Seca suspende tráfego de navios; ZFM fora da black friday
Três empresas de cabotagem emitiram comunicado de restrição de navios no rio Amazonas por causa da estiagem . Balsas surgem como solução

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 11/10/2023 às 18:57 | Atualizado em: 13/10/2023 às 12:44
Os desastres e prejuízos da seca de 2023, a terceira maior da história do Estado do Amazonas, estão longe de arrefecer. Nos últimos dias, pelo menos, três empresas de transporte de cabotagem emitiram comunicado sobre restrição de navios no rio Amazonas.
Dessa forma, a restrição e suspensão do tráfego de navios de grande calado vão impedir a entrada de insumos e descarga de produtos acabados da Zona Franca de Manaus (ZFM). Isso porque o nível do rio na foz do Amazonas e na Costa do Tabocal está muito baixo.
Com isso, fatalmente, produtos oriundos da indústria do Estado do Amazonas poderão não chegar ao mercado nacional a tempo das vendas na black friday, no final de novembro. E isso pode se estender até mesmo no Natal. Entre os principais produtos estão TVs, celulares e ar-condicionado,
A previsão preocupante é do presidente da Associação Brasileira Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani), Dodó Carvalho.
“É verdade que a cabotagem, que chega até Manaus, está comprometida. Isso porque o nível dos rios na foz do Amazonas e Costa do Tabocal está muito baixo. Por isso, os produtos que estão nos navios de carga, trazendo insumos ao polo industrial, estão ancorando nos portos de Suape (PE), Pecém (CE) e Vila do Conte (PA). Logo, tem comprometimento também a saída dos produtos da Zona Franca o que vai atingir a black friday e provavelmente se estenda até dezembro, no Natal”, afirma Dodó Carvalho.
Trechos críticos
O novo alerta sobre a navegabilidade no rio Amazonas foi dado pela empresa Mercosul Line, uma das líderes mundiais em navegação e logística. Em comunicado aos clientes, nesta terça-feira (10), a empresa informa que as condições de navegação, em trechos críticos do rio Amazonas, atingiram nível mínimo, impedindo o acesso das embarcações ao porto de Manaus.
“As condições de restrição de navegabilidade são instáveis, o que não nos permite fornecer, com precisão, uma previsão de melhora. Por isso, com o objetivo de garantir a segurança da navegação, da tripulação, do meio ambiente e da carga, informamos que as cargas a bordo dos navios Vera Cruz e Mercosul Itajaí, com destino Manaus, serão descarregadas no porto de Suape (PE), onde aguardarão posterior reembarque para Manaus, ainda sem data prevista”, diz o comunicado.

Instabilidade
A Mercosul Lina avisa ainda que os navios subsequentes também terão suas escalas em Manaus temporariamente suspensas até que as condições de navegabilidade sejam restabelecidas.
“Nesse momento de grande instabilidade, queremos assegurar a manutenção da cadeia produtiva e oferecer opções para continuar carregando as cargas de e para Manaus. Dessa forma, as cargas serão armazenada nas unidades em trânsito até que haja restabelecimento das condições de navegação no rio Amazonas. Com posterior continuação de viagem até o destino final”, diz o informe.
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Porto Chibatão
Da mesma forma, o porto Chibatão, um dos grandes da América Latina, também comunicou os clientes e parceiros nesta terça-feira. Diz que recebeu a informação extraoficial que a Manaus Pilots, Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia restringiu temporariamente a entrada de navios em Manaus.
“Nesse momento, não há uma estimativa do que será feito e os armadores estão analisando todas as possibilidades. Continuaremos monitorando e manteremos todos informados”, diz a nota do Chibatão.
Dragagem
Segundo o presidente da Associação Brasileira Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani), Dodó Carvalho, as restrições e suspensão da navegabilidade no Amazonas acontecem porque a promessa do governo federal, de dragagem desse trecho, ainda não começou. A previsão de recursos é de R$ 138 milhões.
Dodó Carvalho ressalta ainda que a dragagem iniciou no alto Solimões, na fronteira com Peru e Colômbia. Isso para atender municípios como Benjamin Constant e Tabatinga. “O que é justo, pois, a dragagem vai ajudar a navegabilidade para levar suprimentos aos ribeirinhos daquela região”, disse.
No entanto, o diretor-presidente da CNN (Companhia Norte de Navegação) reforça a necessidade de realizar o quanto antes a dragagem na foz do rio Amazonas e Costa do Tabocal. Pois, assim, a obra vai prevenir esses transtornos e prejuízos no verão de 2024.
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Transporte de balsa
Porém, enquanto a dragagem não inicia, os rios não comecem a encher e os navios de grande calado (6,8 metros) voltem a trafegar pelo Amazonas, a solução vem do transporte de balsas.
Embora o volume de carga das balsas seja entre 5% e 10% de um navio, de acordo com Dodó Carvalho, é esse tipo de transporte que impedirá o total isolamento do Amazonas, por via fluvial, com outros mercados.
As balsas são embarcações que operam em rampa flutuante, geralmente, com 88 metros de comprimento, 18,50m de boca, 2,5 metros de calado e capacidade (TPB) de 2.500 toneladas.
Além disso, o tempo de transporte das balsas será maior principalmente pelo nível dos rios. Uma viagem de Manaus a Porto Velho, que hoje tem duração de oito dias, está sendo feita em 15. Já o trajeto Porto-Velho-Manaus, antes de quatro dias, agora, são oito dias de viagem.
Sem informação
O BNC procurou o Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) para falar sobre os impactos na produção da Zona Franca de Manaus (ZFM). Isso, por conta da estiagem e suspensão do tráfego de navios na entrada e saída dos produtos.
Assim como saber se essas restrições vão mesmo afetar a venda de TV, celulares, ar-condicionado e outras mercadorias na black Friday de novembro e no Natal.
Por meio da assessoria de imprensa, o Cieam disse que até agora não tem informações e dados fechados sobre a questão. Prometeu, no entanto, agilizar, junto às empresas associadas, a busca de dados.
Fotos: divulgação