Trump presidente dos EUA: impacto global e oportunidades ao Brasil e AmazĂ´nia
Na visĂ£o de Marcellus Campelo, Ă© inegĂ¡vel que a presidĂªncia de Trump trarĂ¡ desafios, mas tambĂ©m oportunidades. Leia em seu artigo semanal

Por Marcellus Campelo*
Publicado em: 22/01/2025 Ă s 13:06 | Atualizado em: 22/01/2025 Ă s 13:06
A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos marca uma nova fase na polĂtica mundial, despertando diversas reações e expectativas ao redor do globo. No Brasil, em particular, a ascensĂ£o de Trump Ă© recebida com entusiasmo por setores da direita, que enxergam na sua liderança uma oportunidade de estreitar laços comerciais e polĂticos, promovendo uma agenda de cooperaĂ§Ă£o voltada ao crescimento econĂ´mico e ao fortalecimento de valores conservadores. O Amazonas e a AmazĂ´nia, regiões de enorme importĂ¢ncia estratĂ©gica e ambiental, podem se beneficiar dessa nova dinĂ¢mica global, desde que os interesses nacionais sejam defendidos com inteligĂªncia e pragmatismo. Trump ainda nĂ£o falou sobre o tema diretamente, mas um diĂ¡logo pode ser construĂdo nesse sentido.
Trump assume o cargo em um contexto de grande polarizaĂ§Ă£o, tanto nos Estados Unidos quanto em outros paĂses. Suas ideias e estilo de governar geram debates acalorados e, inevitavelmente, polĂªmicas e preocupações. É o caso, por exemplo, de algumas medidas anunciadas logo na sua posse, como a retirada dos Estados Unidos da OrganizaĂ§Ă£o Mundial de SaĂºde (OMS), por considerar injusto os recursos que o paĂs destina Ă entidade, e a saĂda do Acordo de Paris. O acordo, assinado em 2015 pelos paĂses signatĂ¡rios da OrganizaĂ§Ă£o das Nações Unidas (ONU), propõe medidas para reduĂ§Ă£o da emissĂ£o de gases de efeito estufa.
Espera-se, no entanto, que essas controvĂ©rsias percam fĂ´lego Ă medida em que o seu governo avance, com posições que possam ser reconsideradas e que nĂ£o comprometam as relações institucionais entre os paĂses. No caso do Brasil, a solidez da relaĂ§Ă£o com os EUA deve ser construĂda com base em interesses mĂºtuos, que vĂ£o desde a cooperaĂ§Ă£o econĂ´mica atĂ© a preservaĂ§Ă£o ambiental, porque ambos investem, por exemplo, em energia eĂ³lica e solar, passando por Ă¡reas como segurança, tecnologia e desenvolvimento sustentĂ¡vel.
A AmazĂ´nia, reconhecida mundialmente como um dos maiores patrimĂ´nios ambientais do planeta, Ă© um tema de interesse estratĂ©gico para a comunidade internacional, e isso, obviamente, nĂ£o serĂ¡ ignorado pelo novo presidente. Os Estados Unidos, sendo uma das maiores potĂªncias globais, podem desempenhar um papel fundamental no apoio a iniciativas que conciliem desenvolvimento e conservaĂ§Ă£o. Parcerias em ciĂªncia, tecnologia e inovaĂ§Ă£o sĂ£o essenciais para garantir que o Brasil possa preservar sua soberania sobre a floresta, ao mesmo tempo em que aproveita seu potencial de maneira sustentĂ¡vel, por meio de atividades como a bioeconomia, turismo ecolĂ³gico e uso responsĂ¡vel dos recursos naturais.
AlĂ©m disso, hĂ¡ um grande potencial para que o Amazonas se beneficie de investimentos norte-americanos em infraestrutura e logĂstica, setores que sĂ£o cruciais para a integraĂ§Ă£o da regiĂ£o ao mercado global. Melhorias em portos, rodovias e sistemas de transporte podem impulsionar a exportaĂ§Ă£o de produtos regionais, como os derivados da biodiversidade amazĂ´nica, que tĂªm grande apelo em mercados exigentes como o dos EUA. Dessa forma, a aproximaĂ§Ă£o com a nova administraĂ§Ă£o norte-americana pode trazer benefĂcios diretos para o desenvolvimento regional, promovendo oportunidades de emprego e geraĂ§Ă£o de renda para a populaĂ§Ă£o local.
Outro ponto relevante Ă© a colaboraĂ§Ă£o em segurança e combate ao crime ambiental. Os Estados Unidos possuem uma expertise consolidada no monitoramento e controle de ilĂcitos ambientais, e o Brasil pode se beneficiar de cooperaĂ§Ă£o tĂ©cnica e compartilhamento de informações para combater o desmatamento ilegal, o trĂ¡fico de fauna e outros crimes que ameaçam a integridade da floresta. É fundamental que o governo brasileiro conduza essas negociações com diplomacia, garantindo que a ajuda internacional nĂ£o comprometa nossa autonomia sobre o territĂ³rio amazĂ´nico.
É importante que as relações entre Brasil e EUA sejam pautadas pelo respeito mĂºtuo e pela manutenĂ§Ă£o da paz global. Os Estados Unidos, como protagonistas na geopolĂtica mundial, tĂªm a responsabilidade de promover o diĂ¡logo e a cooperaĂ§Ă£o internacional, evitando posturas unilaterais que possam gerar conflitos ou instabilidades. O Brasil, por sua vez, deve buscar atuar como um parceiro estratĂ©gico, propondo soluções que sejam vantajosas para ambas as partes e que respeitem os princĂpios da soberania nacional e do desenvolvimento sustentĂ¡vel.
É inegĂ¡vel que a presidĂªncia de Trump trarĂ¡ desafios, mas tambĂ©m oportunidades. Sua visĂ£o econĂ´mica baseada na valorizaĂ§Ă£o da produĂ§Ă£o nacional e no estĂmulo aos investimentos privados pode abrir portas para empresas brasileiras, especialmente aquelas voltadas ao agronegĂ³cio, energia e tecnologia. Cabe ao Brasil posicionar-se estrategicamente, aproveitando as oportunidades de negĂ³cios sem abrir mĂ£o de seus interesses estratĂ©gicos, especialmente no que diz respeito Ă preservaĂ§Ă£o ambiental e Ă inclusĂ£o social.
Ao desejar sucesso Ă nova administraĂ§Ă£o norte-americana, o Brasil reforça seu compromisso com a cooperaĂ§Ă£o internacional e com a construĂ§Ă£o de um mundo mais justo e equilibrado. Que as diferenças polĂticas sejam tratadas com maturidade, sem comprometer os avanços conquistados e o espĂrito de parceria que sempre marcou as relações entre os dois paĂses. Mais do que nunca, o mundo precisa de uniĂ£o, diĂ¡logo e paz para enfrentar os desafios que se apresentam, e os Estados Unidos, como potĂªncia global, tĂªm o dever de liderar esse processo com responsabilidade.
Que a posse de Donald Trump represente uma nova era de prosperidade, cooperaĂ§Ă£o e desenvolvimento, onde o Brasil, o Amazonas e a AmazĂ´nia possam se beneficiar de parcerias produtivas e de um olhar voltado ao futuro.
*O autor Ă© engenheiro civil, especialista em Saneamento BĂ¡sico e em Governança e InovaĂ§Ă£o PĂºblica; exerce, atualmente, os cargos de secretĂ¡rio de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE.
Fotomontagem: UGPE/divulgaĂ§Ă£o