Tradicional faz um espetáculo belo e marcante

O espetáculo “Marangatu: uma odisseia amazônica” trouxe visões de diferentes povos tradicionais, indígenas e quilombolas do Brasil para protestar contra a destruição da Amazônia

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 31/08/2024 às 13:57 | Atualizado em: 02/09/2024 às 14:20

A ciranda Tradicional abriu na noite deste dia 30 de agosto o 26º Festival de Cirandas de Manacapuru.

O espetáculo “Marangatu: uma odisseia amazônica” trouxe visões de diferentes povos tradicionais, indígenas e quilombolas do Brasil para protestar contra a destruição da Amazônia.

A Tradicional apresentou um discurso contundente e corajoso.

“A fumaça que arde em nossos olhos não te comove?”, perguntou o performático apresentador Alciro Neto a todos os presentes.

Marangatu, demiurgo do povo guarani kaiowá, um dos povos mais ameaçados pelo agronegócio no centro oeste brasileiro, foi chamado pela Tradicional para afastar todos os males.

O cordão de entrada, feito pelo renomado grupo Gandhicast, apresentou a dança dos encantados, que contou em dança e teatro a luta dos povos indígenas e dos entes da floresta para proteger-se dos caçadores, representantes das ameaças contra a floresta.

Em um momento da coreografia, a dançarina foi colocada pelos entes em um tambor. Eles levantaram um grande tecido bege que simbolizava a terra indígena.

Os entes que circulavam o tecido então representavam a proteção da terra. E, ao lado, os caçadores apontavam armas para a indígena.

Em seguida, desenvolveram-se as danças dos quatro elementos: terra, fogo, água e ara.

Cada uma delas, falou de um ente protetor da floresta, de uma ameaça e da visão de um povo sobre o tema.

A dança das folhas, por exemplo, simbolizava o elemento ar. Durante o ato, apareceu o bicho folharal, da cosmologia cabocla, que trouxe o personagem tradicional Galo Bonito.

Em seu discurso, o apresentador protestava contra as queimadas que poluem os ares.

Encerrando a odisseia, a alegoria da Matinta Pereira veio para equilibrar os quatro elementos com a ajuda da humanidade, representada pela TOT (Torcida Organizada da Tradicional).

A Matinta trouxe a Porta-Cores, que representava o coração da Amazônia.

Por fim, Marangatu vem ao Parque do Ingá ingerado em um xamã que dançou com todos os cirandeiros expulsando todo o mal que ameaça a Amazônia, como o marco temporal, o agronegócio e o garimpo.

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Elegância

Fazendo valer o seu nome, a Tradicional equilibrou com bom gosto a participação dos personagens tradicionais da ciranda de Tefé e as inovações de Manacapuru.

A estrutura do espetáculo intercambiava uma dança e um passo.

A dança referia-se à coreografia do ato, quando surgia na alegoria um item feminino: Princesa Cirandeira, Porta-Cores, Cirandeira Bela.

O passo, nome tradicional para coreografia na ciranda tefeense, trazia um personagem tradicional.

Seu Manelinho, Seu Honorato, Constância, Cupido e Galo Bonito estiveram na arena compondo o espetáculo. Exceto Mãe Benta, que apareceu apenas no ato final.

A Tradicional trouxe cinco mulheres indígenas para falar da luta pela terra, a mãe de todas as lutas.

As mulheres trouxeram placas contra o marco temporal e pela demarcação das terras.

Karina Dessana proclamou um poema curto, impactante e eficiente que somou, elegantemente, ao espetáculo.

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As feras do cordão de cirandeiros

O cordão de cirandeiros veio vestido de onça pintada, invocando a ferocidade da Tradicional na defesa da Amazônia. O cordão fez coreografia com sincronia e criatividade e fácil comunicação com o público.

Destacou-seo pulo coletivo da onça executado algumas vezes, quando os 40 cirandeiros do cordão realizavam um pulo coletivo fazendo parecer um único corpo de onça no movimento.

Em outra coreografia, os rapazes ficavam de quatro e as moças subiam em suas costas, quando pareciam um corpo inteiro de uma onça caminhando na arena.

Ameaças ao tricampeonato

Embora tenha feito um belíssimo e marcante espetáculo, houve erros que ameaçam o tricampeonato da Tradicional.

Na defesa do item cirandada, letra e música, os cantadores Bruno Costa, Luanita Rangel e Jean Carlos se desencontraram em um trecho da letra. O erro foi perceptível a todos.

Além disso, as alegorias que compunham o mundo criado pela Tradicional eram feitas por rostos. Seus olhos possuíam um belíssimo efeito de realidade feito com de televisões.

Contudo, os olhos de uma das alegorias não funcionaram. As televisões foram retiradas e os olhos do macaco ficaram ocos.

Já as televisões que faziam os olhos da alegoria com o rosto do cacique Raoni se desalinhava quando o grande portal se abria. Assim, as televisões ficavam aparentes.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas