Doutrina de guerra

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 15/06/2010 às 00:00 | Atualizado em: 15/06/2010 às 00:00

Wilson Nogueira*

Estranhe, quem quiser estranhar, a posição dos Estados Unidos no ataque de Israel a um comboio naval de ajuda humanitária aos palestinos da Faixa de Gaza, que resultou em nove mortos. Não se trata sequer de uma posição cautelosa, como analisam setores da imprensa. Barack Obama, o prêmio Nobel da Paz, explicitou que não condenará os israelenses por esse ato brutal. E não poderia ser diferente, porque a defesa preventiva – alegação dos militares israelenses – faz parte da doutrina militar norte-americana. Afinal, como poderiam justificar as invasões e as guerras pelo mundo afora?

Caso o ato fosse cometido por Cuba, Coréia do Norte, Venezuela ou Irã, Barack Obama não só o teria condenado com veemência, como colocaria seu poderio militar em estado de alerta ou a caminho do país agressor. Alegariam que são países perigosos. Só isso seria o bastante! Aliás, à exceção da Venezuela, os demais citados já sofrem pesadas sanções econômicas lideradas pelos Estados Unidos. Israel, ao que tudo indica, contará sempre com a proteção dos Estados Unidos, ainda que, desta vez, tenha massacrado civis, em águas internacionais, em declarada missão de paz.

Esse episódio amplia a compreensão da incoerência norte-americana, pelo fato de não ter sido uma meia dúzia de países a condenar esse massacre; o mundo inteiro se sentiu horrorizado com a desproporcionalidade da agressão, pediu investigação independente e punição dos culpados. Os Estados Unidos, em primeira hora, se isolaram no apoio velado à ação dos militares israelense, sem se incomodar com o aumento da desconfiança em torno das suas supostas ações pela construção da paz no Oriente Médio.

Israel vai insistir na versão de que fez a intercepção da frota de ajuda humanitária para se proteger da agressão de prováveis terroristas e que seus soldados mataram em legítima defesa. É bem provável que os Estados Unidos tenham se convencido por essa explicação, ainda que ela soe como mera digressão para qualquer recém-bacharelado em Direito. A voz da comunidade internacional é clara: a agressão cometida por Israel é um afronta à civilidade e se não for punida com rigor se transformará num péssimo precedente histórico.

Do interior dessa tragédia, extrai-se o sentimento de que a luta pela paz deve ser mais abrangente e permanente; e que ela produz resultados que se confrontam, no campo político, com ideologias e doutrinas de culto à violência, sejam elas de estados, de grupos guerrilheiros ou terroristas. Os estados deveriam ser os primeiros a zelar pela paz, mas há estados que não se sustentam sem guerra, porque o campo de batalha também é um negócio lucrativo. Por isso, não seria nada absurdo afirmar que os estados que defendem a paz são os mesmos que fazem a guerra.

Os Estados Unidos comandam esse jogo macabro, no momento. Sua máquina de guerra está em pleno vapor em vários lugares do mundo. Não seria um Prêmio Nobel da Paz a lhe parar. Aliás, o patrono do Prêmio Nobel é Alfred Nobel, inventor da dinamite. Estranhe, quem quiser estranhar, a posição dos Estados Unidos e do presidente Barack Obama.

*Jornalista e sociólogo

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