RegionalizaĂ§Ă£o do Saneamento BĂ¡sico torna-se realidade no AM

Amazonas cria a MicrorregiĂ£o de Saneamento BĂ¡sico, unindo esforços do estado e municĂ­pios atĂ© 2033.

Por Marcellus Campelo*

Publicado em: 25/12/2024 Ă s 15:51 | Atualizado em: 25/12/2024 Ă s 15:56

A universalizaĂ§Ă£o dos serviços de Ă¡gua e esgoto, no prazo estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento, atĂ© 2033, ainda Ă© um enorme desafio para todas as cidades brasileiras, mas demos, aqui, um passo importante para avançar nessa questĂ£o, ao possibilitar a uniĂ£o de esforços entre municĂ­pios e o Governo do Estado.

Isso serĂ¡ possĂ­vel, com a recente aprovaĂ§Ă£o, pela Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), do Projeto de Lei Complementar Nº 11/2024, que institui a MicrorregiĂ£o de Saneamento BĂ¡sico (MRSB) e sua estrutura de governança. A medida revoga a lei anterior, de 2021, que precisava ser revista e reformulada, para adequaĂ§Ă£o Ă s mudanças ocorridas na legislaĂ§Ă£o nacional.

O projeto alinhavado pelo Governo do Amazonas e apresentado Ă  Aleam, foi conduzido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedurb) e Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), envolvendo a participaĂ§Ă£o de diversos setores da sociedade. AlĂ©m da promoĂ§Ă£o de workshop, reunindo as prefeituras e Ă³rgĂ£os relacionados ao tema, tambĂ©m foram realizadas consulta e audiĂªncia pĂºblicas virtuais, para colher as contribuições da sociedade.

Procuramos construir em conjunto um projeto adequado Ă  realidade local, levando em conta os desafios aqui impostos pela questĂ£o geogrĂ¡fica e de logĂ­stica, e compatĂ­vel Ă s melhores prĂ¡ticas de regionalizaĂ§Ă£o dos serviços pĂºblicos de saneamento bĂ¡sico, no paĂ­s. Deu muito certo e o resultado Ă© algo que vem para ajudar as cidades, efetivamente. O caminho nĂ£o serĂ¡ fĂ¡cil e nem rĂ¡pido, mas tornou-se mais viĂ¡vel, com certeza.

Com a criaĂ§Ă£o da MRSB, a regulaĂ§Ă£o e a gestĂ£o dos serviços serĂ£o compartilhadas entre municĂ­pios e o estado. A regionalizaĂ§Ă£o Ă© requisito para que as Prefeituras, adequadas Ă  legislaĂ§Ă£o nacional, possam receber recursos pĂºblicos federais e financiamentos geridos pela UniĂ£o.

O saneamento bĂ¡sico, direito de todo cidadĂ£o, Ă© essencial para melhorar a qualidade de vida da populaĂ§Ă£o. Os investimentos para universalizaĂ§Ă£o dos serviços, entretanto, sĂ£o pesados e as Prefeituras, isoladamente, nĂ£o teriam como arcar com esses custos, uma vez que 70% dos municĂ­pios contam com atĂ© 20 mil habitantes, o que limita o seu poder de arrecadaĂ§Ă£o. A medida, portanto, Ă© necessĂ¡ria para que possam avançar, de fato, nessa Ă¡rea.

Na forma como foi instituĂ­da, a MicrorregiĂ£o de Saneamento BĂ¡sico Ă© uma autarquia intergovernamental, composta pelo Estado e os 61 municĂ­pios do interior do Amazonas. A MRSB nĂ£o possui estrutura administrativa ou orçamentĂ¡ria prĂ³pria. As atividades serĂ£o executadas com o suporte administrativo e orçamentĂ¡rio de todos os entes que a integram ou que a ela sĂ£o conveniados.

As funções exercidas sĂ£o de planejamento, regulaĂ§Ă£o, fiscalizaĂ§Ă£o e prestaĂ§Ă£o, direta ou contratada, dos serviços pĂºblicos de saneamento bĂ¡sico. O foco principal Ă© a garantia do atendimento Ă  populaĂ§Ă£o e a ampliaĂ§Ă£o do alcance, buscando o cumprimento das metas de universalizaĂ§Ă£o dos serviços, atendendo pobres e ricos, regiões mais e menos favorecidas.

O Marco Legal do Saneamento, instituĂ­do pela Lei Federal nº 14.026/2020, estabelece como meta aos municĂ­pios, chegar atĂ© 2033 com 99% da populaĂ§Ă£o atendida com Ă¡gua potĂ¡vel e 90% com coleta e tratamento de esgoto, condiĂ§Ă£o que representa a universalizaĂ§Ă£o dos serviços. Um dos principais desafios Ă© a capacidade econĂ´mico-financeira dos municĂ­pios brasileiros e das concessionĂ¡rias de saneamento para alcanĂ§Ă¡-la, levando-se em conta que a maior parte ainda estĂ¡ muito aquĂ©m desse resultado e teria que desembolsar uma quantia considerĂ¡vel para isso.

De acordo com levantamento do Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, 30 milhões de brasileiros vivem em Ă¡reas que estĂ£o abaixo da mĂ©dia nacional em abastecimento de Ă¡gua e com esgotamento sanitĂ¡rio inadequado. Para atingir as metas de universalizaĂ§Ă£o atĂ© o prazo previsto, o paĂ­s precisaria aumentar os investimentos no setor e isso sĂ³ serĂ¡ possĂ­vel com a uniĂ£o de esforços, a colaboraĂ§Ă£o de todos os entes, o que Ă© propiciado pela estratĂ©gia de regionalizaĂ§Ă£o dos serviços.

É um modelo que proporciona ganhos de escala, garantindo a viabilizaĂ§Ă£o tĂ©cnica e financeira dos projetos. O caminho para a universalizaĂ§Ă£o passa por essas questões, para as quais o esforço conjunto das partes envolvidas Ă© essencial.

O Governo do Amazonas, ao conduzir esse processo, mostra amadurecimento institucional, propondo e liderando a construĂ§Ă£o de um arcabouço que se mostra eficiente e que torna possĂ­vel para todos virar essa chave, realizando o sonho da inclusĂ£o no serviço de saneamento bĂ¡sico.

*O autor Ă© engenheiro civil, especialista em Saneamento BĂ¡sico e em Governança e InovaĂ§Ă£o PĂºblica; exerce, atualmente, os cargos de secretĂ¡rio de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE.

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Foto: Thiago CorrĂªa/divulgaĂ§Ă£o