Governos Temer e Bolsonaro: farra de R$ 13,3 bi com entidades sociais

Auditoria da CGU revela desvio de recursos em parcerias com OSCs, favorecendo parentes de polรญticos e servidores, alรฉm de falhas no monitoramento.

Diamantino Junior

Publicado em: 26/12/2024 ร s 19:24 | Atualizado em: 27/12/2024 ร s 11:05

A Controladoria-Geral da Uniรฃo (CGU) revelou, em relatรณrio recente, indรญcios de irregularidades graves em transferรชncias de recursos federais para Organizaรงรตes da Sociedade Civil (OSCs). A auditoria analisou quase 11 mil parcerias firmadas entre 2017 e 2022, que movimentaram R$ 13,34 bilhรตes. O levantamento apontou prรกticas como o direcionamento de recursos para entidades geridas por parentes de parlamentares e funcionรกrios pรบblicos, falta de chamamento pรบblico e contrataรงรตes suspeitas de fornecedores e pessoal.

Entre as irregularidades destacadas, R$ 73,7 milhรตes foram destinados a OSCs lideradas por parentes de atรฉ segundo grau de parlamentares ou servidores federais, sendo que R$ 18,5 milhรตes envolvem situaรงรตes proibidas por lei.

As falhas incluem a ausรชncia de publicaรงรฃo de documentos no sistema oficial Transferegov.br e a falta de ferramentas tecnolรณgicas para verificar relaรงรตes de parentesco, deixando a fiscalizaรงรฃo limitada a declaraรงรตes das entidades.

A CGU identificou 984 indรญcios de favorecimento em 420 parcerias. Exemplos incluem contrataรงรตes de empresas ligadas aos dirigentes das entidades, somando R$ 36,7 milhรตes, e de familiares dos gestores, com mais R$ 30 milhรตes.

Em casos extremos, empresas de parlamentares ou seus familiares foram beneficiadas. Tais prรกticas desvirtuam o propรณsito das parcerias e prejudicam a credibilidade da polรญtica de transferรชncia de recursos pรบblicos.

Outro ponto crรญtico foi a falta de chamamento pรบblico em 96,5% das parcerias analisadas, comprometendo a competitividade e a transparรชncia na seleรงรฃo de OSCs.

Alรฉm disso, mais de um terรงo das entidades beneficiadas nรฃo possuรญam funcionรกrios registrados, apesar de receberem R$ 900,3 milhรตes no perรญodo. Essas situaรงรตes indicam que as organizaรงรตes nem sempre foram escolhidas por sua capacidade tรฉcnica, mas por fatores circunstanciais.

A auditoria tambรฉm apontou falhas no monitoramento das parcerias. De uma amostra de 48 contratos, 32 nรฃo tinham relatรณrios de acompanhamento, 44 careciam de pesquisas de satisfaรงรฃo, e 43 nรฃo apresentaram comprovaรงรฃo de visitas de fiscalizaรงรฃo. Esses dados reforรงam a necessidade de maior controle na execuรงรฃo dos programas financiados com recursos pรบblicos.

Diante das descobertas, a CGU recomendou a integraรงรฃo dos sistemas de controle do governo federal e a revisรฃo das normas sobre chamamentos pรบblicos, alรฉm de critรฉrios mais rรญgidos para avaliaรงรฃo tรฉcnica das OSCs. A expectativa รฉ que essas medidas aumentem a transparรชncia e alinhem as parcerias aos interesses da sociedade.

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O relatรณrio destaca a importรขncia de preservar o papel das OSCs, que frequentemente prestam serviรงos relevantes ร  populaรงรฃo.

No entanto, reforรงa que lacunas na legislaรงรฃo e no controle abrem espaรงo para prรกticas ilegais e imorais, prejudicando tanto a imagem dessas organizaรงรตes quanto a confianรงa pรบblica. Para evitar novos casos, รฉ necessรกrio aprimorar a fiscalizaรงรฃo e o rigor nos critรฉrios de escolha das entidades parceiras.

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