Livro prega a militar do Exército que ianomâmis nem existem, são farsa
A obra foi editada pela Biblioteca do Exército em 1995 e é estudada até hoje

Publicado em: 24/01/2023 às 16:12 | Atualizado em: 26/01/2023 às 11:17
Para muitos oficiais do Exército, a defesa dos grupos ianomâmis não passa de pretexto para que governos estrangeiros ocupem a Amazônia através de ONGs, para tirar a região do controle do Brasil.
Há muitos livros direcionados aos militares que disseminam essas teorias esdrúxulas.
Uma dessas obras foi editada pela Biblioteca do Exército em 1995 e é estudada até hoje. Trata-se de “A Farsa Ianomâmi”, de autoria do coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto. O conteúdo do livro justifica o título: Menna Barreto defende que os yanomamis nunca existiram.
Segundo ele, “o gentílico ianomâmi [é] nada mais que [um] astucioso e torpe artificio imaginado para reunir tribos, grupos e subgrupos diferentes no mesmo conjunto etnográfico e, assim, de forma sutil e bem ao gosto da mídia, mudar o mapa da Amazônia pelos mais ‘nobres’ motivos e sem maiores traumas”.
Para o autor, a agente dessa “criação” seria a fotógrafa suíça, naturalizada brasileira, Claudia Andujar, que teria convencido os indígenas a passar por esse processo de “ianomização”, com o objetivo exclusivo de atender a interesses “alienígenas” (como alguns militares costuma se referir aos estrangeiros).
Menna Barreto relata que tinha conhecido indígenas daquelas áreas entre 1969 e 1971 e só quando voltou ao local, entre 1985 e 1989, os viu se identificarem como yanomamis.
Estudioso de temas relativos às Forças Armadas, o antropólogo Piero Leirner, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), critica a linha de pensamento do autor de “A Farsa Ianomâmi”. “É como se reversamente o indígena estivesse olhando as Forças Armadas e dissesse: ‘não existe isso de Forças Armadas, o que existe ali são três grupos diferentes, já que não se vestem igual, fazem tudo separado,”, ironiza.
Leia mais na coluna de Chico Alves no UOL
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Foto: Reprodução