O Brasil rejuvenesceu a Covid-19.
E o município do Rio de Janeiro, onde 43% das internações são de pessoas entre 30 e 49 anos, é o retrato da face jovem do novo coronavírus no país, destaca a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz.
Ela foi a primeira a advertir, com veemência, ainda em março, que o país “rejuvenesceria” a doença.
A combinação da pirâmide etária brasileira com o baixo grau de distanciamento social seria a causa desse rejuvenescimento.
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“Não estamos falando de casos leves ou assintomáticos. Nos referimos a pessoas que adoeceram com gravidade e engrossaram a triste estatística de casos confirmados. E casos confirmados em nosso país, sem testes e com altíssima subnotificação, são os mortos e os internados em hospitais com um quadro grave da Covid-19”, salienta Dalcolmo.
Ela integra o comitê científico que assessora o governo do estado do Rio de Janeiro no combate ao novo coronavírus.
Juventude não imuniza
Ser novo, não ter fatores de risco e praticar atividade física não garantem imunidade a ninguém.
Um dos pacientes de Dalcolmo é uma moça de 21 anos.
A jovem é moradora da Zona Sul do Rio e tem perfil atlético.
Na semana passada, ela começou a sentir sintomas da Covid-19 e, dentre eles, a sensação de estar com a panturrilha “queimando”.
Um exame revelou trombos, uma das marcas da doença. Seu único possível fator de risco, diz a médica, era tomar pílula anticoncepcional.
Portal Covid-19
A comparação entre a distribuição etária do boletim oficial e a do Portal Covid-19 Brasil mostra uma diferença importante.
O boletim registra as pessoas que foram testadas e internadas (casos graves e críticos).
Já o portal considera todos os infectados, incluindo assintomáticos e sintomáticos leves.
“Essa população, provavelmente em grande maioria de sintomáticos leves ou assintomáticos, é a lenha que alimenta o espalhamento da epidemia”, diz Alves.
Mais pobres são vítimas
Margareth Dalcolmo salienta que a pirâmide etária não é tudo.
O fator socioeconômico também pesa:
“Os jovens em maior risco não são os de classe média e alta, que podem se dar ao luxo do home office . São os de classes mais baixas, que precisam sair para trabalhar. Pessoas que não têm informação suficiente sobre a doença e que moram em comunidades com elevada circulação do coronavírus. A doença espelha nossa demografia e nossa disparidade social”, resume.
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Foto: Fábio Rossi / Agência O Globo