Afinal, quem responde pela poluição do ar em Manaus?
A fumaça invade diferentes pontos de da capital amazonense desde a última sexta-feira (9), deixando a qualidade do ar em nível muito ruim, segundo classificação adotada em monitoramento do Selva

Publicado em: 13/08/2024 às 22:12 | Atualizado em: 15/08/2024 às 09:53
A cidade de Manaus, voltou a ser inundada por ondas de fumaça provenientes de queimadas, nove meses depois de a capital de 2 milhões de moradores passar pelo mesmo processo de deterioração da qualidade do ar, na seca extrema de 2023.
Todos os prognósticos apontam escassez de chuvas, altas temperaturas e baixo nível dos rios na estação seca em 2024, iniciada em julho, em padrão semelhante ao que se verificou na Amazônia ocidental em 2023.
Mesmo assim, o governo do Amazonas, sob gestão de Wilson Lima (União Brasil), a Prefeitura de Manaus, de David Almeida (Avante), e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não conseguiram impedir alastramento de queimadas na capital —encravada na floresta—, em cidades próximas e no sul do estado.
A fumaça invade diferentes pontos de Manaus desde a última sexta-feira (9), deixando a qualidade do ar em nível muito ruim, segundo classificação adotada em monitoramento do Selva (Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental), ligado à UEA (Universidade do Estado do Amazonas).
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Responsabilidades
Nos últimos sete dias, de 5 a 12 de agosto, houve 1.900 focos de calor no Amazonas, quase o dobro das queimadas registradas no mesmo período em 2023, segundo dados de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No Pará, a quantidade de focos foi bem maior, 3.384, conforme o Inpe.
O sistema do instituto mostra a ocorrência de 3 focos de calor em Manaus, 19 em Autazes, 11 em Careiro e 8 em Careiro da Várzea. A grande maioria das queimadas ocorre no sul do Amazonas.
O superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, disse que as queimadas na região metropolitana de Manaus começaram a aumentar e que isso pode ter contribuído para as ondas de fumaça na cidade.
Uma hipótese investigada, segundo ele, é que a fumaça pode ter sido carregada do sul do Amazonas e até mesmo de estados como Acre, Rondônia e Mato Grosso.
O Ibama é responsável por ações apenas em áreas federais. Não atua, por exemplo, na fiscalização e no combate ao fogo em propriedades rurais em Autazes, sendo esta uma atribuição do governo do Amazonas.
As áreas prioritárias para o Ibama estão no sul do Amazonas, “onde ocorre a maior parte dos desmatamentos, incêndios florestais e queimadas há mais de 15 anos”, segundo Araújo. Três brigadas atuam em Humaitá, Manicoré e Apuí, com 89 brigadistas do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama.
Em 2024, uma brigada passou a atuar em Autazes, tendo como base a Terra Indígena Recreio São Félix, com 21 brigadistas indígenas. Ao todo, o Ibama conta com 110 brigadistas no combate ao fogo.
Em nota após a publicação da reportagem, o governo do Amazonas disse que a fumaça em Manaus nesta segunda é proveniente principalmente de queimadas no sul do estado, “em sua maioria em assentamentos e áreas sob fiscalização federal”. Origem semelhante ocorreu no fim de semana, segundo a nota.
Em agosto, as queimadas se concentraram em áreas federais, e uma menor parte em áreas não destinadas (9,7%) e em unidades de conservação estaduais (7,6%), afirmou o governo de Wilson Lima.
“O governo do Amazonas vem executando desde o início do ano uma série de ações de prevenção e combate às queimadas, concentrando esforços nas áreas sob fiscalização do estado”, cita a nota.
A Prefeitura de Manaus afirmou, em nota, que os dados do Inpe mostram inexistência de queimadas na cidade de sexta (9) a domingo (11). “No mesmo período, outros municípios do Amazonas somaram 706 focos de queimadas.”
Segundo o município, 99% da fumaça em 2023 não foi produzida em Manaus. Nesta segunda, a prefeitura mudou o status da cidade de normal para mobilização em razão da fumaça “proveniente de queimadas de outros municípios amazonenses e que encobre a capital”, cita a nota.
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Foto: divulgação/ses-am