Aos 62 anos, a empresária Amyris Fernandez escalou os 2.810 metros do Monte Roraima, na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, numa jornada que durou nove dias.
No total, caminhou por cerca de 150 km – parte deles vencidos sob uma sensação térmica de -10°C.
Moradora de São Paulo, a aventureira é ativa nas redes sociais, ministra cursos e produz vídeos com dicas corporativas e um toque de militância. O combate ao etarismo é uma de suas bandeiras. “Não dá para ficar calada diante da injustiça”, diz.
Em sua jornada no Monte Roraima, a travessia foi feita em um grupo de nove pessoas, além de outras 18 atuando no suporte (para carregar equipamentos e preparar as refeições, que incluíam arepas, ovos, carne, macarrão e sopa de legumes). Os banhos ocorriam em cachoeiras geladas, lagos e córregos formados pela água da chuva.
No Monte Roraima não há wi-fi ou esquema de salvamento imediato caso algo dê errado. Em uma situação de fratura exposta, por exemplo, a vítima teria que ser carregada em uma rede, suportando a dor até que o resgate chegasse.
Durante a escalada, obedeceu aos comandos dos guias mesmo que, eventualmente, não entendesse o sentido daquilo – dos tempos em que foi chefe em grandes empresas, aprendeu que as consequências de algumas ações só virão no futuro.
“Sou o melhor soldado que um sargento pode ter”, ela diz. “No Monte Roraima, o ecossistema é pré-cambriano. Não deveria estar pisando naquele terreno, porque não existiam seres humanos na Terra quando o local surgiu. Portanto, o mínimo que se pode fazer é respeitar o que dizem os guias”, afirma.
Amyris decidiu fazer a viagem sem acompanhante – exceto os que conheceu ao longo da travessia.
Durante as caminhadas, os colegas perguntavam se ela não sentia falta de um companheiro. “Vivo em solitude, não em solidão. Converso com muita gente, faço amigos em todo lugar”, diz. Seu último casamento acabou em 2009 e, desde então, ela vive relacionamentos “freelancer”, pois se tornou seletiva. “Se o cara fala uma frase machista, já digo: próximo!”
Na subida, ela diz, carregou o peso de ser uma mulher de mais de 60 anos. “A nossa sociedade machista e etarista gritava na minha cabeça que eu não deveria estar ali. Mas foi só passar pela cachoeira do Passo das Lágrimas, no terceiro dia, que o pensamento se foi. Eu não era uma mulher ou uma velha, era um ser humano me superando”. Na descida, o peso já não a acompanhava. “A Amyris que subiu não voltou mais”, afirma.
Amyris não largou uma vida sedentária em São Paulo e foi direto viver uma aventura na montanha. Ela pratica esportes sete dias por semana “desde que se lembra por gente”. Sempre correu e fez musculação. Recentemente, acrescentou à lista treino funcional, bicicleta e pilates, que lhe dão resistência para fazer uma viagem como a do Monte Roraima.
Para Amyris, moradores das cidades não estão preparados para viver na natureza — têm musculatura atrofiada e incapacidade para ler o ambiente e administrar a energia durante o dia, ela acredita. “Não me espanta que tenhamos tantos casos de burnout: as pessoas estão afastadas de si, longe do ciclo de sono e fome.”
Leia mais na reportagem de Luciana Bugni no Universa/ UOL
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Foto: Reprodução/ UOL