Vale do Javari: força-tarefa indígena quer retomar Estado brasileiro
Operação contra criminosos na região terá três ministros, Funai e forças de segurança
Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 23/02/2023 às 17:18 | Atualizado em: 23/02/2023 às 17:47
Pela retomada do Estado brasileiro na região do Vale do Javari após abandono de quatro anos pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), três ministros do governo e representante da embaixada britânica, no Brasil, estão confirmados na comitiva que vai ao município de Atalaia do Norte, no Amazonas, na próxima segunda-feira (27).
A convite da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), estarão presentes o ministro da Justiça, Flávio Dino, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida.
A Unijava também convidou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a presidente da Funai, Joênia Wapichana, além do governador do Amazonas, Wilson Lima (União). Até o momento, essas autoridades ainda não confirmaram presença.
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Além dos ministros, as lideranças indígenas do Vale do Javari sugeriram a presença da Força Nacional, da Funai e das forças de segurança do Estado do Amazonas para a realização de uma operação na região.
A força-tarefa em defesa dos povos indígenas terá deslocamentos a partir de Tabatinga, passando por Benjamin Constant,, Atalaia do Norte até a base do rio Ituí-Itacoaí que faz o monitoramento dos povos isolados ou de recente contato.
“O trabalho da força-tarefa é focar todas as ilegalidades que vêm ocorrendo, como narcotráfico, pesca e garimpo ilegais, caça predatória, extração de madeira de forma proibida. Enfim, esse emaranhado de ilícitos dentro da terra indígena Vale do Javari”, explica Eliésio Marubo, procurador jurídico da Unijava.
Governo britânico
O líder indígena informa ainda que será feita a retomada das investigações do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês, Dom Phillips, assassinados em junho de 2022.
De acordo com Eliésio Marubo, ao saber da comitiva que vai ao Vale do Javari, a embaixada britânica procurou a Unijava e manifestou interesse em enviar um representante do governo inglês à região. O jornalista Dom Phillips era cidadão britânico.
Inocência de Bruno
Na ocasião, o ministro da Justiça e a presidente da Funai vão assinar o termo de encerramento e reconhecimento da inocência de Bruno Pereira, perseguido, no governo Bolsonaro, por meio de um processo administrativo na Funai.
Tal processo, criminaliza a conduta ex-indigenista que trabalhava com os povos indígenas. Por conta da demissão da Funai, Pereira se mudou para o Vale do Javari onde foi trabalhar na Unijava. E o trabalho dele, de denunciar madeireiros, pescadores ilegais e garimpeiros, levou ao seu assassinato juntamente com o jornalista Dom Phillips.
UBS indígena
Ainda como parte da programação da comitiva federal, no Vale do Javari, a Unijava vai entregar à Sesai (secretaria especial de saúde indígena uma UBSI – unidade básica de saúde indígena – para atender principalmente os povos isolados e de recente contato da região.
Segundo Eliésio Marubo, o equipamento, estimado em R$ 1 milhão, é uma espécie de balsa fluvial, com fácil deslocamento e mobilidade para qualquer lugar no Vale do Javari.
“Portanto, essa força-tarefa, que a Unijava está propondo, é para o governo Lula, seus ministros e órgãos firmarem compromisso com os povos indígenas, implementar políticas públicas, fortalecer instituições como Ibama, Funai, Sesai, a fim de oferecerem ações, estratégias e suporte financeiro para dar conta a toda a gama de problemas enfrentados pelos povos indígenas do Vale do Javari”, disse o líder indígena da etnia marubo.
Foto: Secom/ Governo do Acre