RS: Ă© hora de falar dos culpados – O agronegĂ³cio

O artigo destaca: "agronegĂ³cio Ă© o principal responsĂ¡vel pela destruiĂ§Ă£o do meio ambiente no Brasil." | LĂºcio Carril explica

RS: Ă© hora de falar dos culpados - O agronegĂ³cio

Por LĂºcio Carril*

 

Publicado em: 28/05/2024 Ă s 10:15 | Atualizado em: 28/05/2024 Ă s 10:15

O agronegĂ³cio brasileiro Ă© perverso por natureza. Desde o inĂ­cio da colonizaĂ§Ă£o, a concentraĂ§Ă£o de terras e o uso inadequado das Ă¡guas e do solo massacram e destroem os bens naturais.

Hoje, a emissĂ£o dos gases de efeito estufa no Brasil, cerca de 75% decorrem da atuaĂ§Ă£o do agronegĂ³cio, com grande preponderĂ¢ncia na agropecuĂ¡ria bovina.

A monocultura, a pecuĂ¡ria e o uso intensivo de mĂ¡quinas levam ao esgotamento de nutrientes, compactaĂ§Ă£o e erosĂ£o do solo, alĂ©m de causar mudanças prejudiciais ao ciclo das Ă¡guas. Para cada quilo de carne produzido Ă© gasto 15.400 litros de Ă¡gua. A exploraĂ§Ă£o desse manancial hĂ­drico ameaça o lençol freĂ¡tico e os rios.

O agronegĂ³cio Ă© destruidor, seja do meio ambiente ou da economia.

SĂ³ com a isenĂ§Ă£o fiscal da soja, o Brasil deixa de arrecadar por ano cerca de 57 bilhões de reais, enquanto a cesta bĂ¡sica tem um desconto estimado em 30 bilhões.

Em 2022, a receita federal deixou de cobrar 101 bilhões de imposto de renda do agronegĂ³cio, que tambĂ©m Ă© livre do pagamento de ICMS sobre suas exportações.

É uma verdadeira farra com apoio do Estado, que ainda destina bilhões em créditos subsidiados para o setor.

O agronegĂ³cio Ă© o principal responsĂ¡vel pela destruiĂ§Ă£o do meio ambiente no Brasil.

O Rio Grande do Sul Ă© o exemplo dessa ofensiva dizimadora.

O estado tem cerca de 4 milhões de hectares de cobertura vegetal, o que equivale a 15% do seu territĂ³rio. Em 2023, na sua porĂ§Ă£o norte, o desmatamento atingiu 113% da floresta nativa. Foram mais de 6 mil campos de futebol de Ă¡rea suprimida, para dar lugar Ă  monocultura e Ă  pecuĂ¡ria.

Essa prĂ¡tica predatĂ³ria tem achado guarida na polĂ­tica anti-meio ambiente do governador Eduardo Leite, que promulgou em 2020 a Licença Ambiental por AdesĂ£o e Compromisso (LAC), instrumento que dĂ¡ ao agronegĂ³cio o poder de auto licenciar suas atividades de impacto ambiental.

O desastre no Rio Grande do Sul Ă© resultado da aĂ§Ă£o humana orquestrada entre capital (agronegĂ³cio(l e governo.

A compactaĂ§Ă£o feita por bois e mĂ¡quinas retirou o poder de drenagem do solo e a flexibilizaĂ§Ă£o das leis ambientais permitiu um processo produtivo destruidor da natureza.

Como era de se esperar desse setor que envolve os 0,01% mais ricos do paĂ­s, nenhum centavo foi dado para apoiar as famĂ­lias gaĂºchas que perderam tudo com a cheia dos rios e as chuvas. O bandido sempre foge e abandona suas vĂ­timas. NĂ£o Ă© diferente com esses senhores da morte.

O agronegĂ³cio nĂ£o tem compromisso ambiental e social. Como Ă© todo mecanizado, quase nĂ£o gera emprego e sua produĂ§Ă£o Ă© toda para exportaĂ§Ă£o. O que fica no Brasil Ă© o mĂ­nimo, diante de tantos benefĂ­cios tributĂ¡rios.

É preciso deixar claro que a vilĂ£ nĂ£o Ă© a natureza. Esta apenas reage Ă s agressões e termina por afetar quem menos tem culpa. Os senhores da destruiĂ§Ă£o continuarĂ£o mais ricos e o planeta cada vez mais em risco.

*O autor Ă© sociĂ³logo.

Foto: divulgaĂ§Ă£o