĂ­ticas jĂ¡ Ă© maior na primeira metade deste ano do que no mesmo perĂ­odo de 2020.

HĂ¡ dois ano, quando foram realizadas eleições municipais, foram registrados 174 casos nos seis primeiros meses e, em 2022, 214 no mesmo perĂ­odo, um aumento de 23%. O TSE e o MinistĂ©rio da Justiça e Segurança PĂºblica informaram Ă  reportagem que nĂ£o dispõem destes dados.

Casos de ameaça, agressĂ£o, homicĂ­dio, atentado, homicĂ­dio de familiar, sequestro e sequestro de parentes sĂ£o considerados violĂªncia polĂ­tica no levantamento do Giel. Analistas atribuem este aumento, dentre outros fatores, Ă  postura de Bolsonaro, acusado de incitar a violĂªncia em seus discursos.

“NĂ£o hĂ¡ comparações entre a forma pela qual a violĂªncia Ă© mobilizada por Jair Bolsonaro e seus apoiadores e quaisquer outros atores polĂ­ticos desde a redemocratizaĂ§Ă£o. NĂ£o hĂ¡ nada parecido com o que estĂ¡ acontecendo no Brasil recentemente”, disse Ă  RFI (RĂ¡dio França Internacional) a cientista polĂ­tica e coordenadora do laboratĂ³rio de Partidos, Eleições e PolĂ­tica Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Rural, Mayra Goulart.

Horas apĂ³s o assassinato de Arruda, Bolsonaro publicou nas redes sociais uma mensagem dizendo que dispensa o “apoio de quem pratica violĂªncia contra opositores”.

Na segunda-feira (11), o mandatĂ¡rio disse que considera nĂ£o ter qualquer relaĂ§Ă£o com a morte e relembrou a facada que sofreu durante a campanha de 2018, em Juiz de Fora (MG). “Quando o AdĂ©lio me esfaqueou, ninguĂ©m falou que ele era filiado ao PSOL”, disse o chefe do Executivo federal.

Apesar das desconfianças do presidente, apuraĂ§Ă£o da PF (PolĂ­cia Federal) concluiu que AdĂ©lio Bispo nĂ£o tinha vĂ­nculo com o PSOL na ocasiĂ£o da autoria do crime e agiu sozinho, sem motivaĂ§Ă£o polĂ­tica. Ele foi filiado ao partido entre 2007 e 2014.

Plano de pacificaĂ§Ă£o na campanha e proibiĂ§Ă£o de porte de armas

Conforme mostrou o UOL, os partidos que apoiam a prĂ©-candidatura de Luiz InĂ¡cio Lula da Silva (PT) jĂ¡ começaram a procurar outras legendas para debater um plano de pacificaĂ§Ă£o da campanha eleitoral.

O objetivo Ă© unir prĂ©-candidatos e instituições em torno de uma iniciativa contra a violĂªncia polĂ­tica, que vĂ¡ alĂ©m da frente ampla. O problema Ă© que nem os petistas nem os aliados do presidente acreditam que este adotarĂ¡ um tom mais ameno a ponto de desestimular a radicalizaĂ§Ă£o.

AlĂ©m do assassinato de Arruda, a iniciativa se deu apĂ³s o registro de atos de violĂªncia na campanha petista, como o ataque com bomba no Rio de Janeiro e com um drone em Minas Gerais.

Na reuniĂ£o realizada esta semana, parlamentares apresentaram a Moraes uma representaĂ§Ă£o contra Bolsonaro por discursos de Ă³dio durante a campanha. A aĂ§Ă£o pede Ă  corte que obrigue o mandatĂ¡rio a parar com falas que incitem a violĂªncia sob pena de multa de R$ 1 milhĂ£o. A representaĂ§Ă£o tambĂ©m pede que o presidente seja obrigado a condenar o assassinato de Arruda.

Os partidos pedem ao TSE que adote medidas administrativas “cabĂ­veis” para a garantia de paz e segurança nas urnas. “Em especial para resguardar a integridade de eleitoras, eleitores, colaboradores da Justiça Eleitoral, autoridades pĂºblicas, candidatas e candidatos”, afirmam.

Moraes tambĂ©m recebeu na semana a senadora e prĂ©-candidata Ă  PresidĂªncia Simone Tebet (MDB-MS), que propĂ´s um “pacto de nĂ£o agressĂ£o” entre as campanhas. Ciro Gomes, prĂ©-candidato pelo PDT, disse ser a favor de “qualquer iniciativa que defenda a paz e a normalidade no pleito”.

Leia mais no UOL

Foto: Nelson Jr/SCO/STF