O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu para que a empreiteira Odebrecht fosse trabalhar em Cuba. Para o empresário Marcelo Odebrecht (foto ), foi a primeira vez em 20 anos que o governo brasileiro pediu para agir de maneira ideológica, e foi justamente em Cuba. A declaração do empresário foi dada à Folha de S. Paulo, na semana passada, e reproduzida também pelo Congresso em Foco.
Em reportagem de O Globo publicada em abril de 2017, o pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, declarava também que Lula havia pressionado o BNDES a financiar e a empreiteira a executar obras no país comunista.
O grupo baiano foi fundado em 1944, chegou a faturar R$ 132 bilhões e a empregar 193 mil pessoas.
Desde a Lava Jato, no entanto, a empresa enfrenta dificuldades e atualmente passa por uma das maiores recuperações judiciais da história do país , com dívidas que chegam a R$ 98,5 bilhões.
Segundo a Folha, Marcelo aceitou dar a primeira entrevista desde que foi preso, no dia 19 de junho de 2015.
Não quis falar sobre Lava Jato e temas políticos, mas deu detalhes sobre bastidores de alguns negócios que ilustram como eram os laços entre poder econômico e político. Confirma, por exemplo, que a Odebrecht atuou para incluir a Venezuela no Mercosul por interesse comercial.
E sobre a empreiteira executar obras em Cuba, Marcelo disse: “Isso começou porque Lula estava visitando o país, passou por uma estrada deteriorada e disse que tinha condições de ajudar. Era para fazer a estrada exportando serviços do Brasil, para gerar emprego, renda e arrecadação, e ajudar Cuba a desenvolver o projeto”.
Marcelo foi preso em junho de 2015 na operação Lava Jato, em entrevista para o jornal, ele pediu para não falar sobre a operação.
Porém, como consta na reportagem, o empresário abriu o jogo quanto a tentativa do ex-presidente de levar (e levou) a empresa para atuar no país comunista.
“Em todos os países, nós íamos por iniciativa própria, conquistávamos o projeto e buscávamos uma exportação de bens e serviços. Em Cuba houve um interesse do Brasil de ajudar a desenvolver alguns projetos. E aí Lula pediu para que a Odebrecht fizesse um projeto em Cuba”, disse o empresário para a Folha.
O porto de Mariel, em Cuba, que não foi concluído pela Odebrecht Foto: Ismael Francisco/Cubadebate/27-1-2014
Estradas e porto
Segundo a matéria, o governo de Lula desejava que a Odebrecht reconstruísse as estradas no país vizinho, porém, ao chegar na região, o empreiteiro viu que o melhor para o Brasil seria construir um porto em Cuba (porto de Mariel ).
“O porto também seria um gerador de divisas internacionais, o que ajudaria a pagar o financiamento. Vimos o porto como um local que ajudaria a economia de Cuba. E a nossa expectativa, que infelizmente acabou não se confirmando, até pelo esgarçamento da relação com o Brasil, era que mais empresas brasileiras poderiam se beneficiar do porto em si. Mas infelizmente essa parte ficou pelo caminho”, disse para o jornal.
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Foto: Reprodução/Brasil247