OAB-AM investiga sexismo na eleiĂ§Ă£o a desembargador do TJ-AM

Publicado em: 04/06/2018 Ă s 05:51 | Atualizado em: 15/11/2018 Ă s 12:07

Por Rosiene Carvalho, da RedaĂ§Ă£o

 

A ComissĂ£o da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas (OAB-AM) emitiu nota, na terça-feira, dia 29, em solidariedade Ă  advogada e uma das candidatas Ă  vaga de  desembargadora do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), Adriane MagalhĂ£es.

De acordo com a nota da comissĂ£o da OAB-AM, Adriana “afirma” ter sofrido ofensas atentatĂ³rias Ă  sua honra e dignidade”.

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A advogada Adriane MagalhĂ£es expĂ´s em redes sociais, em grupos internos da OAB-AM e levou ao conhecimento da PolĂ­cia Civil mensagens enviadas ao telefone dela, por meio do aplicativo WhatsApp, por um advogado partidĂ¡rio de outra candidatura.

As mensagens de cunho sexista insinuam que a advogada Adriane MagalhĂ£es nĂ£o tem qualificaĂ§Ă£o profissional, que Ă© “ridĂ­cula”, “burra” e que a Ăºnica inteligĂªncia que ela tem Ă© Ă³rgĂ£o genital.

Outras palavras e frases com teor misĂ³gino sĂ£o  expostas nas mensagens que tambĂ©m jĂ¡ estĂ£o sob o conhecimento da PolĂ­cia Civil, da Procuradoria das Mulheres no Senado Federal, da ComissĂ£o Ética da OAB-AM e do Conselho Federal da OAB-AM.

“Estou muito envergonhada com a situaĂ§Ă£o. Mas ninguĂ©m  pode fazer isso com uma mulher. Graças a Deus tive coragem e comuniquei o fato a todos. Ele falou vĂ¡rias baixarias horrorosas que nunca  ouvi na minha vida”, disse.

Adriane MagalhĂ£es disse que a demonstraĂ§Ă£o de Ă³dio iniciou em meio Ă  campanha para a vaga de desembargador quando ela criticou um grupo de advogados nas redes sociais e disse que os mesmos  haviam formado uma “coligaĂ§Ă£o” para disputar a lista sĂªxtupla. A advogada considera o ato irregular.

Outra situaĂ§Ă£o, durante a campanha, que ela considera que pode ter provocado a ira de pessoas partidĂ¡rias de outra candidatura ocorreu quando foi julgada denĂºncia contra candidatos do grupo acusado de ter formado “coligaĂ§Ă£o” na ComissĂ£o Eleitoral da Lista SĂªxtupla.

“Defendi o dr Christian Naranjo, autor das denĂºncia. Queriam bater nele. E naquele momento jĂ¡ fui ofendida”, disse.

As ofensas verbais por meio do telefone, segundo conta Adriane, ocorreram na noite da eleiĂ§Ă£o. Depois que o resultado jĂ¡ havia sido divulgado e teriam sido digitadas de uma festa onde advogados comemoravam a votaĂ§Ă£o nas urnas.

“Ele nĂ£o tem o direito de fazer isso. Onde fica a democracia nas redes sociais? Confesso que fiquei com medo de verdade dele. Por isso resolvi expor. NinguĂ©m vai me calar”, disse.

Para a advogada, o motivo para a reaĂ§Ă£o Ă  sua manifestaĂ§Ă£o relacionada a um assunto da campanha Ă© claramente sexista em funĂ§Ă£o da postura adotada pelo advogado Christian Naranjo relacionada a mesma questĂ£o. A reaĂ§Ă£o contra ela foi de ataques relacionados ao gĂªnero, enquanto Naranjo nĂ£o sofreu nenhuma ofensa por ser homem.

“Ainda estou abalada e envergonhada no meu Ă­ntimo de ter tornado o caso pĂºblico, para falar a verdade. Mas fiz para que nenhuma outra advogada passe por isso. Esse advogado precisa aprender a respeitar as mulheres, sobretudo uma colega de profissĂ£o”, disse.

A advogada diz que as ofensas a humilharam perante a sua categoria e representam prejuĂ­zo profissional e psicolĂ³gico.

“Ele disse que eu nĂ£o era inteligente e Ăºnica inteligĂªncia que eu tinha ficava entre as pernas. Falou que nĂ£o me comeu porque nĂ£o quis. Que tinha pena de mim e que sĂ³ votou em mim (para a vaga de  desembargadora do TJ-AM) por pena”, contou.

Adriane MagalhĂ£es trabalha hĂ¡ 13 anos na Ă¡rea cĂ­vel e trabalhista, foi membro do tribunal de Ă©tica da OAB-AM, da comissĂ£o de prerrogativas, conselheira da ordem e coordenadora de comissões da OAB-AM.

A advogada disse que, alĂ©m de registrar um boletim de ocorrĂªncia sobre o assunto, apresentou denĂºncia Ă  ComissĂ£o de Ética da OAB-AM e foi contactada pela Procuradoria da Mulher do Senado Federal que requisitou dela todos os documentos relacionados ao caso para acompanhar os desdobramentos.

Adriane MagalhĂ£es disse ainda que recebeu, de forma privada, ato de solidariedade da comissĂ£o nacional da mulher do conselho federal, em BrasĂ­lia.

Ela afirmou que o caso jĂ¡ começou a tramitar na comissĂ£o de Ă©tica local e que apenas estranhou quando soube que o advogado que a agrediu foi chamado para ser ouvido na OAB-AM antes dela. No dia, se dirigiu ao local onde ocorreria a audiĂªncia e quando lĂ¡ chegou foi informada que a mesma havia sido suspensa porque o denunciado nĂ£o havia comparecido.

Adriane diz considerar que recebeu todo apoio da OAB-AM em relaĂ§Ă£o Ă  sua denĂºncia.

 

Veja a nota emitida pela ComissĂ£o da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas (OAB-AM):

NOTA DE SOLIDARIEDADE

  A COMISSĂƒO DA MULHER ADVOGADA DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECCIONAL AMAZONAS vem manifestar publicamente SOLIDARIEDADE Ă  advogada ADRIANE CRISTINE CABRAL MAGALHĂƒES, que afirma ter sofrido ofensas atentatĂ³rias a sua honra e  dignidade, fato ocorrido em 27 de maio do corrente ano.

É inaceitĂ¡vel que nos tempos atuais a violĂªncia de gĂªnero ainda seja recorrente em nossa sociedade e se revele de forma inconteste arraigada pelo machismo. A assimetria nas relações em que o poder Ă© conferido sob a percepĂ§Ă£o da cultura patriarcal reproduz nefastas violações de direitos das mulheres, que devem ser  rechaçadas por toda sociedade.

NĂ£o se pode olvidar que a luta pela garantia dos direitos femininos se confunde com a histĂ³ria da humanidade. No entanto, em tempos modernos ainda persistem os nĂºmeros alarmantes de violĂªncia perpetrada contra as mulheres, estatĂ­sticas nacionais trazem Ă  baila a permanente necessidade de intensificaĂ§Ă£o das campanhas para sua erradicaĂ§Ă£o. A coragem de quebrar o silĂªncio, buscando os meios adequados e legais para a apuraĂ§Ă£o dos fatos, alerta e serve de exemplo para encorajar outras mulheres.

Nesse diapasĂ£o, a ComissĂ£o da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Amazonas reafirma seu compromisso incansĂ¡vel na defesa da Mulher Advogada, primando pelo fortalecimento de seus direitos e prerrogativas, solidarizando-se com a advogada  Adriane Cristine Cabral MagalhĂ£es.

Confia na apuraĂ§Ă£o dos fatos pelas Instituições, observados os ditames legais. Remarca que a luta pelos direitos humanos das mulheres Ă© compromisso de todos para uma sociedade mais justa, igualitĂ¡ria e sem violĂªncia. Estejamos  sempre vigilantes e engajados nessa luta!

Manaus – AM,  29 de maio de 2018.

Maria GlĂ¡ucia Barbosa Soares

Presidente da ComissĂ£o da Mulher Advogada