A frase “os rios são as melhores estradas da Amazônia”, repetida reiteradas vezes para mostrar a importância do abundante recurso hídrico para a economia da região e para a vida simples das pessoas que ali vivem, não é uma verdade de valor pleno.
Por exemplo, para o governo federal, não é. Trata-se de um argumento falacioso, sim!
O governo federal tem usado essa meia verdade para se negar a investir no setor de transportes da região.
Se considerasse mesmo que os canais fluviais são estradas, direcionaria investimentos para que os rios fossem navegáveis o ano inteiro, mesmo em período de seca histórica, como a que sofreu o Amazonas e outros estados amazônicos. Portanto, teriam recursos igualmente às rodovias bancadas pelo dinheiro público.
Veja-se, pois, o que aconteceu na segunda-feira (04/12) com o navio petroleiro Minerva Rita, na região do Tabocal, no rio Amazonas.
Pode-se discutir a imperícia da praticagem ao conduzir o cargueiro pelo local, porém, há uma questão mais ampla que deve ser suscitada.
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No caso, a responsabilidade da União pela navegação fluvial.
As estradas terrestres não são sinalizadas? Quando há um trecho em obra, não há preocupação em informar ao motorista a situação?
Então, por que o governo federal não tem esse mesmo cuidado com as estradas-rios?
O trecho do rio Amazonas em que o navio encalhou é um pedral conhecido pelos navegadores da região, na costa do Tabocal. Contudo, sem qualquer sinalização da autoridade fluvial, o acidente foi inevitável.
Isso, na verdade, é mais um exemplo de que a região amazônica, no geral, recebe tratamento discriminatório do poder central. As promessas são fartas, mas o agir, a prática, é escassa.
Em síntese, sempre que alguém do governo federal disser que os rios do Amazonas são nossas estradas, desconfie. É apenas meia verdade, com muita chance de ser uma mentira inteira.
Foto: divulgação