“A prefeitura, só, não pode tomar conta da cidade”, diz Marcos Rotta

Publicado em: 09/08/2018 às 01:35 | Atualizado em: 09/08/2018 às 06:17
Por Rosiene Carvalho, da Redação
O vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta (sem partido), que se desfiliou esta semana do PSDB e rompeu com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), declarou que a Prefeitura de Manaus, sozinha, não tem elementos para tomar conta da cidade e que precisa aceitar “mão amiga” do Governo do Estado.
“Passei nove meses na Seminf e posso atestar, de forma categórica, que, sozinha, a prefeitura não resolve os problemas de infraestrutura da cidade. Ninguém, ninguém pode virar as costas para ajuda e auxílio neste momento, para a mão amiga que estão tentando estender”, declarou.
A declaração de Rotta é feita no mesmo dia em que o governador Amazonino Mendes cogita colocá-lo como parte dos secretários de Estado. Rotta disse que o cenário atual mostra a grande possibilidade de o Estado ajudar a prefeitura.
“Eu acho que o que se tem aí de cenário é a grande possibilidade do Estado ajudar a cidade de Manaus. Eu acho que está acima de qualquer outro tipo de interesse. A prefeitura, sozinha, precisa reconhecer que não tem elementos suficientes para tomar conta da cidade”, disse.
Rotta, no entanto, nega que tenha recebido convite oficial do governador Amazonino Mendes (PDT) que o cogitou em sua equipe durante entrevista esta tarde.
Usado como carta coringa nas jogadas para definição de alianças do PSDB, Rotta foi descartado como candidato no fechamento das coligações. Diz que “não precisava passar por isso”. Nega vetos ao senador Omar Aziz (PSD), mas se diz muito decepcionado com Arthur Virgílio Neto e que, por não ter sido ouvido, se desfiliou do PSDB.
O vice-prefeito diz que renúncia ao cargo é algo que nem passou por sua cabeça. “Vou continuar sendo vice-prefeito porque fui eleito para isso”, disse.
Em entrevista exclusiva ao BNC, Rotta conta como foram os bastidores para definição das alianças e como se sentiu isolado no grupo de Arthur.
Confira a entrevista:
Vou continuar sendo vice-prefeito porque fui eleito para isso.
BNC: O senhor recebeu convite formal do governador Amazonino Mendes para integrar a equipe dele? Vai aceitar?
Marcos Rotta: Não. Eu não conversei com o governador, não recebi ligação dele, nada. Então, estou tranquilo em relação a esta questão.
BNC: Há chance de o senhor renunciar ao cargo de vice-prefeito?
Marcos Rotta: Nunca aventei essa possibilidade. Isso nunca passou pela minha cabeça. Acho que renunciar a um mandato é um ato extremado e um momento delicado, como esse, você precisa ter o cerne das questões que você vai enfrentar. Mas renunciar, isso nunca aventei. Nunca nem avaliei a possibilidade de isso acontecer. Vou continuar sendo vice-prefeito porque fui eleito para isso.
BNC: O que aconteceu para o rompimento neste momento, vice-prefeito?
Marcos Rotta: Aconteceu que eu acho que fui preterido num momento de definição da nossa aliança. Doze dias antes do prazo final para divulgação das chapas, eu tive uma conversa com o presidente de honra do partido (prefeito Arthur Neto) e ele me garantiu que o partido iria tomar outro rumo…
BNC: Qual era o rumo?
Marcos Rotta: Do governador Amazonino. E eu ratifiquei: ‘O Negão é o nosso candidato?’. E ele disse: “O Negão é o nosso candidato”. Ponto. Saí dali, doze dias antes da convenção, convicto que era isso que iria acontecer. Tanto que eu reuni meu pessoal e passei, inclusive, a tratá-lo como nosso candidato, porque já havia recebido orientação…
BNC: Isso foi antes ou depois da declaração de apoio via rede social ao senador Omar?
Marcos Rotta: Isso foi doze dias antes do anúncio. Tinha convicção que estávamos com o desfecho pronto. Tudo o que foi acordado, conversado e combinado comigo, nunca tive nenhum tipo de problema. A minha relação foi essa. Dialogar e decidir as coisas de forma conjunta. Acho que uma administração pública, um partido político, um grupo têm a necessidade de passarem por discussões, entendimentos e soluções. Então, eu me surpreendi e fiquei com o pensamento de distanciamento do partido quando foi anunciada esta composição sem que eu soubesse disso. Não estou reclamando do conteúdo, estou reclamando da forma como isso aconteceu.
Nem de longe e em nenhum momento foi a candidatura do Omar. Mesmo porque eu fui o primeiro a defender isso aqui, quando pessoas do meu partido (PSDB) diziam que o Omar não tinha chance de ganhar a eleição.
BNC: Era o que ia já queria lhe perguntar: o senhor tem vetos à candidatura do senador Omar Aziz?
Marcos Rotta: Pelo contrário. Todos sabem da minha relação fraternal com Omar e com a família dele. Nem de longe, e em nenhum momento, foi a candidatura do Omar. Mesmo porque eu fui o primeiro a defender isso aqui, quando pessoas do meu partido (PSDB) diziam que o Omar não tinha chance de ganhar a eleição. Eu defendi essa composição. Só que isso tudo, depois, mudou. Depois passou a ser eu o candidato, depois o Amazonino, depois voltou para mim, depois Omar de novo…
BNC: Houve desgaste?
Marcos Rotta: Então, essas coisas foram me desgastando. Porque eu acho que não merecia passar por esse processo de não participar da decisão. Mesmo porque se tivesse me chamado e dito que o melhor caminho era esse, esse e esse. Eu não ia colocar óbice como nunca coloquei óbice em nenhuma postura adotada pelo meu partido. Isso fez com que me colocasse numa posição de sair da inércia que eu eu estava, porque eu fiquei 90 dias fora da secretaria de infraestrutura e hoje vejo que sem necessidade.
BNC: Por quê?
Marcos Rotta: Porque se não iam me usar no processo eleitoral, como foi aventado, não tinham necessidade de me tirarem da secretaria, onde eu estava trabalhando.
Acho que as pessoas já tinham na sua cabeça o que queria fazer. Só que infelizmente eu não fui comunicado.
BNC: O senhor acha que foi manobra para tirar o senhor da secretaria ou acha que o veto à sua candidatura ocorreu só com o processo de construção da aliança?
Marcos Rotta: Não sei, né. Acho que as pessoas já tinham na sua cabeça o que queriam fazer. Só que infelizmente eu não fui comunicado. Mas, olha, eu falo as coisas, assim, sem mágoa. Eu não tenho mágoa. Eu tenho 1,84 metro, mas dentro de mim não cabe ódio, rancor e nem mágoa. Cabe disposição para trabalhar.
BNC: Houve solidariedade à sua decisão de deixar o PSDB?
Marcos Rotta: Recebi, ontem, de uma forma surpreendente a manifestação de pessoas que há muito tempo eu não via. Pessoa com que eu convivo, meu amigos, lideranças políticas, secretários municipais, secretários de Estado, vereadores, lideranças, pessoas simples e humildes, então, estou muito alegre…
BNC: Qual o presidenciável que ligou para o senhor?
Marcos Rotta: Eu não posso falar porque tem desdobramentos… eu não posso, de maneira alguma.
BNC: O seu nome foi cotado no grupo para o Senado…
Marcos Rotta: Pois é. Mas eu não sabia disso.
BNC: Foi feito algum convite e o senhor recusou ou o senhor nem chegou a ser convidado?
Marcos Rotta: Não, não, não. Nunca ninguém tratou de candidatura ao Senado comigo. Nunca ninguém tratou questão de ser vice-governador comigo, ou deputado federal. A única coisa que conversei com o meu partido e deixaram claro que, numa eventual possibilidade, era que eu fosseocandidato do partido ao governo do Estado. Só. Nunca me impus e nem pedi para ser candidato ao Senado ou vice-governador.
Me faltava essa experiência e foi muito proveitosa.
BNC: Em 2016, as pesquisas pré-eleitorais apontavam grande poder de competição com o seu nome e que o prefeito poderia ter perdido a eleição não fosse aquela aliança com o Eduardo Braga desmontar o seu palanque. Agora, quando seu nome foi testado, apresentou bons resultados, o senhor não pode concorrer mais uma vez. Por que isso ocorre? É difícil para quadros novos crescerem em grupos de antigos caciques?
Marcos Rotta: Não quero acreditar nisso, que haja uma política clara e definida daqueles que estão na política há mais tempo de barrar novas lideranças. Não quero acreditar. Esse um ano e oito meses que passei aqui, foi sempre de uma relação muito amistosa. Sempre muito amável. O Arthur foi sempre muito gentil comigo. Não quero acreditar que ele teria me barrado ou não permitido que eu não pudesse ser candidato. Acho que a questão envolve outras coisas. Mas não posso, de maneira alguma, deixar de reconhecer que essa minha experiência que adquiri como vice-prefeito, como secretário de infraestrutura. Me faltava essa experiência e foi muito proveitosa. Agora, se eu ganhava a eleição, se eu ganho a eleição… Isso é muito distante da realidade. Acho que não tem como mensurar uma eleição.
BNC: Nenhum arrependimento?
Marcos Rotta: Estou convicto que não tenho nenhum tipo de arrependimento do tempo que estive dentro da prefeitura. O que vou buscar agora é uma valorização, são novos ares, novos horizontes. Porque minha decepção é imensa. Como é imensa também minha vontade de superar este pequeno percalço e continuar trabalhando.
BNC: O senhor conversou com o prefeito Arthur antes de se desfiliar?
Marcos Rotta: Não.
BNC: Teve chance de conversar de ontem para hoje?
Marcos Rotta: Não. Não tive.
BNC: O prefeito deu entrevista e, quando questionado sobre o senhor, que as pessoas são mercadorias e que as pessoas cobram estrutura como sinônimo de dinheiro. Ficou uma conotação negativa em relação ao senhor como se o senhor estivesse atrás de dinheiro, de ter acesso a recursos públicos.
Marcos Rotta: Não vi. Mas eu respeito. O Arthur tem uma trajetória política extremamente vitoriosa. É um político competente e habilidoso. Eu acho que o que se tem aí de cenário é a grande possibilidade do Estado ajudar a cidade de Manaus. Eu acho que está acima de qualquer outro tipo de interesse. A prefeitura sozinha precisa reconhecer que não tem elementos suficientes para tomar conta da cidade.
BNC: Não tem como prestar bons serviços só com os recursos municipais?
Marcos Rotta: Passei nove meses na Seminf e posso atestar, de forma categórica, que sozinha a prefeitura não resolve os problemas de infra-estrutura da cidade. Sobretudo, pelo inverno rigoroso que nós tivemos. Ninguém, ninguém pode virar as costas para ajuda e auxílio neste momento, para a mão amiga que estão tentando estender.
BNC: Prejudica a população?
Marcos Rotta: Eu acho, Rosiene, que é exatamente isso. Político não pode esquecer que nessas brigas partidárias quem perde é a população. É por ai que a gente tem que pensar. Se eu puder ajudar de alguma forma, eu vou ajudar. Vou me colocar à disposição. O que eu quero é ajudar a cidade de Manaus, onde eu puder servir melhor, eu vou ajudar a cidade de Manaus.
BNC: Como vice-prefeito, o senhor se posicionará: vai continuar seguindo a cartlha do prefeito?
Marcos Rotta: Vou continuar na minha rotina normal. Recebo 20, 25 pessoas aqui todas as manhãs. Eu faço questão de atender. Vou continuar com a minha rotina e meu expediente será normal.
Foto: BNC AMAZONAS