Ato público no Centro de Manaus pede fim da violência contra a mulher

Mulheres são mais atingidas no combate à pandemia

Publicado em: 26/11/2017 às 01:08 | Atualizado em: 26/11/2017 às 01:08

Cerca de 500 pessoas, segundo dados dos organizadores, participaram de ato neste sábado, dia 25, na Praça da Polícia, Centro de Manaus, pelo Dia Internacional de Combate a Violência Contra as Mulheres. O ato é parte da “Campanha dos 16 dias de Ativismo pelo Fim das Violências contra as Mulheres” no Amazonas..

Segundo informações de uma carta aberta à população feita pelo Fórum Permanente de Mulheres de  Manaus,  que está à frente da campanha, no Estado do Amazonas, os casos de agressão contra as mulheres cresceram 17,4% em 2017 em relação a 2015.

Os 16 dias de ativismo têm como objetivo divulgar informações sobre os vários tipos  de violência a  que as mulheres são submetidas diariamente.

De acordo com uma das dirigentes  do Fórum  Francy Júnior, o maior desafios no combate à violência contra a mulher, é fazer com que  a  vítima perceba a violência antes de situações mais graves.

“Nesses 11 anos de vigência da Lei Maria da Penha ainda temos muitos desafios de curto, médio e longo prazo para resolvermos. Entre eles o que a mulher precisa se perceber como vítima de violência. Estudos apontam que a mulher demora até 10 anos para fazer a primeira denúncia. Ela sempre acha que o companheiro ou a companheira vai mudar e, muitas vezes essa relação chega ao extremo da violência física, cárcere privado e por fim o assassinato”.

Para Francy Júnior,  a violência contra mulheres questiona os limites entre público e privado. “Um dos grandes desafios atuais para o Feminismo é pensar e propor ações para punir e tratar agressores. Apenas encarcerar agressores não é a solução. O apoio as vítimas de violência doméstica também ainda são muito precárias, pois é preciso uma mudança cultural das instituições de Segurança e Justiça”, afirmou.

Francy Júniro disse que o Fórum defende que o poder público deve garantir tratamentos diferenciados a vítimas e agressores para reduzir também os índices de violência sexual.

“A grande vitória acaba sendo o reconhecimento e visibilidade que a Lei Maria da Penha tem hoje no país. Muitas vezes as mulheres nem sabem dizer as modalidades de violência que sofrem, mas sabem que existe uma coisa chamada Lei Maria da Penha.  É isso que nos incita a continuar lutando pelo fim da violência contra as mulheres, pois os números atuais ainda são cruéis”, disse.

Números da violência

Dados divulgados pelo Fórum Permanente das Mulheres de Manaus:

  1. Uma em três brasileiras é vítima de violência. Segundo a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Datafolha: uma a cada três brasileiras com 16 anos ou mais foi espancada, xingada, ameaçada, agarrada, perseguida, esfaqueada, empurrada ou chutada nos últimos 12 meses.
  2.  O assédio é uma das principais formas de violência. O levantamento do Datafolha apontou que 40% das mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de assédio, o que inclui receber comentários desrespeitosos nas ruas (20,4 milhões de vítimas), sofrer assédio físico em transporte público (5,2 milhões) e ou ser beijada ou agarrada sem consentimento (2,2 milhões de mulheres).
  3. A violência contra a mulher é recorrente. Cerca de 66% dos brasileiros presenciaram uma mulher sendo agredida fisicamente ou verbalmente em 2016.
  4. Aumentaram os relatos de estupros. Segundo dados do Ligue 180, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, há um crescimento de 133% no volume de relatos de violência doméstica e familiar em 2016. Entre as denúncias, a central de atendimento identificou aumento de 123% no número de relatos de violências sexuais em relação ao primeiro semestre de 2015. Esse tipo de violência foi puxado principalmente pelos relatos de estupros, que cresceram 147%, chegando a 2.457 casos, com média de 13 registros por dia.
  5. A cultura social brasileira é permissiva com a violência. Apenas no período do Carnaval de 2017, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registrou 2.132 atendimentos a mulheres vítimas de diversos tipos de agressão. A violência física foi principal motivo das ligações de denúncias, 1.136 contatos, seguido da violência psicológica com 671, violência sexual com 109, violência moral com 95, cárcere privado com 68, violência patrimonial com 49 e tráfico de pessoas com 4 atendimentos. Os atendimentos relativos a relatos de violência sexual tiveram um aumento de 87,93%, quando comparamos com o Carnaval de 2016.
  6. Mulheres negras estão morrendo mais. Segundo levantamento do Atlas da Violência 2017, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), enquanto a mortalidade por homicídio de mulheres não negras (brancas, indígenas e amarelas) caiu 7,4% no período analisado (passando para 3,1 mortes para cada 100 mil mulheres), a mortalidade de mulheres negras teve um aumento de 22%, chegando à taxa de 5,2 mortes para cada 100 mil. Esse é um número que está acima da média nacional de mulheres assassinadas, que é de 4,5 mortes para cada 100 mil habitantes. Outro dado também traz alerta sobre a vulnerabilidade desse grupo: o índice de negras que já foram vítimas de agressão subiu de 54,8% para 65,3% entre 2005 e 2015.
  7. Os registros policiais ainda ignoram o machismo. Apenas 36% dos crimes contra mulheres entre março de 2015, data de promulgação da Lei do Feminicídio, e dezembro de 2016, noticiados classificam a violência contra a mulher pela sua condição de gênero. O número é um dado preliminar da pesquisa ‘Feminicídio como violência política’, do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher (Nepem) da Universidade de Brasília.
  8. As mulheres são agredidas quando as delegacias especializadas estão fechadas. É o que mostra levantamento feito pelo jornal Agora, baseado em mais de 200 mil boletins de ocorrência registrados por vítimas na capital do estado de São Paulo entre 2010 e maio deste ano. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação confirmam aquilo que quem lida com a violência doméstica já sabe: 4 em cada 10 casos ocorreram à noite, quando vítima e agressor se encontram em casa. E o domingo foi o dia da semana com maior incidência, com uma em cada cinco agressões.
  9.  Apenas a Bahia teve 23 mil casos de violência contra mulheres registrados no primeiro semestre de 2017. Os dados, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, mostram que do número total de ocorrências, foram registrados 23 casos de feminicídio e 150 casos de homicídios dolosos, quando há intenção de matar. No mesmo período, também foram contabilizadas 174 tentativas de homicídios, 242 estupros, 7.582 lesões corporais e 15.270 ameaças.
  10.  Em Manaus o índice de violência contra a mulher aumentou 17,4% no período de dez meses, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). Os dados estatísticos são relativos ao período entre janeiro a outubro de 2016 em comparação com o ano de 2015. Entre os tipos de agressões mais frequentes está a ameaça. De acordo com a SSP, até outubro de 2016,  oram registrados 12.844 casos. Em 2015, foram 10.939 registros. Os tipos de agressões mais frequentes foram ameaça, injúria e lesão.

 

A campanha
No dia 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana.

As três combatiam fortemente aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício, estrangulados, com os ossos quebrados.

As mortes repercutiram, causando grande comoção no país. Pouco tempo depois, o ditador foi assassinado.

Em 1999, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas instituiu 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em homenagem às “Mariposas”.

Ou seja, durante um dia no ano, incitam-se reflexões sobre a situação de violência em que vive considerável parte das mulheres em todo o mundo.

No Brasil, o 25 de novembro é acompanhado pela Campanha dos 16 dias de ativismo que acontece desde 2003 e, para destacar a dupla discriminação vivida pelas mulheres negras. “As atividades aqui começam em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, por entendermos que as mulheres negras são as que estão na base da pirâmide social e, por conta disso, são as maiores vítimas da violência de gênero”, afirma Francy Júnior, um das organizadoras do movimento no Amazonas.

 

Sobre o Fórum

O Fórum Permanente das Mulheres de Manaus surgiu em 2006 a partir da necessidade do movimento de mulheres de articular os diversos movimentos e grupos de mulheres da cidade.

De acordo com as organizadoras, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus é o espaço político de reflexão, organização e articulação de um coletivo baseado nos princípios feministas.

O Fórum tem como bandeiras a luta contra o racismo, a homofobia, lesbofobia, o machismo, sexismo, a intolerância religiosa e contra as mazelas do capitalismo.

As organizadoras do movimento apontam como objetivo do Fórum articular, fortalecer e fomentar a luta pela efetivação dos direitos das mulheres e a implementação de políticas públicas para mulheres. Denunciar as diversas formas de violação aos direitos humanos das mulheres.

Texto e Fotos: Divulgação/Fórum Permanente de Mulheres de Manaus