A quatro dias do segundo turno das eleições presidenciais, o Alto Comando do Exército reunia-se para decidir sobre promoções do alto oficialato. E o general Eduardo Villas Bôas (na foto , à esquerda) pedia o máximo de cuidado para que na nova era militar, as Forças Armadas não fossem arranhadas, e se preservasse a democracia.
A mensagem do comandante do Exército foi dada da cadeira de rodas, com as dificuldades impostas por seu estado de saúde.
Àquela altura, ninguém na sala tinha mais muitas dúvidas de que o domingo consagraria a eleição do capitão da reserva Jair Bolsonaro, do PSL, como novo presidente da República.
Uma eleição que, 33 anos após o fim da ditadura, traria os militares de volta ao centro do poder.
Bem longe de uma comemoração, Villas Bôas adotou um tom sério. “Temos que tomar o máximo de cuidado com a preservação da imagem da nossa instituição”, advertiu o comandante do Exército, emendando com uma recomendação. “Seria prudente que colegas da ativa não participassem diretamente do governo”.
O comandante sabe que a orientação, não uma ordem, dificilmente será cumprida.
A manifestação do comandante do Exército, no entanto, é a tradução de como as Forças Armadas enxergam o atual momento político em que um capitão reformado, com amplo apoio de integrantes da caserna, ascende ao poder.
É inegável que o prestígio dos militares no governo Bolsonaro atingirá patamares inéditos desde a redemocratização do País. Mas, numa demonstração de arraigada maturidade institucional, eles se revelam conscientes do seu papel.
Entendem que a organização do poder político é tarefa dos civis, não dos militares.
E que esse preceito do estado democrático de direito não é alterado pela simples presença de militares reformados na política.
É, na essência, o que difere a nova era militar dos tempos de trevas da ditadura.
Hoje, as Forças Armadas rejeitam qualquer possibilidade de futura intervenção militar, como se a presença de militares reformados na política pudesse representar um primeiro passo para a tomada do poder civil por integrantes da caserna.
História
“Ao contrário do que aconteceu em 1964, esses militares chegarão agora ao poder pelo voto, pela via democrática, e não parece haver espaço para um retrocesso que não os faça ter que respeitar as regras do Estado Democrático de Direito”, observa o professor de História do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico.
“Hoje, a sociedade e as instituições têm condições de se contrapor aos excessos”, continua o professor.
Em suma, as instituições demonstram solidez suficiente para evitar um regresso a um passado que o País quer deixar definitivamente no retrovisor.
“Eles (os militares) sabem que terão de governar na democracia. Todas as pesquisas apontam que essa mesma maioria que levou esse grupo ao poder apoia a democracia”, conclui o estudioso.
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Foto: Divulgação