Uma área desmatada de pelo menos 4.500 quilômetros quadrados na Amazônia, equivalente a três vezes o município de São Paulo, está pronta para queimar.
Isso é o resultado da soma do que foi derrubado no ano passado e nos primeiros quatro meses desse ano, e ainda não queimado.
Como resultado, essa vegetação no chão pode virar fumaça com a estação seca que começa a partir de agora, com muito mais incêndios do que em 2019.
Conforme o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), se isso ocorrer, o número de internações por problemas respiratórios pode aumentar expressivamente. E, dessa maneira, pressionará ainda mais o sistema de saúde da região, duramente afetado pelo coronavírus (covid-19).
O alerta foi dado hoje (8) em uma nota técnica divulgada pelo Ipam. E, conforme cálculos dos cientistas, se o ritmo acelerado de desmatamento continuar nos próximos meses, quase 9 mil quilômetros quadrados poderão virar cinzas.
“Coibir as queimadas e o desmatamento neste ano, além de uma ação de proteção ambiental, é também uma medida de saúde”, disse o pesquisador Paulo Moutinho.
Leia mais
A preocupação reflete os dados do ano passado, quando os municípios que mais queimaram na Amazônia viram o ar ficar 53% mais poluído, em média, em relação a 2018.
Moutinho ainda pondera que “uma não ação dos poderes públicos na prevenção do desmatamento e das queimadas poderá representar perdas de vidas humanas para além das previstas com a pandemia”.
Normalmente, anos assim cheios de fumaça levam centenas de pessoas para postos de saúde e hospitais da região.
Se isso acontecer em 2020, portando, elas encontrarão leitos ocupados por infectados pelo coronavírus, segundo o instituto.
Quatro estados concentram 88% da área desmatada e não queimada: Pará (com 42%) dos 4,5 mil km2, Mato Grosso (23%), Rondônia (13%) e Amazonas (10%).
Além disso, 11 regiões são especialmente preocupantes. Elas devem ser consideradas como prioritárias para ações de comando e controle, especialmente aquelas planejadas pelo governo federal, assim como para o planejamento de atendimento à saúde pelos governos estaduais.
O fogo é o próximo passo no processo de conversão de uma floresta em outro uso da terra, como pasto, explica a diretora de ciência do Ipam, Ane Alencar, que também assina a nota técnica.
“Por isso, quando temos uma taxa de desmatamento alta na Amazônia, a relação com o aumento de focos de calor é direta. Foi o que vimos acontecer em 2019 e, infelizmente, se nada for feito, é o que deveremos ver em 2020, já que a derrubada continua num ritmo elevado.”
Leia mais
Foto: Victor Moriyama/Greenpeace