Por Iram Alfaia, de Brasília
Os pesquisadores Lucas Ferrante e Philip M. Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), publicaram carta no portal da Nature, uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, solicitando apoio da comunidade científica para conter o avanço da plantação de cana-de-açúcar e milho na Amazônia.
Segundo os cientistas, os “formuladores de políticas do Brasil e o público precisam tomar medidas coordenadas contra os planos de ampliação da produção de biocombustíveis às custas da floresta amazônica.”
Eles criticaram o presidente Jair Bolsonaro por revogar em novembro passado o decreto que proibia a plantação da cana na Amazônia Legal e no Pantanal. A medida visa ajudar a impulsionar a produção de biocombustíveis do país.
“Os planos para produzir mais óleo de palma para biocombustível no estado de Roraima seguem à inauguração de uma planta de processamento no País em abril passado. E no oeste do estado do Amazonas, novas estradas poderiam abrir áreas anteriormente inacessíveis para plantações de palmeiras e impulsionar outros ciclos devastadores de desmatamento”, dizem os cientistas.
Lucas Ferrante e Philip M. Fearnside explicaram que, após Bolsonaro tomar posse, um consórcio do governo anunciou investimentos de R$ 4,4 bilhões em seis estados da Amazônia (Amazonas, Acre, Amapá, Mato Grosso, Rondônia e Roraima) para instalação de usinas movidas a etanol de milho.
“O etanol de milho foi escolhido por causa da proibição da produção de cana-de-açúcar, introduzida para conter o desmatamento e a perda de serviços ecossistêmicos essenciais para a agricultura brasileira e para mitigar as mudanças climáticas globais.”
Segundo eles, a suspensão da proibição aumenta a pressão, já enorme, sobre a floresta tropical, da pecuária, produção de soja, represas hidrelétricas e mineração.
Impactos
Em artigo publicado no site Amazônia Real, os pesquisadores do Inpa dizem que o plantio da cana-de-açúcar na Amazônia e no Pantanal gerará impactos sem precedentes.
Com base em dados oficiais, eles destacaram que, em 2018, os países da União Europeia importaram mais de 43 milhões de litros de etanol brasileiro derivado da cana.
“A expansão da cana-de-açúcar na Amazônia não afetaria apenas a maior floresta tropical do mundo, mas também prejudicaria a capacidade agrícola do Brasil. O desmatamento da Amazônia aumentou em 85% em 2019 comparado com o ano anterior, resultado da retórica antiambiental do governo Bolsonaro e do desmantelamento das agências ambientais do país.”
Foto: CNA/Wenderson Araujo