Macapá e Porto Velho estão na mostra “Juízas Negras para Ontem”

As ruas do país ganharam obras de arte que alertam sobre a importância de ter uma mulher negra como ministra no Supremo Tribunal Federal

Macapá e Porto Velho estão na mostra “Juízas Negras Para Ontem”

Antonio Paulo

Publicado em: 14/09/2023 às 19:02 | Atualizado em: 14/09/2023 às 23:54

Sem a presença de artistas de Manaus, duas capitais da região Norte – Macapá e Porto Velho – integram a mostra “Juízas Negras Para Ontem”.

Com gravuras de Sereia Carangueijo, do Amapá, e Marcela Bonfim, de Rondônia, a exposição urbana começou nesta quarta-feira (13) em mais da metade das capitais brasileiras.

As ruas do país ganharam obras de arte que alertam sobre a importância de ter uma mulher negra como ministra no Supremo Tribunal Federal (STF).

Isso porque o presidente Lula da Silva deverá indicar o novo ministro ou ministra do STF na vaga a ser aberta pela atual presidente Rosa Weber.

Nesta quinta-feira (14), informações de bastidores deram conta de que Lula se inclina a cada dia a indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino.

Há também um movimento na sociedade para que o presidente da República nomeie uma mulher indígena para o cargo. Sendo a presidente da Funai, Joenia Wapichana, o nome mais cotado.

Dessa forma, a mostra “Juízas Negras Para Ontem”, convidou 24 artistas negros a produzirem cartazes que estão sendo distribuídos pelas cidades.

Negros ausentes

Nunca um presidente da República nomeou uma mulher negra para o STF.

De acordo com a coordenação da exposição, a mais alta corte brasileira tem permanecido majoritariamente masculina e branca desde sua instalação, em 1891.

Assim, nesses 132 anos de existência, o STF teve apenas três ministros negros e três ministras, sendo mulheres brancas, com uma população de 56% de brasileiros se autodeclarando negros, segundo o IBGE.

Segundo a direção do movimento, essa desigualdade de raça e gênero no Supremo reproduz o que se vê no sistema judiciário brasileiro como um todo: apenas 7% dos magistrados de primeira instância e 2% na segunda instância são mulheres negras.

Obra da artista plástica Marcela Bonfim, de Rondônia

Justiça

“Ter uma mulher negra no STF é uma questão de Justiça. Portanto, ocupar esse espaço de poder é uma ação de enfrentamento de injustiças históricas e um passo na reparação”, diz a diretora de arte e curadora da mostra, Nina Vieira.

Para ela, não faz sentido que a suprema corte do poder judiciário nacional não tenha representação equivalente ao que é o povo brasileiro visto que, desde o período colonial, o Brasil mantém a subalternização e excludência de pessoas negras.

“As obras que integram esta mostra não deixam dúvidas que existe uma demanda pulsante na sociedade por mais igualdade de raça e gênero no STF”, completa Nina.

Motivação

Com exposição de sua obra na praça Veiga Cabral, em Macapá (AP), a artista transgênero, Sereia Carangueijo, falou ao BNC sobre a motivação do seu trabalho.  

“O maior motivo é se ver naqueles espaços, mesmo sendo só uma pessoa que vá ocupar, que seja convidada, mas seja uma mulher racializada, miscigenada, uma pessoa negra”, diz.

Para a artista amapaense, é muito importante essa presença principalmente para mostrar às crianças negras que também podem chegar lá.

“É criar uma autoestima dentro da população negra e fortalecer essas pessoas que já sofrem tanto com as micro violências ou violências escancaradas e diárias que a gente sofre durante a nossa existência”, finalizou Sereia Carangueijo.

Todas as obras da mostra “Juízas Negras para Ontem” podem ser conferidas e baixadas também no site da exposição.

Gravura da artista Sereira Carangueijo, do Amapá

Foto: Divulgação