Cientista dos EUA sugere que Amazônia resista à construção da BR-319

Cientista

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 18/10/2019 às 13:12 | Atualizado em: 19/10/2019 às 09:26

Neuton Corrêa, da Redação

 

Estudioso da Amazônia há 54 anos e criador da expressão e do conceito biodiversidade, o biólogo e cientista norte-americano Thomas Lovejoy, de 78 anos, sugeriu ontem que a região resista à pressão que tenta reabrir a BR-319 (Amazonas-Rondônia).

A rodovia, inaugurada na década de 70 do século 20, interligando duas capitais, Manaus e Porto Velho, e diversas cidades, e estas ao resto do país, atualmente encontra-se intrafegável em mais da metade dos seus 885 quilômetros.

“As rodovias deveriam ser nossa última escolha neste momento. A primeira escolha para transporte deveriam ser os rios, que já estão disponíveis para prover o transporte”, disse ele.

Lovejoy foi o autor da conferência de abertura do 2º Simpósio Internacional sobre Gestão Ambiental e Controle de Contas Públicas, promovido pelo Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM).

 

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Rios como estradas

Sustentando a ideia, o cientista disse saber da pressão pela reabertura da estrada, mas defendeu os rios como estradas ecológicas.

“Então, se há necessidade de transporte, devemos usar os rios da Amazônia. E com certeza devemos desenvolver os rios como estradas ecológicas da Amazônia. É muito importante desenvolver os rios como estradas ou estradas secundárias, e isso já tem sido feito, em parte, com o gasoduto”.

Ainda sobre o potencial hídrico da região, Lovejoy defendeu como produtos sustentáveis o manejo e criação dos peixes pirarucu e tambaquis, além de pequenas espécies encontradas no rio Negro e que servem no mercado mundial de peixes ornamentais.

Sobre isso, ele provocou a plateia, repleta de autoridades, como o governador Wilson Lima (PSC) e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), falando da necessidade de criação de projetos para exploração dos recursos disponíveis nos rios.

“Precisamos de projetos para serem desenvolvidos que protejam o nível das águas na Amazônia”.

 

Fronteira protegida por indígenas

Sobre as fronteiras, sem citar o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que tem abordado o assunto, o cientista defendeu que elas sejam protegidas pelas populações indígenas.

E indagou:

“O que melhor seria do que ter uma área indígena para protegê-las? Construir estrada para dividir fronteiras ou permitir que traficantes de drogas estejam na área?”.

 

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Defesa da ZFM, cobrança da Suframa

Lovejoy defendeu também a Zona Franca de Manaus (ZFM0 como modelo de preservação ambiental.

“Com todo desenvolvimento gerado pela ZFM, com certeza faz com o que o Amazonas esteja mais desenvolvido e mais sustentável”.

Mas, ao falar de conhecimento sobre a região, cutucou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), cobrando que a autarquia apoie instituições de pesquisa e fomento à pesquisa sobre a Amazônia.

“Temos o Inpa [Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia], a Ufam [Universidade Federal do Amazonas], a Fapeam [Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas], são coisas muito boas que temos no Amazonas. Talvez essas sejam entidades que a Suframa tenha que dar suporte”.

 

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Amazonas como líder mundial

O cientista Thomas Lovejoy encerrou sua palestra fazendo uma provocação ao estado do Amazonas, destacado por ele como uma das partes intocáveis da Amazônia e com pouco desflorestamentos.

Com base nisso, ele disse:

“O Amazonas está em condição de liderar essa posição de defesa da floresta, liderando outros países da Amazônia e que, com certeza, nesse sentido, o Amazonas seria o representante-chefe do desenvolvimento desse papel importante”.

 

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Outras palestras

O evento tem continuidade nesta sexta-feira, dia 18, com a presença do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, que palestra sobre meio ambiente, desenvolvimento econômico e código florestal.

O simpósio também contará com outros 20 palestrantes, entre eles o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), José Mucio Monteiro Filho, e o ministro do TCU Benjamin Zymler, além de representantes da Universidade Tsinghua, da China, do Tribunal de Contas Europeu e autoridades do controle externo de Moçambique.

 

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Futuro presidente garante simpósio

Em sua fala, o presidente eleito do TCE-AM, Mário de Mello, acolheu os participantes do evento e disse que, em janeiro de 2020, primeiro mês de seu mandato, já começará a trabalhar na organização da terceira edição do simpósio ambiental internacional.

 

Foto: /TCE-AM