A esplanada dos ministérios, na capital do Brasil, amanheceu, nesta terça-feira (07/11), envolvida pelo protesto dos sindicalistas do Amazonas que saíram de Manaus na caravana da BR-319.
A principal reivindicação é asfaltamento dos 405 quilômetros do trecho do meio da chamada rodovia da integração, que liga Manaus/AM a Porto Velho/RO.
Dessa forma, as dezenas de banners pregados nos postes da esplanada mostram frases e palavras de ordem que reflete bem o tom da pressão política do protesto dos sindicalistas.
Em frente ao Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, o cartaz traz a seguinte frase:
“Ministra Marina Silva, o Amazonas implora; libere a BR-319 Já!”
Há ainda outro dizer, direcionado ao presidente da República:
“Presidente Lula, os rios secaram e o Amazonas precisa da BR-319 Já!”.
Ou então: “O Amazonas também é Brasil. Queremos a rodovia BR-319”.
Por fim, a frase que mais tem sido repetida pelos sindicalistas da caravana:
“Não se combate o desmatamento sem estradas. Reconstruam a BR-319 Já!”.
Além do protesto na esplanada dos ministérios, os membros da caravana articulam, em Brasília, audiências com ministros do governo Lula da Silva, como Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Renan Filho (Transportes) e Marina Silva (Meio Ambiente).
Licenciamento
Quem acompanha essa disputa político-ambiental, sobre o asfaltamento da BR-319, sabe que o principal entrave (ou desculpa) é o licenciamento ambiental.
Fala-se também, como a própria Marina Silva costuma repetir, que a obra poderá contribuir imensamente para aumentar o desmatamento na região, invasões e grilagem de terra.
O Ibama concedeu a licença ambiental prévia 672, em julho de 2022 ao Dnit para o trecho do meio de 405 Km. Agora, aguarda o atendimento das condicionantes cujo relatório está em elaboração pelo órgão e demais envolvidos, conforme legislação em vigor.
No entanto, especialistas em logística e conhecedores da questão, têm argumentos contrários a essas teses. Um deles é o economista e consultor de logística, Luiz Antônio Pagot.
Ele também acumula experiência sobre a BR-319 porque foi diretor geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) entre 2007 e 2011. Portanto, no segundo período em que o ex-senador Alfredo Nascimento, pelo Amazonas, foi ministro de Transporte.
Culturas temporárias
De acordo com Pagot, a BR-319 cruza uma imensa bacia aluvial que durante seis meses por ano fica alagada, outros três meses úmida e três meses de relativa seca. “Portanto, é uma área que não se presta a cultivos de culturas temporárias”.
Além disso, diz o ex-diretor do Dnit, a formação florestal, exceto em algumas nesgas de terra, é pobre e a média de vida das árvores maiores é de 12 anos, com apodrecimento precoce, portanto, nem para madeireiros a região tem serventia.
Por outro lado, o leito original da BR-319, cujo asfaltamento foi concluído em 1972, está em estado razoável, necessitando ser realizado uma restauração, incorporação de algum material de jazida e um novo pavimento.
E ainda construir as pontes do trecho, em concreto, refazer todas tubulações de drenagem, preferencialmente em seções quadradas, para permitir o melhor fluxo e contrafluxo das águas nas inundações sazonais.
Rodovia exequível
Logo, a BR-319, na visão de Pagot, é uma rodovia perfeitamente exequível visto que todas as áreas lindeiras (limite físico ou imaginário) já são áreas de preservação ambiental, indígenas, reservas da biosfera ou parques estaduais. Basta, portanto, limpar a vegetação lateral e fazer a restauração da rodovia.
Por conta disso, o economista e consultor em logística pergunta:
“Então: porque não se executa [o asfaltamento da BR-319]? Por pura teimosia da [ministra] Marina Silva e outros atores no governo, agindo numa ideologia descabida e só contra o governo do Amazonas”.
Leia mais
Pagot lembra ainda que, quando estava no governo (2007-2011), no Acre, rasgou-se 550 km de floresta, com 80 metros de largura para pavimentar da capital Rio Branco até Cruzeiro do Sul. Isso com a complacência da ministra Marina Silva.
Ligações essenciais
Nesse debate, há ainda a colaboração do economista, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), consultor de empresas e especialista em Zona Franca de Manaus, Juarez Baldoino da Costa.
Em recente artigo “BR-319: licenciamento pode ser agilizado”, publicado no Jornal do Commercio do Amazonas, edição de 4 de novembro, Costa afirma:
“A falta de ligação entre a margem direita e a esquerda do rio Solimões vai atrofiar o trânsito. O traçado da rodovia considerava a travessia de balsa, em Manaus, para uma demanda da década de 1980, com uma distância de 10 km até a margem”.
E prossegue:
“No entanto, 43 anos depois, e com a magnitude projetada de Manaus, a rodovia vai atrofiar o trânsito se não houver uma ligação por ponte. Esta ponte, que pode ser até ligando a margem direita do rio Solimões ao município de Manacapuru, com o desvio da BR-319, deveria estar com o licenciamento no mesmo cronograma do licenciamento dos 405 km.
É preciso, portanto, que haja ações de imediato neste sentido, o que não se observa existir”,
Enfim, afirma o amazonólogo Juarez Baldoino da Costa, é possível colaborar com a agilização da ligação rodoviária efetiva Manaus-Porto Velho. Escolher como, é fundamental.
Leia a íntegra do artigo no Jornal do Commercio .
Foto: BNC Amazonas