Por Rosiene Carvalho , da Redação
Enquanto a greve dos rodoviários provocava reações violentas na zona mais populosa da cidade, os vereadores da Câmara Municipal de Manaus (CMM) gastaram cerca de uma hora discutindo e confeccionando uma nota de repúdio ao presidente do Sindicato dos Rodoviários, Givancir Oliveira, por ter chamado o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), de “bunda mole”, incompetente e ter defendido o impeachment do tucano.
A estimativa é que cerca de 100 mil pessoas ficaram sem transporte público na Zona Leste de Manaus nesta segunda-feira, dia 4. Sessenta e um ônibus foram depredados, houve uso de gás lacrimogênio, correria de usuários e trabalhadores nas ruas, prisões e fechamentos do comércio ao longo da avenida Grande Circular.
É o sétimo dia de paralisação dos rodoviários que reclamam direitos trabalhistas com os empresários do transporte coletivo. Há décadas, os usuários do transporte em Manaus convivem com paralisações a cada problema trabalhista do setor.
CPI
Um grupo de vereadores propôs, novamente, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o sistema de bilhetagem e as dívidas trabalhistas das empresas que prestam serviço de transporte coletivo em Manaus. Apenas cinco assinaturas foram dadas em apoio à proposta.
No plenário, o debate para o tema foi curto. Grande foi a fila que se formou para assinar a nota de repúdio após os debates sobre a mesma no plenário da CMM. Todos os vereadores presentes assinaram a nota, exceto os vereadores de oposição Marcelo Serafim, Joana Dar’c e Chico Preto, segundo informou o presidente da CMM.
A nota de repúdio foi chamada em alguns momentos dos discursos, por parte dos vereadores governistas e de oposição, de moção ou ação de solidariedade ao prefeito pela forma desrespeitosa como o líder dos rodoviários o tratou.
O presidente da CMM, Wilker Barreto (PHS), contestou que a nota tenha sido de solidariedade ao prefeito. “Foi uma nota de repúdio ao Givancir Oliveira (líder dos rodoviários) por ter falado de forma caluniosa contra chefe do executivo municipal. Eu também vou processá-lo por calúnia e difamação. Ele disse que eu estou acovardado e de rabo preso com empresário. Terá que provar. Sou o maior crítico dos empresários. Chamo eles e dou esporro na CMM”, disse.
“Tapa trocado”
O vereador Chico Preto disse que não assinou a nota de repúdio porque o prefeito também atacou a liderança dos rodoviários. “Eu não vou hipotecar solidariedade ao Arthur porque ele foi chamado de bunda mole. Isso foi tapa trocado. Quem brinca com fogo se queima”, disse.
A vereadora Joana Dar’c lamentou que a CMM tenha “desperdiçado” tanto tempo de debate hoje com nota de repúdio ao invés de debater a convulsão social que ocorria naquele momento na Zona Leste.
“Um monte de vereador assinando a moção para mostrar serviço para o prefeito. Enquanto poucos assinam a CPI. E tendo coisa mais importante para discutir, estamos perdendo tempo com essa moção”, reclamou a parlamentar.
O presidente da CMM, Wilker Barreto, rebateu as críticas. “Para se abrir uma CPI é necessário um fato concreto. Dissídio é justiça do trabalho. Na ata da última reunião deles dá para perceber que o que queriam é baderna. Não pode ter essa desordem. Provocar a insatisfação da população. Na ata eles fecham tudo. Aí no ponto mais besta, como ia ficar a cobrança pelos dias da greve, não teve acordo”, disse.
Rodoviários barrados
A vereadora Joana também criticou a proibição da entrada dos rodoviárias para debater o assunto na CMM. “A presidência alegou a segurança como motivo. Mas impedir até os líderes? Os rodoviários sofrem muitos abusos e precisam ser ouvidos também”, disse.
Wilker Barreto afirmou que, enquanto ele for o presidente da CMM, ninguém que promova “baderna” em Manaus será recebido na casa com tapete vermelho.
“Não recebo sindicato que não tem respeito por Manaus. Se não tiver respeito não tenho porque ser benevolente. Não vou estender tapete vermelho para a anarquia”, declarou.
Wilker Barreto disse que suspeita de motivos políticos e eleitorais por parte da greve. O vereador Chico Preto disse concordar e defendeu que, por isso mesmo, não há porque os governistas temerem uma CPI.
Quanto custa um vereador?
A CMM tem 41 vereadores. Cada um deles recebe salário de R$ 15 mil, uma verba indenizatória de R$ 18 mil como apoio ao exercício do mandato e mais 48 mil para despesas de gabinete.