por Neuton Corrêa , da Redação
Nas últimas cinco décadas, o 28 de fevereiro sempre foi um dia de exibir a pujança do modelo que se traduziu em sinônimo de pai e mãe dos amazonenses por se tratar do esteio que já sustentou até mais de 90% da economia do estado.
Nos últimos anos, a Zona Franca de Manaus deixou de ser uma estrutura de desenvolvimento regional.
O avanço do conhecimento mostrou que a indústria limpa instalada aqui no Amazonas irradia efeitos para os estados vizinhos, tem impacto no controle das chuvas de Norte a Sul, além de ajudar a preservar a maior floresta tropical do planeta e suas conhecidas e ainda desconhecidas.
Apesar disso, o 28 de fevereiro de 2019 amanheceu cinzento não apenas pelas nuvens do inverno amazônico.
É que os horizontes foram se turvando com o tempo e decisões que afrontam os preceitos constitucionais de 1988 que reafirmaram a Zona Franca de Manaus como vetor para corrigir distorções regionais.
Estão aí o decreto do ex-presidente Michel Temer (MDB), tirando a competitividade polo de concentrados do PIM e as declarações da nova equipe econômica do governo contra a política que mantém o vigor do modelo.
Há bem pouco tempo, o 28 de fevereiro era dia de festa na região e, principalmente, em Manaus, sede da Zona Franca e de seu exitoso e orgulhoso (para o povo daqui) Polo Industrial.
Ministros, governadores, deputados federais e senadores de outros estados acotovelavam-se nas solenidades comemorativas, organizadas pela Suframa ou por outras instituições de poder em todo o país.
Paralelo a isso, outdoores, jornais com reportagens especiais, cadernos especiais, tiragens especiais, edições especiais e promocionais massificavam a reverência que se fazia ao modelo há tempos que aos poucos se vão.
Alguém deve lembrar do Jornal do Commercio vendido em caixas no dia 28 de fevereiro.
Enfim, sinais do vigor de um projeto que ainda hoje sustenta enormemente o povo desta parte da Amazônia.
Hoje, dia 28 de fevereiro de 2019, não ocorrerá nem a reunião do Conselho de Administração da Suframa (CAS), o primeiro encontro do ano do colegiado, que decide sobre a entrada de novos investimentos no PIM e ajusta plantas industriais já instaladas.
Os 52 anos da Zona Franca de Manaus podem ter criado uma sensação de conforto e de incapacidade de se pensar em saídas desse paradigma, mas não se pode esperar que um paraquedista tenha o condão de resolvem os problemas criados ao projeto.
A Zona Franca de Manaus ainda tem 54 anos de validade pela frente e os mais de meio século que viveu até, sendo o último de seu tempo a sobreviver até aqui, mostram que se uma coisa que o modelo possui de forte é sua capacidade de se reinventar.
Sobreviveu às medidas do governo Collor, que acabou com o comércio da Zona Franca, mas criou condições industriais; resistiu ao governo FHC, que contingenciou o dinheiro da Suframa; e todas as manobras do poder burocrático que trava os projetos do Amazonas nos gabinetes da Esplanada.
Não será, portanto, o mal tempo de agora que fará o povo desta daqui se acocorar para ver a banda passar cantando coisas de amor.
Foto: BNC AMAZONAS