8 de janeiro: Bolsonaristas presos dizem que golpe evitaria comunismo
Inspirados em afirmaรงรตes falsas, planejavam esperar sentados nos prรฉdios atรฉ que fosseย anunciada uma "soluรงรฃo militar"ย contra a posse deย Lulaย

Ferreira Gabriel
Publicado em: 02/07/2023 ร s 18:25 | Atualizado em: 02/07/2023 ร s 18:25
Bolsonaristas presos naย invasรฃo ao Palรกcio do Planalto, em 8 de janeiro, nรฃo sabiam diferenciar qual sede pertencia a qual Poder.
Alรฉm disso, inspirados em afirmaรงรตes falsas, planejavam esperar sentados nos prรฉdios atรฉ que fosseย anunciada uma “soluรงรฃo militar”ย contra a posse deย Lulaย (PT).
Os relatos estรฃo espalhados em dezenas de depoimentos dados ร Polรญcia Civil do Distrito Federal nos dias 8 e 9 de janeiro e entregues ร ย CPI do Congresso que investiga os atos antidemocrรกticos.
As falas comprovam que o objetivo dos radicais era incitar asย Forรงas Armadasย a darem um golpe contra a democracia, diante da vitรณria de Lula na corrida presidencial contraย Jair Bolsonaroย (PL).
Apesar de poucos bolsonaristas citarem o nome de Bolsonaro nos depoimentos, os vรขndalos afirmavam que o incentivo para o golpe seria a desconfianรงa sobre o resultado proclamado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) โestรญmulo causado apรณs uma sรฉrie de ataques ao sistema eleitoral realizada pelo ex-presidente.
Cibele da Piedade Mateos, 60, moradora de Sรฃo Paulo, foi uma das mulheres detidas no Palรกcio do Planalto. Ela conta que viajou a Brasรญlia de graรงa, na vรฉspera dos ataques, em uma excursรฃo cujo organizador ela diz desconhecer.
A mulher nega que tenha depredado qualquer patrimรดnio dos palรกcios. Ela disse aos policiais que somente entrou no “prรฉdio da rampa que nรฃo sabe o nome” porque militares lanรงaram gรกs de pimenta contra os bolsonaristas que estavam nos arredores do prรฉdio.
“O objetivo era apenas ocupar os prรฉdios, sentar e esperar atรฉ โvir uma intervenรงรฃo militarโ para nรฃo deixar o Lula governar”, disse Cibele, segundo o relato do delegado Jorge Teixeira de Lima.
“[A intenรงรฃo] era apenas ocupar os prรฉdios, sentar e esperar atรฉ [a] โsoluรงรฃo dos militaresโ para resolver o problema da eleiรงรฃo. Que โfoi para ruaโ porque nรฃo acreditou no processo eleitoral”, disse Jucilene do Nascimento, 58.
Moradora de Palhoรงa (SC), ela chegou ao QG do Exรฉrcito, em Brasรญlia, em 6 de janeiro, numa excursรฃo que custou cerca de R$ 300. Ela havia levado somente R$ 20 em espรฉcie para “uma emergรชncia”. “A alimentaรงรฃo era doada dentro das barracas”, explicou.
Rosely Monteiro, 53, deixou o pequeno municรญpio de Colรญder (MT), de 32 mil habitantes, para participar das manifestaรงรตes em Brasรญlia inspirada em uma sรฉrie de afirmaรงรตes falsas sobre o que a vitรณria de Lula poderia representar ao paรญs.
“Que veio para Brasรญlia para protestar contra o novo governo, para tentar salvar o Brasil de um governo que quer acabar com a famรญlia, pela proteรงรฃo das geraรงรตes futuras, pela manutenรงรฃo das igrejas, para proteger seus filhos e netos, para impedir as mulheres e crianรงas de se tornarem escravas sexuais”, disse Rosely em relato feito pela Polรญcia Civil.
Monteiro viajou a Brasรญlia de carona com um desconhecido e chegou na vรฉspera do Rรฉveillon. Ficou acampada em frente ao QG do Exรฉrcito, com R$ 300, mas nรฃo precisou gastar com alimentaรงรฃo porque recebia as refeiรงรตes de graรงa.
“Que via vรกrias pessoas quebrando e danificando objetos dentro do Palรกcio do Planalto e disse para nรฃo quebrarem nada, mas nรฃo a ouviram”, defendeu-se, segundo o relato do delegado Marcelo Mesquita.
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Foto: Marcelo Camargo/Agรชncia Brasil