Amazonas: hepatite delta entre ribeirinhos preocupa autoridades

A alta incidência da doença entre ribeirinhos no Amazonas preocupa autoridades de saúde e pesquisadores da Fiocruz, com poucos pacientes recebendo tratamento adequado.

Publicado em: 21/07/2024 às 09:59 | Atualizado em: 21/07/2024 às 09:59

Os casos de hepatite Delta estão gerando preocupação entre as comunidades ribeirinhas do Amazonas, chamando a atenção de autoridades de saúde e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Conhecida como a forma mais agressiva das hepatites virais, a hepatite Delta pode ser silenciosa e levar a complicações graves, como cirrose, câncer e até a morte.

Apesar da alta incidência, a maioria dos pacientes permanece sem tratamento adequado, segundo a Fiocruz.

Desde junho deste ano, pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia, em colaboração com profissionais de saúde de Lábrea (AM), estão monitorando as comunidades ribeirinhas na região sul do Amazonas.

De acordo com o Centro de Testagem Rápida e Aconselhamento (CTA) da Secretaria Municipal de Saúde de Lábrea, a cidade possui aproximadamente 1.400 casos notificados de hepatite Delta, mas apenas 140 pacientes estão em acompanhamento.

A equipe da Fiocruz visitou as comunidades de Várzea Grande e Acimã, no Rio Purus, onde realizou testes rápidos e exames laboratoriais.

O foco principal foi o diagnóstico e rastreamento das hepatites virais, especialmente a hepatite Delta. Dos 113 moradores atendidos, 16 foram diagnosticados com a doença.

As amostras coletadas foram enviadas para a Fiocruz Rondônia, onde são processadas e avaliadas.

Os pacientes diagnosticados recebem assistência da equipe de saúde de Lábrea e do Ambulatório de Hepatites Virais.

Maior incidência é no Norte

O último Boletim Epidemiológico sobre Hepatites Virais, divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, aponta que entre 2000 e 2022 foram registrados 4.393 casos de hepatite Delta no Brasil.

A maior incidência está na Região Norte, com 73,1% dos casos. Em 2022, foram 108 novos diagnósticos, sendo 56 na Região Norte.

Silenciosa

A hepatite Delta pode ser assintomática inicialmente, mas está associada a uma alta taxa de cirrose e outras complicações graves.

Os sintomas incluem cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. A principal forma de prevenção é a vacina contra a hepatite B.

A transmissão ocorre por meio de relações sexuais sem preservativo, de mãe para filho durante a gestação e parto, pelo compartilhamento de materiais de uso pessoal ou para uso de drogas, e por procedimentos médicos e estéticos que não seguem normas de biossegurança.

Atualmente, não há medicamentos que curem a hepatite Delta.

O tratamento foca no controle do dano ao fígado para evitar a progressão da doença, com terapias disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A testagem adequada é um desafio, pois a rede pública dispõe de testes de carga viral apenas para hepatite B.

A Fiocruz Rondônia desenvolveu um método molecular para quantificação do vírus HDV, que está sendo aplicado no diagnóstico e monitoramento de pacientes em Rondônia e Acre, mas ainda não é ofertado pelo SUS.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil