Vapor da frota da borracha aguarda museu em Manaus

O navio Benjamin, que percorreu os rios da Amazรดnia no perรญodo da borracha, hoje รฉ corroรญdo pelo tempo na ilha do Caxangรก, no Educandos.

Benjamin

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 19/08/2024 ร s 19:30 | Atualizado em: 19/08/2024 ร s 20:15

O navio Benjamin, relรญquia da navegaรงรฃo a vapor da economia da borracha amazรดnica (1885-1920), serรก recuperado e ficarรก ร  disposiรงรฃo de uso compatรญvel com a sua importรขncia na histรณria do Parรก, do Amazonas e do Acre.

A embarcaรงรฃo estรก na carreira de um estaleiro, no igarapรฉ do Educandos, com acesso pela avenida Lourenรงo Braga, รกrea conhecida como Manaus Moderna na zona sul.

O sonho do atual dono do Benjamin, empresรกrio do turismo Dahรญlton Cabral, รฉ que o poder pรบblico financie ou crie um museu da navegaรงรฃo fluvial na Amazรดnia.

Ele tambรฉm รฉ proprietรกrio do legendรกrio Justo Chermont, que teve como passageiro entre Belรฉm e o seringal Paraรญso, no alto rio Juruรก, o escritor portuguรชs Ferreira de Castro (1898-1974), autor do romance “A selva”, que denunciou ao mundo o trabalho desumano nos seringais.

O Benjamim, com o nome Baturitรฉ, comeรงou a navegar em 1912 na linha Belรฉm-Manaus e seringais do rio Branco, hoje no territรณrio do estado do Acre.

Ele iniciava viagem em Belรฉm, lotado de mercadorias para abastecer os seringais, e retornava ao mesmo porto carregado de borracha para ser embarcada para paรญses da Europa.

Benjamin fez a sua รบltima viagem em 1995, para o alto rio Negro, mas ainda estรก em condiรงรฃo de ser recuperado, segundo avalia Cabral.

โ€œEsses navios tรชm importรขncia histรณrica que precisa ser reconhecida pela sociedade por meio do poder pรบblico ou da iniciativa privada. Eu luto e invisto para que isso aconteรงaโ€, disse Cabral, que se revela um apaixonado pela histรณria dos vapores na Amazรดnia.

O empresรกrio informou que o Benjamin, comprado do armador Joรฃo Pacheco (falecido), estรก com a documentaรงรฃo de posse em dia e pronto para ser colocado em uso.

Proa do Benjamin estรก colada a muro de restaurante na Manaus Moderna

Museu da memรณria da Amazรดnia

O professor Eduardo Barreda Del Campo, coordenador do curso de Indรบstria Naval da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), estimula a ideia do empresรกrio Dahilton Cabral pela criaรงรฃo de um museu para embarcaรงรตes histรณricas da Amazรดnia.

Alรฉm do valor de memรณria, elas podem ajudar na elaboraรงรฃo de novos conhecimentos para o transporte fluvial amazรดnico.

Del Campo nรฃo soube informar se a UEA, por intermรฉdio de algum professor, fez algum estudo com o Benjamin.

โ€œOs professores estรฃo de fรฉrias e nรฃo tenho como confirmar ou negar isso agoraโ€.


Alรฉm das pichaรงรตes, partes do ferro do navio sรฃo furtadas

Pichadores e ladrรตes

Moradores das proximidades do estaleiro disseram ao BNC Amazonas que o navio sofre ataques de ladrรตes de metais, pichadores e grafiteiros.

โ€œO pessoal [ladrรตes] leva peรงas e atรฉ pedaรงos de chapas do navio para vender em ferro velhoโ€, disse um morador da รกrea que pediu para nรฃo ter nome publicado, para evitar represรกlia dos ladrรตes.

Os grafites e pichaรงรตes, por sua vez, ocupam as partes externas e os ambientes internos com visibilidade para a avenida Lourenรงo Braga.

A inscriรงรฃo “Arte nรฃo รฉ crime” sinaliza que esses artistas de rua tiveram problemas com a polรญcia por conta do uso dos espaรงos do navio como outdoor para se manifestar.

Cabral disse que nรฃo tem conhecimento de roubos de peรงas ou objetos do navio. โ€œTenho um funcionรกrio que toma conta do navio e ele estรก รกrea do estaleiro de um grande amigoโ€.


A รกgua do rio Negro jรก estava chegando ร  popa do Benjamin, mas vazante comeรงou

Curiosidade do Benjamin

โ€œAs pessoas que vรชm ao restaurante sempre reservam um tempinho para observar o navio e tirar fotosโ€, destacou o funcionรกrio do restaurante Da Terra [ele pediu para nรฃo ter o nome publicado].

O navio estรก com a proa colada ao muro de arrimo do estacionamento do restaurante. Nesta cheia do rio Negro, a popa da embarcaรงรฃo jรก estรก na รกgua.

โ€œHรก quem pare aqui somente para olhar de perto o navioโ€, disse.

E, logo, lamentam que o navio esteja โ€œabandonadoโ€. O funcionรกrio do restaurante revelou que tambรฉm tinha a mesma impressรฃo de que o navio estava imprestรกvel atรฉ testemunhar a polรญcia no local para protegรช-lo dos ladrรตes de metais.

Ficha tรฉcnica do Benjamin

โ€ข Construรงรฃo: 1900
โ€ข Lanรงamento 1905
โ€ข Operaรงรฃo na Amazรดnia: 1912
โ€ข Construtor: estaleiro M&M (EUA)
โ€ข Comprimento: 55 m
โ€ข Largura: 7 m
โ€ข Calado: 3 m
โ€ข Primeiro proprietรกrio: Nicolaus & Cia.

Fotos: Wilson Nogueira/especial para o BNC Amazonas