“Amazônia tem um papel importantíssimo, não para a preservação de si mesma, mas para a preservação do Planeta”
Publicado em: 26/02/2010 às 00:00 | Atualizado em: 26/02/2010 às 00:00
Qual é o papel da Amazônia nesse jogo?
Quando se vê as tendências do Planeta para daqui a pouco, para 2025, para 2035, se vê que as projeções que se faz são as mais negativas possíveis. E a Amazônia tem um papel importantíssimo, não para a preservação de si mesma, mas para a preservação do Planeta. Se a política conseguisse entender isso, seria uma coisa bastante importante para todos: para a própria a Amazônia e para o Planeta. Eu venho a Manaus de dois em dois anos, um pouco mais, um pouco menos.
Toda vez que entro na cidade me dou conta de que ela segue o ritmo desordenado das cidades do Brasil que não dão nenhum valor à preservação da historia, da cultura… Isso não é só um problema de Manaus. Você pega São Paulo, Rio de Janeiro, onde a preservação da história e da memória é jogada na lata do lixo. Os governantes, os governos e os representantes da democracia não conseguiram visualizar que qualquer problema local é, simultaneamente, um problema global.
As campanhas do pensamento complexo visam sempre no mundo multidimensional e nunca valorizar apenas um lado em detrimento do outro, um lado oposto ao outro. Aprendi isso a duras penas, que a oposição é sempre complementar, que ela é dialogicamente articulada. É assim que eu vejo a Amazônia. Você pode dizer: você é um estrangeiro aqui? Sou. Talvez por ser estrangeiro que eu perceba isso. E vejo as mesmas coisas nas cidades que eu conheço no Brasil, eu conheço bastante, todas elas voltadas para um desenvolvimento completamente sem rumo, que valoriza a tecnociência, a compra de automóveis, a destruição da cultura, a destruição da história.
Falo isso porque entre a minha pouca participação no estado, eu participei do patrimônio histórico do Estado de São Paulo, e eu sei muito bem que o Estado de São Paulo tem um problema muito sério com o patrimônio. O patrimônio é considerado, e aqui deve ser a mesma coisa, como inimigo do desenvolvimento. Mesmo no governo, você vê opiniões divergentes entre os ministros. Você vê o ministro [Mangabeira] Unger fazendo apologia às técnicas. Por isso, os ministros do meio ambiente estão sempre sendo fritados. Eles não estão sendo fritados por si próprios, mas pela cobiça das multinacionais que esses ministros sejam por vezes escanteados. Foi assim com Marina Silva [ex-ministra do Meio Ambiente]. E está sendo assim, em proporções diferentes, com Carlos Minc [atual ministro do Meio Ambiente].