O registro de armas novas no Amazonas cresceu mais de 85% entre 2018 e o primeiro semestre de 2022. Saiu de 319 unidades para 584.
No entanto, o crescimento de registros na Polícia Federal (PF) do estado é ainda maior se for verificado os números de 2021. Foram 1.120 armas de fogo, um aumento de nada menos que 2.510% em relação ao ano de 2018.
A partir desses registros e comparando com a população amazonense, verificou-se que havia, em 2021, 3.812 habitantes por arma.
Os dados foram divulgados pela Folha de S.Paulo, obtido junto à PF a partir de um pedido à Lei de Acesso à Informação (LAI).
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De acordo com a Folha, o registro de armas novas pela Polícia Federal cresceu mais nos estados nos quais o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu no segundo turno das eleições de 2018.
Entre 2018 e 2021, o número de novas armas registradas passou de 39 mil para 163,7 mil nas 16 unidades da federação que preferiram Bolsonaro, uma alta de 320%.
Já nos 11 estados nos quais Fernando Haddad (PT) venceu no segundo turno, o aumento foi de 223%, saindo de 12 mil para 38,8 mil.
A disparidade fica mais evidente quando se analisa o registro de novas armas no primeiro semestre de 2022 em relação à população de cada.
Armas por habitantes
A população dos locais que elegeram Bolsonaro em 2018 soma 145,3 milhões de habitantes, de acordo com a projeção para 2021 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o que significa que em 2022 houve uma arma nova para cada 1.700 pessoas.
Já entre os 68 milhões de habitantes dos estados nos quais Haddad venceu, a relação é de um novo registro para cada 3.600 pessoas.
Ou seja, há duas vezes mais armas por pessoa sendo registradas em 2022 nos estados nos quais Bolsonaro venceu em 2018.
O atual presidente foi ganhador do segundo turno daquelas eleições no Acre, Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Haddad ganhou em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins.
Esses dados sobre os locais onde cada candidato venceu foram fornecidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Destaques
No Distrito Federal, Bolsonaro venceu nos dois turnos da eleição e houve um salto no crescimento de novas armas. A Polícia Federal já liberou mais armas em 2022 que em 2021 nessa unidade da federação. Foram 11.462 contra 9.298 do ano anterior.
Da mesma forma, o fato se repetiu em Minas Gerais e no Mato Grosso, onde o atual presente também venceu a eleição.
Em Minas, os registros de novas armas saíram de 8.784, em 2018, para
24.369 em 2021. E no MT, 722 no ano da última eleição para 14.511 no ano passado.
“Acho natural que onde Bolsonaro tenha mais eleitores tenha maior número de novas armas. Arma de fogo tem sido o único discurso do presidente, essas pessoas estão cumprindo o comando dado pelo líder delas”, avalia Ivan Marques, advogado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Armas no Norte
De acordo com os dados da Polícia Federal, obtidos pela Folha por meio da lei da informação, os registros de novas armas nos estados da região Norte ficaram assim distribuídos entre 2018 e 2021:
Acre – 240 – 2.380
Amazonas – 319 – 1.120
Amapá – 363 – 413
Pará – 2.124 – 8.038
Rondônia – 1.000 – 7.102
Roraima – 176 – 1.091
Tocantins – 46 – 2.589
Regras de liberação
No Brasil as armas são liberadas pela PF e pelo Exército. Na força, ficam registradas armas de CAC (caçadores, atiradores e colecionadores), das Forças Armadas e o armamento particular de militares, incluindo policiais e bombeiros.
O porte de arma, por sua vez, é concedido pela Polícia Federal, sendo restrito a determinados grupos, como profissionais de segurança pública, membros das Forças Armadas, policiais e agentes de segurança privada.
O que tem ocorrido é que aos CAC foi permitido carregar a arma no trajeto entre sua casa e o local de prática (clube de tiro ou local de caça), sem restrição de rota ou de horário, o que, segundo especialistas, significa autorização para o porte, dada a subjetividade da regra.
Partido dos CAC
Esses colecionadores de armas, atiradores e caçadores (CAC) não somente fomentaram o aumento do uso de armas no país como também se articulam para eleger uma bancada no Congresso Nacional.
Segundo levantamento do Estadão, há 34 pré-candidaturas a deputado federal, senador e governador de nomes vinculados à Associação Proarmas, a maior da classe.
Além da ambição de formar uma bancada no Congresso Nacional, os CAC também lançaram 23 nomes para os legislativos estaduais e distrital. Também está no plano deles a formação de um partido político.
Esse passo adiante dos CAC para o mundo da política institucional conta com o apoio do presidente Bolsonaro (PL), que tem recebido lideranças e pré-candidatos no Palácio do Planalto para gravar vídeos e tirar fotos.
Com Bolsonaro no poder e sua política pró-armamentista, o total de CAC registrado saltou de 117.467, em 2018, para 673.818 este ano.
O total desse agrupamento supera todos os 406 mil policiais militares da ativa que atuam diariamente pelas ruas do Brasil e também é maior que os efetivo de cerca de 360 mil homens das Forças Armadas.
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