Em julho deste ano o Jornal Nacional, da TV Globo, divulgava que uma quadrilha que operava a partir da penitenciária de Mata Grande, no Mato Grosso. Hoje, dia 23, as polícias desse estado e do Amazonas cumprem 11 mandados de prisão em Rondonópolis e Cuiabá, informou o G1.
Usando celular, presos se passavam por médicos para obter informações de pessoas internadas em UTI de hospitais de vários estados, e então passavam a ligar para os familiares dos pacientes para extorquir e aplicar golpes.
Em Manaus, dez pessoas teriam caído no golpe, segundo a polícia.
Só no Rio de Janeiro, a Polícia Civil investigou o golpe em escutas telefônicas durante cinco meses e constatou que os criminosos usavam chips com o DDD de vários estados.
Nesse período, diz o telejornal, foram mais de 90 mil ligações, que rendia até R$ 200 mil por mês.
Veja como o golpe era aplicado, na transcrição do Jornal Nacional:
Golpista: Aqui quem fala contigo é o doutor Marcelo Arantes, médico e diretor clínico aqui do hospital. Tudo bem?
Vítima: Sim.
Golpista: Eu venho através dessa ligação não para repassar uma boa notícia para vocês familiares.
Vítima: Não! Espera, espera que eu tô chegando aí.
Golpista: Ele não faleceu, calma, mantenha a calma, que eu preciso da senhora calma nesse momento.
O golpista diz que o paciente piorou e precisa de exames com urgência.
Vítima: Pode fazer. Pode fazer, doutor. O mais rápido possível, pelo amor de Deus.
Golpista: Mantenha a calma, por favor. As sete tomografias, incluindo os antibióticos que o paciente vai fazer uso após as tomografias “ficou” no valor de R$ 9.800.
Vítima: Pode fazer.
Golpista: Pode fazer, né.
Vítima: Mas vocês só fazem o procedimento depois de ter efetuado o pagamento?
Golpista: Olha, infelizmente sim.
O falso médico pede um depósito.
Golpista: Vá pra agência bancária e, chegando lá, eu repasso a conta, o senhor efetua o pagamento e venha pro hospital pra gente dar início.
Vítima: Eu não tenho R$ 9 mil na minha conta assim.
Golpista: Qual o valor que o senhor tem de imediato?
Vítima: Eu não sei. Eu não sei, meu amigo.
O discurso é sempre o mesmo, com palavras complicadas.
Golpista: Nós vamos ter que submeter o paciente ainda agora, com extrema urgência, a sete tomografias computadorizadas LKF 3D de última geração. Se não realizar as tomografias ainda agora o paciente pode “vim” a óbito.
Os erros de português chamam a atenção.
Golpista: É uma hemorragia ainda não generalizada, situada próximo “a pâncreas” e ao fígado. O hospital hoje, no imediato, ele não disponibiliza do “amparato” pra estar cobrindo e realizando no ato do imediato como o paciente necessita. Se no decorrer desse prazo esta hemorragia venha a se alastrar ou se “explandir” pelo corpo do paciente, pode ser que venha a ocasionar até uma “multiplica” falência de órgãos.
Algumas vítimas desconfiam.
Vítima: O senhor deve ter me mandado algum dado errado. A conta tá em nome de pessoa física.
Golpista: Isso, mas é da pessoa física. É da doutora Natasha Costa.
E quando os parentes percebem que pode ser um golpe, os bandidos ameaçam.
Vítima: Me dá o nome do senhor e a procedência, faça o favor?
Golpista: O senhor tome as providências do senhor, e assim que o senhor “vim” ao hospital, eu te entrego pessoalmente o atestado de óbito dela.
Para conseguir as informações dos pacientes, os bandidos enganavam os funcionários dos hospitais.
Golpista: É o doutor marcos, minha querida, tudo bom? Confirma pra mim o paciente que se encontra aqui no primeiro leito conosco, na unidade, minha querida, da UTI.
Atendente: Da cardio?
Golpista: Sim, sim.
Atendente: Doutor, eu não tenho autorização pra “mim” ficar passando o nome dos pacientes, não.
Golpista: O nosso sistema aqui está dando falha, está… Pra falar a verdade, eu não tô conseguindo nem prescrever, minha querida.
Atendente: Pois é, mas eu não posso passar esse tipo de informação.
Golpista: Não, mas só confirma pra mim o número do pronto-atendimento dela, minha querida. Você já vai tá me ajudando bastante.
Atendente: A última informação é a que eu posso passar pro senhor.
Reveja a notícia do Jornal Nacional e leia sobre a operação de hoje no G1/Amazonas .
Foto: Reprodução/TV