O velho jogo dos políticos

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 08/07/2010 às 00:00 | Atualizado em: 08/07/2010 às 00:00

Wilson Nogueira*

A campanha eleitoral começou, oficialmente, ontem, com o encerramento, anteontem, do prazo para o registro de candidaturas e coligações. Na prática, a guerra entre os grupos políticos pela conquista da preferência dos eleitores nunca cessou. A campanha formal e fiscalizada pela Justiça Eleitoral refere-se apenas ao ciclo da política partidário mais acirrado e mais violento.

Como as candidaturas já estavam nas ruas, os eleitores mal se deram conta de que só agora a campanha está permitida por lei. A oficialização da disputa só reforça o fato de que havia, antes, uma competição oficiosa e acobertada pela hipocrisia geral. Lembremo-nos de que determinados servidores públicos deixam, por força da lei, suas funções seis meses antes do dia da votação. Desligam-se, mas não podem fazer campanha abertamente. Até parece que poderiam se enclausurar até o apito do início do jogo.

O intervalo entre a desemcompatibilização e a legalização das alianças e candidatura é conhecido como pré-campanha, que, na realidade, é a própria campanha em andamento. A intensidade da peleja pelo voto, no ciclo da pré-campanha, pode ser medida pela guerra que se estabelece entre os advogados dos candidatos e partidos. As demandas judiciais só confirmam que as leis têm pouca importância para os políticos. Eles as infringem sem-cerimônia, porque pagam suas punições com dinheiro, o que não se constitui problema ou dificuldade para a maioria. É só conferir o número de multas aplicadas pela Justiça Eleitoral por propaganda fora de época.

O que se pode ver no jogo da política é que suas regras são confusas e contraditórias. Elas priorizam a proteção dos interesses dos partidos e suas coligações, que não são os únicos envolvidos no jogo.  A outra parte, os eleitores, não consegue se situar no processo eleitoral senão pela obrigatoriedade do voto. Ouve-se com certa freqüência: “Só voto porque sou obrigado”. Os partidos, por sua vez, não se sentem obrigados em convencer os eleitores por meio de propostas e idéias. No cenário da política, valem mais os truques da propaganda e o jogo rasteiro dos dossiês e contra-dossiês.

Por isso, há setores da sociedade que clamam – faz algum tempo – por novas regras para os partidos e para as eleições. O apelo faz muito barulho, parece contagiar os legisladores, mas, no final das contas, se perde nos escaninhos do Congresso Nacional. Até a lei da ficha limpa, de iniciativa popular, corre o risco de morrer depois de alguns dias de nascida. Se já não morreu! A final, os interesses do poder se escondem por corredores obscuros por onde se movem somente que têm acesso aos fios-guias das suas entradas e saídas.

A situação é desesperadora, porém, não dá para perder as esperanças ou para não sonhar com as mudanças. De repente, a sociedade pode se movimentar, no próprio processo eleitoral, contra o sistema de proteção dos políticos e dos partidos. Desse modo, poderia pautar uma reforma que banisse a impunidade e tornasse mais transparente as coisas da política. Esse é o sonho. O pesadelo é continuar a espera de uma atitude altruísta dos atuais e dos futuros legisladores.

*O autor é jornaista e escritor

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