‘Kuarup’, o ritual mais encenado da história do Festival de Parintins

Publicado em: 04/06/2018 às 17:37 | Atualizado em: 04/06/2018 às 19:23
Por Náferson Cruz
Pela oitava vez, Kuarup, cerimônia feita em homenagem aos mortos ancestrais das tribos Kamayurás, Waurá, Kuikuru, Mehinaku e, outras etnias da região do Parque Nacional do Xingu, será encenada na arena do Bumbódromo.
Esta será quinta vez que o Boi Garantido vai levar a história para a arena do Bumbódromo. Outras três, pelo Caprichoso. O rito é centrado na figura do pajé Mavutsinin, que teria tentado ressuscitar seus entes mortos usando troncos de madeira, que seriam transformados para receber estas vidas.
Os índios acreditam que através do Kuarup, as almas dos mortos vão se libertar e viver em outro mundo. O rito, também é uma forma de celebrar a despedida dos mostos e encerramento do período de luto.
A celebração, corresponde à cerimônia de finados, dos brancos. Entretanto, o Kuarup é uma festa alegre, onde cada um coloca a sua melhor vestimenta na pele, conforme o trecho da letra da toada deste ano do Garantido, “Kuarup – a festa dos mortos”, dos compositores Marlon Brandão, Moisés Amazonas, Valdenor dos Santos e Vanílson Oliveira: “Clã da onça-pintada, Clã da serpente sucuri… Clã da arara vermelha, Cantam as tribos na aldeia, É dança, é festa no Xingu”. Na visão dos índios, os mortos não querem ver os vivos agindo de forma combalida ou reprimida.
Resistência
Uma destas cerimônias realizadas, como também descreve o trecho da letra da mesma toada, foi feita em homenagem a um dos maiores sertanistas do Brasil, Orlando Villas-Bôas, defensor dos povos indígenas.
Se não fosse o trabalho de toda a vida dos irmãos Villa-Boas, hoje na divisa do Planalto Central com a Amazônia teríamos um deserto, com a terra exaurida por pastagens e plantações de soja ou cana de açúcar.
Por esses motivos, o Kuarup feito em homenagem a Orlando foi a maior honraria que um caraíba (homem branco) poderia receber. Em 2003, mais de dois mil índios vindos de diversas regiões se concentraram na aldeia Yawalapiti para celebrar o que eles mesmos consideraram o maior Kuarup já realizado na região.
Orlando foi indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz por Julian Huxlei e Claude Lévi-Strauss.
Enfim, o ritual que será encenado em uma das três noites de apresentação do Boi Garantido, pretende expor os desafios do povos do Xingu vinculado ao plano espiritual, para manter viva a chama das crenças e costumes indígenas.
Oito vezes Kuarup
O ritual “Kuarup, a festa dos mortos”, que será apresentado este ano pelo Garantido, já teve outras quatro exibições feitas na arena do Bumbódromo: Ritual Decameron Kuarup (1996), Kuarup (1999), Ritual Kuarup (2011) e, em 2015, com a toada de 1999.
Além das cinco encenações no Garantido, houve outras três no Boi Caprichoso, com Yoparanã (1996), Kuarup, tronco sagrado (2004), A Mística Xinguana (2012), encenação tribal diante de módulos alegóricos. As histórias dos ritos e lendas dos Ianomâmis, Karajás e Parintintins, são as que mais se aproximam de Kuarup em apresentações no Festival.
Foto: Roberto Stuckert Filho