Invasores de terra ianomâmi filmam e chamam isolados de canibais
Vídeo no TikTok prova que garimpeiros, traficantes e outros invasores continuam agindo com bastante tranquilidade

Publicado em: 17/11/2023 às 21:45 | Atualizado em: 17/11/2023 às 21:45
Um vídeo publicado no TikTok mostrou um sobrevoo ilegal na comunidade dos indígenas Moxihatëtë, considerados isolados. O vídeo de 30 segundos mostra os isolados em volta das casas comunitárias e duas pessoas narrando ao fundo.
A publicação fez com que a Associação Urihi Ianomâmi cobrasse providências de órgãos federais na última segunda-feira (13).
Os Moxihatëtë vivem em uma área na região da Serra da Estrutura, na Terra Ianomâmi. Eles vivem em total isolamento, sem contato com outros indígenas ou não indígenas, e sobrevivem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta.
O vídeo foi publicado na rede social na segunda-feira (13) e deletado no mesmo dia. A legenda da publicação chama os isolados de “índios canibais em Roraima”. Os indígenas estão em volta das casas comunitárias enquanto os invasores realizam o sobrevoo.
“Ó as fechas voando fio [sic]. Pra quem nunca viu, vou vazar. Ei, bando de viado [sic] Ó a flecha, ó. Olha lá os canibal [sic]”, dizem duas pessoas enquanto riem durante a gravação – os indígenas Yanomami não são canibais.
O coordenador Político de Saúde Indígena da Hutukara Associação Ianomâmi (HAY) reforçou, em entrevista à Rede Amazônica, que não existe canibalismo no território Ianomâmi e que precisa ser respeitado o isolamento e modo de vida dos Moxihatëtë. Por segurança, ele pediu para não ter o nome publicado na reportagem.
“É o modo de viver é deles, o costume deles, ninguém vai interferir, ninguém vai atrapalhar a moradia deles. Eles ficam ali andado aos arredores das serras. Os invasores têm que respeitar, não falar besteira, não jogar nas redes sociais, chamando de canibal. Na Terra Indígena Ianomâmi não existe pessoas que comem gente. Isso é mentira. A gente fica com muita raiva [quando ouve isso]. Eles falando besteira. A gente te que respeitar cada um, as suas crenças, costumes, onde vivem. Os invasores têm que respeitar os Moxihatëtëa”, disse.
O ofício, assinado pelo presidente da associação Urihi Júnior Hekurari, pediu providências da Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério dos Direitos Humanos e Exército Brasileiro.
No documento, a associação destaca o êxito nas operações de combate ao garimpo ilegal, mas ressaltou a demora para que elas ocorram em áreas isoladas da Terra Ianomâmi. Por conta disso, denunciou o risco de genocídio que os Moxihatëtë enfrentam.
“O garimpo na Terra Ianomâmi ganha contornos ainda mais sensíveis, tendo em vista o risco de dizimação ou genocídio do grupo isolado, sendo imprescindível que as agências federais, conjuntamente com a atuação de coordenação, articulação e cooperação da União Federal, mobilize forças de comando e controle de diferentes ministérios (Ministério da Justiça, Ministério da Defesa) para apoio ao exercício de poder de polícia ambiental e socioambiental requerido”.
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Foto: Reprodução