Crédito de carbono: projetos em Lábrea são acusados de ‘lavagem’ de madeira

Investigadores descobriram discrepâncias significativas entre o volume de madeira declarado e o estimado, sugerindo uso fraudulento de documentos.

Crédito de carbono: projetos em Lábrea são acusados de ‘lavagem’ de madeira

Diamantino Junior

Publicado em: 22/05/2024 às 12:05 | Atualizado em: 22/05/2024 às 12:05

Dois grandes projetos de carbono na Amazônia brasileira, utilizados para a venda de créditos de carbono a empresas como Gol, Nestlé, Toshiba e PwC, estão sob investigação por suspeitas de lavagem de madeira ilegal. A conclusão é do Centro para Análise de Crimes Climáticos (CCCA, na sigla em inglês), organização sem fins lucrativos especializada em investigações ambientais.

O CCCA investigou dois projetos REDD+ no município de Lábrea, Amazonas: Unitor e Fortaleza Ituxi, que juntos cobrem uma área de 140.862 hectares. As investigações foram motivadas por uma denúncia anônima, revelando a participação de indivíduos condenados por lavagem de madeira. Análises anteriores realizadas por autoridades brasileiras já haviam identificado indícios de atividades ilegais nas áreas investigadas pelo CCCA, resultando na condenação do dono de uma das empresas envolvidas.

Discrepâncias

Utilizando tecnologia de imagens de satélite, o CCCA identificou discrepâncias significativas entre o volume de madeira declarado e o estimado. No projeto Fortaleza Ituxi, apenas 35% da área autorizada foi explorada de 2018 a 2019, resultando em uma estimativa de 48.588 m³ de madeira extraída.

No entanto, os proprietários declararam ao Ibama a extração de 104,7 mil m³, mais que o dobro do volume estimado. Essas discrepâncias sugerem que mais de 4,2 mil caminhões de madeira podem ter sido lavados através desses projetos.

Reação das empresas

O Grupo Ituxi, responsável pelos projetos, negou qualquer envolvimento em atividades ilegais, afirmando que todas as suas iniciativas são auditadas e verificadas. Empresas que compraram créditos de carbono dos projetos também reagiram. A Moss, intermediária na venda de créditos para a Gol, declarou que todas as transações foram auditadas. A Gol, iFood, Itaú e outras empresas afirmaram ter realizado processos de devida diligência antes da compra dos créditos.

Impacto

Os projetos de Stoppe venderam milhões de créditos de carbono, gerando lucros significativos. Em resposta às investigações, Stoppe e seus associados afirmaram que as imagens de satélite não são suficientes para avaliar os volumes reais de extração de madeira. As auditorias e verificações feitas por empresas como a Verra, uma das maiores certificadoras do mercado de carbono, estão sendo questionadas.

As revelações sobre a possível lavagem de madeira através de projetos de carbono na Amazônia destacam a necessidade de maior transparência e fiscalização no mercado de créditos de carbono.

As investigações em andamento podem levar a mudanças significativas na regulamentação e na credibilidade desse mercado, impactando tanto as empresas envolvidas quanto as estratégias globais de combate às mudanças climáticas.

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Fotos: fotospúblicas