Incentivo à leitura

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 06/07/2010 às 00:00 | Atualizado em: 06/07/2010 às 00:00

Wilson Nogueira*

O gosto pela leitura, independentemente das classes sociais, é sempre latente. Ele se manifesta na primeira oportunidade, que, para a grande maioria dos que lêem, surge na escola. O problema é que os primeiros contatos com os livros podem acabar entre as paredes da sala de aula. Não por falta de interesse do leitor iniciante, mas, pela ausência de políticas públicas de incentivo à leitura dentro e fora dos muros escolares. É, portanto, injusto exigir leitura de quem não tem acesso aos livros. Por isso, iniciativas como o Leitura para a Juventude, lançado pelo Governo do Amazonas, no dia 24 de junho, merecem voto de confiança, porque que colocará nas mãos dos alunos do Ensino Médio clássicos da Literatura Brasileira, escolhidos por gênero e escolas literárias. Os professores farão cursos de aperfeiçoamento em leitura e literatura para aplicar, com o melhor eficácia, as diretrizes do projeto. Cada escola receberá uma cesta como títulos de autores – entre os quais livros de Castro Alves, José de Alencar, Machado de Assis, José Lins do Rego e Mário de Andrade –, mais obras de escritores contemporâneos, entre os quais Márcio Souza e Milton Houtun, destinados à leitura complementar. Dá-se, com essa medida, um passo importante na direção do amadurecimento de uma provável política de estado de estímulo à leitura no Amazonas. Não será uma única ação, por mais eficiente que venha a ser, capaz de pôr fim ao déficit de leitura e do conhecimento literário nas escolas amazonenses. Mas, decerto, faz surgir um pontinho de luz no fim do túnel da democratização dos livros e de outros meios de acesso ao conhecimento. A luz se expandirá na medida em que governos e sociedade assumirem compromissos de ampliar as medidas que visam alcançar todo o potencial de leitura disponível no País. Leitura para a Juventude é mais uma semente nesse terreno latente da leitura. No ranking de 52 países, ha uma década, cada brasileiro lia apenas 1,8 livro por ano, em média; no ano passado, um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) atestou que a média de leitura do País subiu para quatro livros por ano, mas ainda ocupa a 47ª posição dessa lista. Em países desenvolvidos, segundo a Unesco, uma pessoa lê ao menos dez livros por ano. Seria muito feio ver o Brasil, daqui a dez anos, no ranking dos países mais desenvolvidos do Planeta, porém, com um nível de leitura lá embaixo. Isso se configuraria em negligência do poder público e da sociedade com a inclusão social dos brasileiros por meio do conhecimento. Nada mais providencial do que o incentivo à leitura na escola, funcionamento correto bibliotecas e criação de novos espaços públicos de leitura, com equipamentos e pessoal adequados e qualificados. O Amazonas, por sinal, conforme recente pesquisa do IBGE, é um dos Estados com menor número de bibliotecas em pleno funcionamento. Se a escola é o lugar da leitura principiante, a biblioteca pública é o equipamento que possibilita a democratização do acesso aos livros. Ainda há tempo de corrigir os erros e os equívocos do passado, afinal, o gosto pela leitura continua latente. A sociedade precisa ficar atenta para que uma ação dessa importância resista aos conflitos da política e do poder.

*O autor é jornalista e escritor

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